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Cientistas tentam salvar rinoceronte-branco do norte da extinção

23.ago.2019 - Uma das duas últimas fêmeas de rinoceronte-branco do norte, na reserva queniana de Ol Pejeta - Tony Karumba/AFP
23.ago.2019 - Uma das duas últimas fêmeas de rinoceronte-branco do norte, na reserva queniana de Ol Pejeta Imagem: Tony Karumba/AFP

Ol Pejeta, Quênia

23/08/2019 17h44

Veterinários extraíram com sucesso os ovócitos das duas últimas fêmeas de rinoceronte-branco do norte, em uma ação desesperada para salvar esta espécie da extinção, anunciaram os cientistas responsáveis pelo projeto hoje no Quênia.

A ciência representa a última esperança para o rinoceronte-branco do norte - umas das duas subespécies do rinoceronte-branco - após a morte, no ano passado, aos 45 anos, do último macho, chamado Sudan, na reserva queniana de Ol Pejeta (centro).

As duas fêmeas, Najin, de 30 anos, e sua filha Fatu, de 19, são os últimos indivíduos de sua espécie e vivem em Ol Pejeta, onde foram submetidas ontem à extração de ovócitos.

Nenhuma delas conseguiu concluir uma gestação com sucesso: Fatu sofre de lesões degenerativas no útero e Najin sofre de uma fragilidade nos membros posteriores, incompatível com uma gravidez.

Mas há anos um consórcio de cientistas e de especialistas para preservar a fauna se esforça para salvar o rinoceronte-branco do norte, utilizando técnicas inovadoras de procriação assistida.

"Conseguimos extrair um total de 10 ovócitos - 5 de Najin e 5 de Fatu - o que mostra que as duas fêmeas continuam produzindo ovócitos e podem nos ajudar a salvar estas magníficas criaturas", declarou nesta sexta-feira o professor Thomas Hildebrandt, do Instituto Leibniz de pesquisa zoológica e animal, em Berlim.

Utensílio de dois metros

A equipe inventou e desenvolveu nos dois últimos anos um utensílio de dois metros de comprimento para extrair ovócitos dos rinocerontes-brancos, devido a sua anatomia particular.

Em 2018, esta mesma equipe conseguiu criar embriões híbridos, resultado da fecundação de ovócitos de fêmeas de rinocerontes-brancos do sul com espermatozoides de rinocerontes-brancos do norte. Estes embriões tinham sido congelados.

As extrações de ovócitos de quinta-feira permitem aos cientistas esperar que se criem a curto prazo embriões 100% rinocerontes-brancos do norte.

Os ovócitos extraídos, que não podem ser congelados, foram imediatamente enviados a um laboratório especializado na Itália para ser fecundados com espermatozoides retirados de quatro machos desta espécie, já mortos.

Os embriões serão depois implantados em mães portadoras pertencentes à subespécie de rinocerontes-brancos do sul.

Atualmente há cinco espécies de rinocerontes no planeta, entre elas os rinocerontes-negros e os rinocerontes-brancos, que se encontram na África. O rinoceronte-branco do norte é geralmente considerado uma subespécie do rinoceronte-branco, mas os cientistas emitiram a hipótese de que poderia se tratar de uma espécie única.

Muita caça ilegal

Em seu meio natural, os rinocerontes sofrem com poucos predadores, devido a seu tamanho e a sua pele espessa. Mas as supostas virtudes medicinais atribuídas na Ásia a seu chifre alimentaram nos anos 1970 e 80 uma implacável caça ilegal que dizimou o rinoceronte-branco do norte em Uganda, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo e no atual Sudão do Sul.

Em 2008, o rinoceronte-branco do norte já era considerado extinto em estado selvagem.

Os rinocerontes modernos percorrem os grandes espaços do nosso planeta há 26 milhões de anos. Na metade do século 19, sua população era estimada em mais de um milhão de indivíduos, somente no continente africano.