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Cometa volta a aparecer no céu depois de 50 mil anos; por que é verde?

Descoberto há menos de um ano, o C/2022 E3 (ZTF) passou perto da Terra quando ela era habitada pelos neandertais e ficará visível por algumas semanas - Jose Francisco Hernández
Descoberto há menos de um ano, o C/2022 E3 (ZTF) passou perto da Terra quando ela era habitada pelos neandertais e ficará visível por algumas semanas Imagem: Jose Francisco Hernández

11/01/2023 17h09

Um cometa de cauda verde, recentemente descoberto, poderá ser visto a olho nu pela primeira vez em 50 mil anos nesta quinta-feira (12/01), e ao longo das próximas semanas.

Chamado C/2022 E3 (ZTF), ele é um pequeno corpo rochoso e gelado, de apenas 1 km de diâmetro, e foi descoberto em março de 2022 pelo programa Zwicky Transient Facility (ZTF), que opera o telescópio Samuel-Oschin, do Observatório Palomar, na Califórnia.

Foi inicialmente detectado quando passava pela órbita de Júpiter e alcançará seu periélio (ponto mais próximo do Sol) nesta quinta-feira, quando estará a uma distância de 166 milhões de km do astro.

O ponto mais próximo da Terra, a uma distância de 42 milhões de km, será alcançado no dia 1º de fevereiro, segundo os astrônomos que estudaram a trajetória do cometa.

Por que verde?

Um cometa só ganha a cauda quando se aproxima do Sol.

O gelo de seu núcleo passa diretamente do estado sólido para o gasoso, liberando gases e poeira, que criam uma nuvem ao seu redor — chamada de coma ou 'cabeleira' —, que reflete a luz solar. Neste cometa, devido a sua composição, ela é bem verde.

Quanto mais perto do Sol, estas partículas espalham-se por milhares de quilômetros, "sopradas" pelos ventos solares. Aí está a longa cauda — que desaparece quando o cometa distancia-se da nossa estrela. A do C/2022 E3 (ZTF) é azulada e tripla.

É este rastro que poderá ser visto, inicialmente no Hemisfério Norte, à medida que o cometa for se aproximando do nosso planeta. Com auxílio de telescópios, ele já está sendo registrado em detalhes.

Provavelmente, a olho nu, o cometa parecerá uma estrela borrada. A cor verde, pouco comum, possivelmente se deve à presença de carbono diatômico na coma.

Ele brilhará com todo o seu esplendor quando estiver mais perto da Terra, o que deverá ocorrer em 1º de fevereiro.

Mesmo assim, será menos espetacular que os cometas de Hale-Bopp (1997) ou o Neowise (2020), que eram muito maiores.

Melhor período de observação

Com um bom par de binóculos, ou até mesmo a olho nu, o cometa poderá ser visto à noite, desde que o céu esteja limpo e sem poluição luminosa.

No Hemisfério Norte, o melhor período para a observação será no fim de semana dos dias 21 e 22 de janeiro e na semana seguinte, quando ele passará pelas constelações da Ursa Menor e da Ursa Maior.

Depois, poderá ser visto no Hemisfério Sul, tendo sua melhor visibilidade no início de fevereiro, antes de voltar para os confins do Sistema Solar.

Desde os neandertais

Os astrônomos calculam que a origem do cometa verde seja a Nuvem de Oort, uma enorme estrutura esférica de cometas situada a quase 1 ano-luz de distância do Sol, no limite de seu campo gravitacional.

Acredita-se que todos os cometas de longo período, como o C/2022 E3 (ZTF), tenham origem na Nuvem de Oort, ao passo que os cometas de curto período (menos de 200 anos) se originem no Cinturão de Kuiper.

O C/2022 E3 (ZTF) já visitou o interior do Sistema Solar há cerca de 50 mil anos, no Paleolítico Superior, quando também passou perto da Terra, então habitada pelos neandertais e primeiros Homo sapiens.

Alguns astrônomos dizem que ele retornará em mais 50 mil anos, enquanto outros afirmam haver uma boa chance de que seja ejetado para sempre do Sistema Solar antes disso.

A órbita deste cometa ao redor do Sol é tão longa que ela ultrapassa os limites do Sistema Solar. Isso explica por que leva tanto tempo para voltar.

Cientistas pretendem observá-lo para aprender um pouco mais sobre a composição dos cometas, em especial com a ajuda do poderoso telescópio James Webb.

"Vamos observá-lo por todos os lados. Não é o cometa do século, mas estamos contentes de poder observar cometas como este a cada um ou dois anos, porque os consideramos vestígios da formação do Sistema Solar", explicou o cientista Nicolas Biver, do Observatório de Paris-PSL.

* Com informações de Marcella Duarte, de Uol Tilt