Cinco descobertas surpreendentes sobre a solidão
O perfil da solidão é bem diferente daquele que povoa o imaginário popular.
É o que mostra a pesquisa BBC Loneliness Experiment, que contou com 55 mil participantes ao redor do mundo.
O estudo foi elaborado por acadêmicos de três universidades britânicas - Manchester, Brunel e Exeter - em colaboração com a Wellcome Collection.
- Quatro maneiras como a solidão pode afetar sua saúde física
- Solidão no luto: pesquisa inédita mostra dificuldades dos brasileiros para lidar com a morte
Confira abaixo cinco descobertas dos pesquisadores a partir dos dados coletados online:
1. Jovens se sentem mais sozinhos que os mais velhos
Quando se imagina uma pessoa solitária, o estereótipo que geralmente vem à mente é de alguém mais velho que mora sozinho e raramente recebe visitas.
De fato, o BBC Loneliness Experiment mostrou que 27% dos participantes com mais de 75 anos sentem solidão com frequência ou muita frequência.
É um percentual mais alto que o registrado em outras pesquisas, mas como se trata de um questionário online, a amostra foi selecionada automaticamente e podem ter sido atraídas mais pessoas que se sentem sozinhas.
Mesmo assim, as diferenças identificadas entre as faixas etárias são impressionantes. Os níveis de solidão mais altos foram registrados, na verdade, entre jovens de 16 a 24 anos - 40% declararam que com frequência ou muita frequência se sentem sozinhos.
Mas por que tantos jovens se dizem solitários? Talvez estejam mais dispostos a admitir esse tipo de sentimento do que os mais velhos, possivelmente mais preocupados em enfatizar sua independência.
Mesmo quando perguntados sobre o momento em que se sentiram mais sozinhos, retrospectivamente, a resposta mais comum foi: no início da vida adulta.
Então, não é necessariamente a vida moderna que faz os jovens se sentirem solitários. Há uma série de fatores importantes associados a essa etapa da vida.
Embora a fase dos 16 a 24 anos remeta a um período associado à diversão, é também um momento de transição - de sair de casa, entrar na faculdade, começar a trabalhar - e tudo isso nos afasta dos amigos com quem crescemos.
Ao mesmo tempo, esses jovens estão tentando descobrir quem são e seu lugar no mundo.
Além disso, não estão acostumados ao sentimento de solidão e ainda não tiveram a experiência necessária para saber que muitas vezes isso passa, ou que é possível encontrar maneiras de lidar com essa sensação - seja se distraindo ou procurando companhia.
2. Mais de 40% das pessoas acham que a solidão pode ser positiva
A constatação acima se encaixa na teoria de neurocientistas como John Cacioppo, que morreu em março deste ano. Ele afirmava que evoluímos para vivenciar a solidão porque pode ser útil, mesmo que seja tão desagradável.
Os seres humanos sobreviveram por meio da cooperação. Se as pessoas sentem que são excluídas de um grupo, o sentimento de solidão pode levá-las a se conectar com outros indivíduos, encontrar novos amigos ou reativar antigos relacionamentos.
O problema é que isso pode se tornar crônico, levando a um sério impacto no bem-estar e até na saúde.
Sentimentos de solidão crônica estão associados a um risco aumentado de depressão após um ano. Na pesquisa, embora 41% dos participantes tenham dito que a solidão poderia ser positiva, esse percentual cai para 31% entre aqueles que disseram que se sentiam sozinhos com frequência.
A solidão pode ser tão infeliz e angustiante que, quando prolongada, torna difícil enxergar qualquer lado positivo.
3. Quem se sente sozinho tem habilidades sociais que não são melhores ou piores que a média
Muitas vezes, parte-se do pressuposto de que quem se sente sozinho tem dificuldade de fazer amigos. Assim, aprimorar as habilidades sociais faria a diferença. Mas não foi isso que descobrimos.
Um elemento-chave da interação social é a capacidade de entender o que outras pessoas estão sentindo para que você possa ajustar suas reações. Talvez elas estejam preocupadas com algo ou você as tenha ofendido sem querer.
Uma maneira de medir essa habilidade é mostrar uma série de fotografias de expressões faciais ou até mesmo só de olhares para avaliar se as pessoas conseguem identificar que tipo de emoção está representada.
Não houve diferença entre a pontuação média daqueles que se sentiam sozinhos com frequência e dos que não se sentiam. Houve variação nas pontuações de neuroticismo (propensão a emoções negativas) - então, talvez seja a ansiedade provocada por situações sociais que torne mais difícil lidar com esses eventos, se você se sente sozinho, em vez das habilidades sociais propriamente ditas.
4. O inverno não é mais solitário do que outras estações do ano
Às vésperas do Natal, costumam aparecer campanhas de instituições de caridade com fotos de idosos solitários. É uma época do ano em que as famílias se reúnem para celebrar, então, a ideia de passar a noite de Natal sozinho é algo que assusta muita gente.
Na data, a comediante britânica Sarah Millican faz uma campanha no Twitter promovendo a hashtag #joinin, para que aqueles que estão sozinhos possam conversar uns com os outros.
E se você mora no hemisfério norte, o Natal também cai no meio do inverno, quando os dias são mais curtos e as pessoas ficam mais em casa, deixando você ainda mais isolado, caso se sinta sozinho.
Mas será que o inverno é a pior estação no que se refere à solidão? Perguntamos às pessoas em que época do ano e hora do dia se sentiam mais sozinhas. Mais de dois terços responderam que o inverno não era mais solitário que qualquer outra estação do ano.
A minoria das pessoas que disse que uma determinada época do ano é mais solitária escolheu o inverno, mas algumas optaram pelo verão.
No Natal, muitas famílias se esforçam para garantir que todos sejam incluídos, convidando os amigos para participar, caso saibam que podem não ter companhia.
Mas, no verão, se todos viajam de férias, você pode ser o único com o sentimento de ter sido deixado para trás. Então, talvez seja necessário começar a pensar se outras pessoas estão se sentindo sozinhas durante o ano todo, não só no Natal.
5. Pessoas que se sentem sozinhas com frequência têm mais empatia
Na pesquisa, foram medidos dois tipos de empatia. Um deles se referia à dor física - quão triste você fica por alguém que acidentalmente prendeu a mão na porta do carro, se queimou com a água fervendo do café ou foi picado por uma vespa. O outro relacionado à dor social - empatia por alguém que sofreu bullying na escola, não foi convidado para uma festa ou foi abandonado pelo parceiro.
Não houve diferença na empatia pela dor física entre as pessoas que se sentiam mais e menos solitárias. Mas no caso da empatia pela dor social, aquelas que declararam se sentir sozinhas com frequência ou muita frequência apresentaram em média uma pontuação maior.
Talvez por saberem o que é ficar de escanteio, elas se identifiquem mais com outras pessoas que se encontram na mesma situação.
- Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
https://www.youtube.com/watch?v=1gFM-7FNNBI
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.