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Por que as melhores ideias surgem em caminhadas, no chuveiro ou até dormindo

Gerd Altmann/ Pixabay
Imagem: Gerd Altmann/ Pixabay

Fred Schwaller

23/10/2022 13h14

Conta-se que o matemático grego Arquimedes estava na banheira quando lhe ocorreu a solução para o problema que o atormentava. Ao observar que o nível da água subia quando ele entrava no banho, Arquimedes concluiu que o volume de um objeto pode ser determinado medindo-se a quantidade de água que ele desloca.

"Eureca!" (Encontrei!), ele teria gritado, antes de pular para fora da banheira e sair correndo pelado pelas ruas de Siracusa.

Epifanias como essa são a centelha para muitas descobertas científicas. E também sonhos costumam ser um terreno fértil para revelações súbitas e inesperadas.

Após três dias de raciocínio intenso, Dmitri Mendeleev teve a ideia da tabela periódica quando estava dormindo. E Friedrich August Kekulé imaginou a estrutura química do benzeno ao sonhar que uma cobra mordia o próprio rabo.

Caminhar e viajar também ajudam. "Uma tempestade começou" no cérebro de Albert Einstein quando ele estava dentro de um bonde em Berna, na Suíça, em 1905, e olhou para a famosa torre do relógio, levando-o a formular, mais tarde, a Teoria da Relatividade.

Dezoito anos depois desse acontecimento, a ideia da reação nuclear em cadeia — central para a bomba atômica — veio para Leo Szilard quando ele estava esperando num sinal fechado em Londres.

Trabalho duro e relaxamento

Por que relaxar ajuda a ter revelações? Os exemplos acima, afinal, são de epifanias que ocorreram quando os cientistas não estavam trabalhando.

Teorias da psicologia dizem que a mente necessita de períodos de relaxamento para dar vazão à criatividade. Mas claro que não basta dar uma caminhada para fazer a descoberta do século. Há um outro fator importante: trabalho duro e muito raciocínio dedicado a um tema.

Todas as epifanias mencionadas acima ocorreram após longos períodos de dedicação intensa a um tema. Há dias Arquimedes quebrava a cabeça para calcular o volume de ouro na coroa do rei Heiro.

Kekulé tirava uma soneca, com a cabeça sobre a mesa de trabalho, depois de um dia especialmente estressante quando teve o sonho da estrutura circular da molécula de benzeno.

Não existe uma fórmula conhecida para induzir epifanias, mas a combinação de trabalho duro e relaxamento profundo parece ser uma boa tese.

Caminhadas ajudam a pensar melhor

Mas pesquisas mostram que nem todas as maneiras de relaxar são estimulantes para as ideias.

Segundo um estudo de 2022, as melhores formas de acender uma fagulha no cérebro são atividades simples que mantêm ocupado sem ser chatas, como caminhadas, tomar uma ducha, tricotar. Contra-exemplos são assistir a um filme chato ou ficar rolando a tela do celular em redes sociais.

Segundo especialistas, tarefas com movimentos repetitivos ajudam a mente a divagar e a criar livres conexões entre ideias. O mesmo vale para caminhadas, que tanto Aristóteles como William Wordsworth e Friedrich Nietzsche consideravam a melhor hora para pensar.

A psicologia por trás das epifanias

Não só cientistas têm epifanias: de tempos em tempos, todo mundo tem ideias brilhantes, e elas ocorrem da mesma maneira que as ideias das mentes privilegiadas.

Pode ser no supermercado, pode ser embaixo do chuveiro, e de repente: "Eureca!", uma ideia surge do nada e domina os pensamentos.

O fundador da psicologia analítica, Carl Gustav Jung, tinha uma explicação: ele descrevia as epifanias como momentos de comunicação entre o inconsciente e o consciente, de "saber impensado".

Em outras palavras, a vinda à tona de dados e conexões profundamente imersos no inconsciente, sobre os quais ainda não se pensou. Na visão junguiana, epifanias seriam, portanto, momentos raros em que o inconsciente irrompe no consciente.

Esse fenômeno não pode ser planejado: ele apenas acontece, sem controle. Mas a melhor forma de alcançá-lo é reflexão intensa seguida de relaxamento. Neste momento podem surgir soluções inesperadas para problemas do dia a dia — ou até a próxima revelação da ciência.