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Amendoim ou boneco de neve? Conheça Ultima Thule, objeto mais distante já explorado no espaço

Formato da Ultima Thule, de acordo com os dados enviados pela New Horizons - Nasa
Formato da Ultima Thule, de acordo com os dados enviados pela New Horizons Imagem: Nasa

Jonathan Amos - Correspondente de ciência da BBC

02/01/2019 20h02

A primeira imagem detalhada do corpo rochoso foi divulgada nesta terça-feira pela Nasa.

O planeta Terra finalmente pôde conhecer, nesta quarta-feira, o "rosto" do objeto celeste batizado de Ultima Thule.

Novos dados enviados pela sonda da Nasa New Horizons mostram pela primeira vez a imagem de um pequeno corpo feito de rocha e gelo e composto por dois objetos unidos - parecendo algo como um boneco de neve ou um amendoim. O objeto foi descoberto inicialmente em 2014 pelo telescópio Hubble.

O encontro desta terça-feira marcou um novo recorde: chegou ao objeto mais distante já explorado por uma missão.

A New Horizons localizou a Ultima a 6,5 bilhões de quilômetros da Terra. Ela fica em uma região do Sistema Solar conhecida como Cinturão de Kuiper.

Objeto promete ajudar cientistas a entenderem melhor os processos de formação de planetas - Nasa - Nasa
Objeto promete ajudar cientistas a entenderem melhor os processos de formação de planetas
Imagem: Nasa

A equipe científica decidiu chamar a porção maior do "amendoim" de "Ultima", e a menor, de "Thule". A razão do volume é de três para um, e o corpo orbita o Sol.

Jeff Moore, um copesquisador da New Horizons e membro do centro Ames de pesquisas da Nasa, informou que as duas porções provavelmente se aglutinaram a uma velocidade bastante baixa, talvez entre 2 e 3 km/h.

Há centenas de milhares de corpos como a Ultima em Kuiper e eles certamente contêm pistas sobre como corpos planetários se formaram há alguns 4,6 bilhões de anos.

Líder da equipe, Alan Stern homenageou as habilidades de seu time por ter feito a imagem enquanto a sonda estava a 3.500 km de distância do objeto.

A sonda precisou focar o corpo rochoso de forma bastante precisa - garantindo que ele estivesse centralizado para as câmeras e outros instrumentos à bordo.

"[Ultima] tem apenas o tamanho de algo como Washington D.C. (capital dos Estados Unidos)", explicou Stern. "É iluminada por um Sol que é 1.900 vezes mais tênue do que um dia ensolarado aqui na Terra. Estávamos basicamente perseguinda-o no escuro a 32.000 mph (51.000 km/h) e tudo precisava acontecer nos conformes".

Menos de 1% de todos os dados recolhidos pela New Horizons foram enviados à Terra. A baixa capacidade de transmissão de informações indica que serão necessários 20 meses até que toda a carga de dados seja retirada da sonda.

O que é tão especial no Cinturão de Kuiper?

Vários fatores fazem da Ultima Thule e seu entorno tão interessantes para os cientistas.

Um é que o Sol é tão fraco nesta região que as temperaturas chegam a 30 ou 40 graus acima do zero absoluto. Como resultado, reações químicas essencialmente ficaram paralisadas. Assim, a Ultima é tão gelada que provalmente tem sua formação original perfeitamente preservada.

Outro fator é que a Ultima é pequena e, assim, não tem mecanismos geológicos que, em objetos maiores, alteram sua composição.

Um terceiro motivo é apenas a natureza daquele ambiente: o cinturão de Kuiper é bastante calmo, com poucas colisões entre objetos, por exemplo.

"Tudo o que vamos aprender sobre a Ultima - desde a sua composição à sua geologia, como foi originalmente formada, se tem satélites e uma atmosfera - vai nos ensinar sobre as condições originais de formação no Sistema Solar de outros objetos", comemora Alan Stern. "A Ultima é única".

O que a sonda New Horizons fará depois?

Primeiro, os cientistas precisam trabalhar nos dados da Ultima, mas também pedirão à Nasa que financie uma nova extensão da missão.

A esperança é que o trajeto da sonda possa ser ligeiramente alterado para visitar pelo menos mais um objeto do Cinturão de Kuiper em algum momento na próxima década.

A New Horizons deve ter reservas de combustível suficientes para fazer isso; também deve abastecimento elétrico suficiente para continuar operando seus instrumentos na década de 2030.

A longevidade da bateria de plutônio da New Horizon pode até permitir que ela registre sua saída do Sistema Solar.