Leah, a "Greta" ugandesa em missão para salvar o planeta
Kampala, 19 Set 2019 (AFP) - Quando a ugandense Leah Namugerwa completou 15 anos, no mês passado, ela decidiu plantar 200 árvores ao invés de celebrar a data com uma festa de aniversário, em um esforço para dar visibilidade aos danos ambientais em seu país.
Equilibrando-se entre a escola, a participação em protestos e discursos oferecidos em capitais regionais pedindo ação para salvar o planeta, ela pertence a uma geração de jovens inspirada na ambientalista sueca Greta Thunberg.
"Se os adultos não querem assumir a liderança, eu e outras crianças vamos fazê-lo. Por que eu deveria ficar olhando enquanto injustiças ambientais acontecem diante dos meus olhos?", questionou-se Namugerwa em Kigali, capital de Ruanda, na semana passada, sendo aplaudida de pé por sua resposta à emergência climática.
De volta a Kampala, ela disse à AFP ter tido a ideia de fazer greves escolares semanais após tomar consciência da "inação" do próprio governo em questões ambientais, e ao descobrir os protestos de Thunberg em frente ao Parlamento sueco, que deram origem ao um movimento juvenil mundial.
Namugerwa faz parte do grupo de ativistas do movimento Sextas-feiras pelo Futuro a receber esta semana o prêmio de direitos humanos da Anistia Internacional por seu trabalho.
Ela liderou uma campanha para exigir de Kampala a implementação de uma restrição às sacolas plásticas e fez soar o alerta sobre o desmatamento maciço, assim como às secas prolongadas e cheias atribuídas às mudanças climáticas.
"O que fez eu me preocupar e me envolver nesta campanha foram as mudanças climáticas e seus efeitos nas nossas vidas, como as altas temperaturas que hoje experimentamos como nunca antes, as cheias que sofremos... As doenças que se disseminam", acrescentou.
Ela diz que os jovens "precisam se manifestar".
"Se não o fizermos, nosso futuro não estará garantido. Os líderes atuais terão partido, mas nós ficaremos para sofrer as consequências de suas inações", emendou.
- Um perigo real -A primeira vez que ela organizou um protesto pedindo ação pelo clima foi numa sexta-feira de fevereiro deste ano, sozinha, em um subúrbio de Kampala.
"Senti que estava fazendo a coisa certa e no caminho certo, mas a maioria das pessoas, inclusive alguns membros da minha família, achavam estranho. Eles olhavam para mim, balançando a cabeça em descrédito enquanto eu exibia meus cartazes", lembrou.
Agora, um grupo de adolescentes se juntou a ela semanalmente e 'matam aula' para participar das greves às sextas-feiras.
"Algumas pessoas me criticaram. Elas dizem que na minha idade eu devia estar em sala de aula às sextas-feiras, e não nas ruas fazendo greves. Que bom que meus pais me apoiaram. Eles me encorajaram", acrescentou.
Namugerwa - que vai participar na sexta-feira dos protestos climáticos coordenados em todo o mundo - disse se sentir animada com o interesse crescente pelas questões ambientais em Uganda.
"Questões sobre as mudanças climáticas não estão sendo priorizadas como merecem... Mas o debate está crescendo com a nossa campanha", prosseguiu.
Outro adolescente que se juntou às greves, Jerome Mukasa, também de 15 anos, disse que Namugerwa abriu os olhos dos jovens ugandenses para as crises ambientais em seu país.
"Antes, a mensagem sobre o clima e o meio ambiente não estava clara para alguns de nós, mas Lea simplificou para a gente, de que isto é real e um perigo para todos nós", concluiu.
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