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Embriões in vitro são esperança para o "extinto" rinoceronte-branco-do-norte

Érico Hiller/ Divulgação
Imagem: Érico Hiller/ Divulgação

Em Paris

04/07/2018 16h07

Cientistas deram um primeiro passo promissor para garantir a sobrevivência do rinoceronte-branco-do-norte, uma subespécie praticamente extinta, ao criar in vitro os primeiros embriões do paquiderme.

Sudão, o último macho de rinoceronte-branco-do-norte, faleceu em março aos 45 anos na reserva queniana de "Ol Pejeta".

Sua filha e sua neta, Najin e Fatu, se tornaram assim os últimos exemplares vivos desta subespécie originária da África Central, dizimada pela caça ilegal.

Para garantir sua sobrevivência, muitos haviam confiado na ciência.

Com um procedimento de procriação assistida inédito em rinocerontes, foi concluída "a primeira etapa essencial para salvar esta subespécie", explicou uma equipe internacional de pesquisadores na revista científica Nature Communications.

Os especialistas coletaram em zoológicos europeus mais de 80 ovócitos de fêmeas de rinocerontes-brancos do sul, dos que restam cerca de 20.000 exemplares selvagens no sul da África.

Os óvulos foram fecundados in vitro, alguns com esperma congelado de rinocerontes-brancos do norte e outros com esperma de seu primo do sul, nos laboratórios da sociedade italiana Avantea.

O resultado: sete embriões, dos quais três (um sul-sul e dois sul-norte) foram congelados.

Objetivo: três anos

Mas este é só o início para conseguir o nascimento do primeiro rinoceronte-branco do norte "puro", em um prazo de "três anos", afirmou Thomas Hildebrandt, do Instituto Leibniz de pesquisa zoológica e animal de Berlim.

Para isso, os pesquisadores esperam coletar ovócitos das duas fêmeas, Najin e Fatu, nascidas em 1989 e 2000, respectivamente, no zoológico checo de Dvur Kralove.

"Esperamos fazer isso até o fim do ano", diz Jan  Stejskal, um responsável deste zoológico, que tentou em vão uma inseminação artificial antes de enviá-las ao Quênia com a esperança - também frustrada - de uma reprodução natural.

Os cientistas criaram os embriões híbridos, em vez de extrair diretamente os ovócitos das duas fêmeas, porque esta intervenção requer a autorização das autoridades quenianas.

Além disso, tiveram de inventar uma técnica e um utensílio de dois metros de comprimento para extrair os ovócitos dos rinocerontes-brancos.

"Tendo em conta os 16 meses de gravidez, temos pouco mais de um ano para conseguir uma implantação" em uma mãe portadora de rinoceronte-branco do sul, dado que nem Najin nem Fatu podem desenvolver uma gravidez, segundo Hildebrant.

Este especialista ressaltou que as duas fêmeas são as únicas capazes de "ensinar a vida social a um rinoceronte-branco do norte", de modo que espera que o pequeno poderá crescer com elas.

Caso não seja possível retirar os ovócitos de Najin nem Fatu, estão sendo realizados outros experimentos para tentar produzir gametas (ovócitos e esperma) de rinocerontes-brancos do norte graças às células-tronco pluripotentes induzidas, que têm o potencial de se tornar qualquer tipo de célula.

Mas os especialistas advertem da "improbabilidade de restaurar uma população viável de rinocerontes-brancos do norte", segundo Terri Roth e William Swanson, do centro de pesquisa do zoológico de Cincinnati, que não participaram do estudo.

Os autores preveem que a iniciativa gerará críticas do mundo da conservação, em alguns casos hostil ao uso de biotecnologias.

"Já nos criticaram por gastar o dinheiro desta forma", segundo Jan Stejskal. Mas para este especialista, a luta deve ser realizada em todas as frentes: "conservação sobre o terreno, luta contra a demanda (de chifres) na Ásia e apoio à ciência".