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Por que cientistas dizem que o misterioso Oumuamua pode ter vindo de civilização alienígena

O asteroide Oumuamua é um dos objetos mais longos que já foram observados pelos cientistas - ESO/M. Kornmesser
O asteroide Oumuamua é um dos objetos mais longos que já foram observados pelos cientistas Imagem: ESO/M. Kornmesser

08/11/2018 12h31

Quando o viram pela primeira vez em outubro de 2017, vários telescópios seguiram sua trajetória por três noites, até que o perderam de vista.

Não era um objeto normal. Media 400 metros de comprimento, sua largura era dez vezes menor e sua superfície era avermelhada. Ele girava rapidamente, tinha uma trajetória caótica e seu brilho mudava de maneira abrupta.

Os astrônomos do Pan-Starrs, da Universidade do Havaí - projeto cujo objetivo é mapear o céu constantemente em busca de objetos que possam apresentar risco de colisão com a Terra - foram os primeiros a observá-lo e deram a ele o nome de Oumuamua, que significa "mensageiro de muito longe que chega primeiro", em havaiano.

Inicialmente, a discussão sobre o que era o Oumuamua teve duas respostas possíveis: um cometa ou um asteroide.

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"Testamos muitas alternativas plausíveis e a mais factível é que Oumuamua seja um cometa e os gases que emanam de sua superfície estejam causando pequenas variações em sua trajetória", disse na época David Farnochhia, do Jet Propulsion Laboratory, um centro tecnológico americano responsável pelo desenvolvimento e manuseamento de sondas espaciais não tripuladas para a Nasa.

Outros, no entanto, disseram que não era um cometa, porque as observações não detectaram a característica da cauda de poeira e gelo normalmente identificada nesses "viajantes espaciais".

O doutor Wes Fraser, da Queen's University, de Belfast, afirmou em fevereiro deste ano que seu estranho movimento talvez se devesse ao fato de ter ele ter sido atingido por outro objeto em algum ponto de sua trajetória.

Agora, um novo estudo realizado por cientistas do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos EUA, diz que o Oumuamua pode ter surgido por um processo natural "ainda desconhecido no espaço interestelar ou em discos protoplanetários".

Mas outra opção que eles avaliam é que sua origem, talvez, seja artificial.

'Uma sonda totalmente operacional'

Por "origem artificial", os astrônomos Shmuel Bialy e Abraham Loeb, autores do novo estudo publicado na revista Astrophysical Journal Letters, querem dizer que "Oumuamua pode ser uma sonda totalmente operacional enviada intencionalmente para as proximidades da Terra por uma civilização alienígena".

Ou pode se tratar de "um resto de equipamento tecnológico avançado", especificamente uma vela solar, um dispositivo que é impulsionado pela radiação solar ou pelo plasma do vento solar.

Bialy e Loeb chegam a esta conclusão devido à alta velocidade e trajetória incomuns que os telescópios conseguiram captar do Oumuamua durante as três noites em que pôde ser observado.

"Este é o primeiro objeto descoberto no sistema solar que se originou fora do sistema solar. Desde a sua descoberta, Oumuamua tem mostrado características incomuns que o tornam um objeto raro, pertencente a uma classe de objetos não vista antes", disse Loeb à BBC.

"O que poderia causar o excesso de aceleração do Oumuamua? Essa é a questão fundamental que tentamos responder. Se não é a cauda de um cometa que o empurra, o que mais poderia ser? Nossa hipótese é de que se trata da radiação solar", explicou o cientista.

Loeb compara o Oumuamua com velas solares criadas por nossa civilização, como a IKAROS, primeira sonda interplanetária impulsionada com uma vela solar, lançada pelo Agência de Exploração Aeroespacial do Japão em 2010 com destino ao planeta Vênus .

"Se (o Oumuamua) é parte de uma coleção de objetos, tem de haver mais para descobrirmos no futuro. Apenas uma fração de objetos interestelares serão restos tecnológicos de uma civilização alienígena. Mas precisamos examinar qualquer coisa entre no sistema solar a partir do espaço interestelar para conhecer a verdadeira natureza do Oumuamua ou de outros objetos misteriosos", disse o cientista.

Um estudo com 'muitas falhas'

"Não estou muito convencido e honestamente acredito que o estudo tem muitas falhas", disse sobre o estudo Alan Jackson, membro do Centro de Ciências Planetárias da Universidade de Toronto, em entrevista à CNN.

Jackson acredita que, se o Oumuamua fosse uma vela solar, seria mais fino do que os autores da pesquisa pensam.

Além disso, ele afirma que se fosse uma nave em funcionamento "teria uma trajetória muito mais suave e uma aceleração evidentemente impulsionada pela radiação". E considerando a possibilidade de ter sido danificada, Jackson diz que seu movimento "estaria muito mais influenciado pelas forças de radiação".

Bialy e Loeb esclarecem em seu artigo que as observações que os telescópios fizeram do objeto "não são conclusivas o suficiente para fornecer uma imagem clara do Oumuamua, e só se pode especular sobre um possível geometria e natureza".

Alan Fitzsimmons, astrofísico da Universidade de Queen, em Belfast, disse isso em entrevista à AFP: "Alguns dos argumentos neste estudo se baseiam em números com grandes incertezas".

Em sua conta no Twitter, a astrofísica Katie Mack, da Universidade da Carolina do Norte, apontou a respeito: "Os cientistas ficam felizes em publicar uma ideia extravagante se a chance de ela estar errada for mínima. Mas até que todas as outras possibilidades tenham sido esgotadas uma dúzia de vezes, os autores (da pesquisa) provavelmente não acreditam nela".

O Oumuamua é a prova de que existe vida em outros planetas? Loeb respondeu a esta pergunta da BBC: "Eu sigo a máxima de Sherlock Holmes: 'Quando você elimina toda solução lógica para um problema, o ilógico, ainda que impossível, é invariavelmente o certo'."