Descobrir o invisível rendeu Nobel e pode nos revelar mais sobre Big Bang
A detecção de ondas gravitacionais, remanescentes de cataclismos galácticos ocorridos há bilhões de anos, abriu uma janela para as origens do universo. Aqui estão os motivos pelo qual a descoberta rendeu, nesta terça-feira (3), o Prêmio Nobel de Física a três astrofísicos americanos:
Pegando uma onda
As ondas gravitacionais são ondulações no tecido do espaço-tempo causadas por eventos astrofísicos maciços, como quando dois buracos negros colidem e se fundem.
Albert Einstein teorizou, há mais de 100 anos, a existência das ondas gravitacionais, cuja detecção, em 2015, finalmente confirmou um elemento-chave da sua teoria geral da relatividade, que descreve a força da gravidade.
Coisas brilhantes
A descoberta das ondas também foi muito importante porque elas permitem que os astrônomos, em grande parte limitados ao que podem ver, testemunhem coisas que os telescópios não conseguem detectar.
Com sua mera existência, as ondas gravitacionais fornecem evidências de eventos galácticos históricos, como implosões estelares.
"Normalmente, quando tentamos entender o que está acontecendo, só vemos os pedaços do universo que emitem luz", disse à AFP Chris Lintott, professor de astrofísica da Universidade de Oxford.
"Nós temos essa horrível tendência quando olhamos para o universo, na medida em que nos distraímos com coisas brilhantes".
Mas com as ondas de Einstein, os cientistas encontraram uma nova maneira de bisbilhotar os segredos mais antigos do universo. Eles criaram um dispositivo ultrassensível que usa um raio laser e espelhos para detectar as ondulações.
"Nós temos uma janela para o passado, não nos levará até o Big Bang, mas pode nos aproximar muito dele", disse Jon Butterworth, professor de física do University College London.
"A luz nos leva por um longo caminho (para trás na história), mas para objetos muito grandes, essas ondas podem nos levar ainda mais atrás".
Escala "ridiculamente minúscula"
Um dos desafios de provar que Einstein estava certo era projetar equipamentos sensíveis o suficiente para detectar ondas gravitacionais.
Os humanos certamente entraram em contato com as ondulações antes, mas sem saber disso.
"Estamos sendo esticados e esmagados por ondas gravitacionais, mas para ser honesto, a escala é simplesmente ridiculamente minúscula", disse à AFP Carolin Crawford, astrônoma da Universidade de Cambridge. "Nós nunca sentiríamos isso".
As ondas gravitacionais são minúsculas e quase indetectáveis porque interagem muito fracamente com a matéria e viajam através do universo à velocidade da luz sem impedimentos.
"Por muitos anos nos 30 ou mais anos da história do projeto LIGO (...) isso não era algo com que qualquer um do 'mainstream' se importasse", disse Lintott, usando o acrônimo do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria Laser, que avistou as ondas.
"Isso era quase (como) Don Quixote, acho que um grande número de pessoas eram céticas em relação a que você poderia ser capaz de construir um experimento sensível o suficiente", disse, referindo-se ao famoso romance sobre a busca de ideais elevados.
"Como o universo evoluiu"
Hoje, existem três detectores de ondas em operação, abrindo todo tipo de novas possibilidades.
"O principal disso é que você começa a ser capaz de ver de onde elas (as ondas) estão vindo", disse Butterworth.
"Quanto mais detectores você tiver, você pode começar a triangular de onde veio a onda. Então (...) você pode apontar seus telescópios" naquela direção, na esperança de vislumbrar algo incomum.
"A história mais grandiosa é que queremos entender como o universo evoluiu nos últimos 13,8 bilhões de anos, e a formação de (...) buracos negros é uma parte crucial disso", disse Lintott.
"Pode-se usar ondas gravitacionais para investigar o período inicial do universo - as primeiras frações de um segundo -, mas para isso precisamos nos aprofundar a partir de onde estamos agora", acrescentou.
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