Elefantes não foram extintos na América do Sul por falta de recursos
A extinção dos elefantes na América do Sul não ocorreu devido à falta de recursos, nem à perda de hábitat, é o que diz um estudo publicado nesta terça-feira (28) na revista científica "PNAS".
O trabalho destaca a importância da região central do Chile como uma das áreas de estudo na América do Sul para a pesquisa dos refúgios de grandes mamíferos durante períodos glaciais e interglaciais e, concretamente, para o processo de extinção de sua megafauna durante a última Era do Gelo, um dos fenômenos de maior interesse paleontológico na atualidade.
O estudo analisou o caso dos gonfotérios, uma família extinta que tem parentesco com os elefantes atuais e com os mamutes eurasiáticos e americanos, que tinham uma dieta variada e se adaptavam ao que os ecossistemas proporcionavam.
Seu interesse paleontológico reside no fato de que eles deveriam ter uma capacidade importante na transformação das paisagens vegetais, já que chegaram a ser muito variados e com uma elevada demanda por biomassa.
Além disso, ficou comprovado que a composição isotópica do oxigênio em seus dentes é um bom indicador do tipo de água ingerida, fornecendo informação climática com muita confiabilidade.
Por esses motivos, os gonfotérios são considerados atores-chave na pesquisa da extinção da megafauna durante o Pleistoceno Tardio (entre 12 mil e 10 mil anos atrás), já que o seu desaparecimento na América do Sul é relativamente recente.
No entanto, o conhecimento sobre o meio ecológico em que habitavam, assim como sua extinção na América do Sul, ainda apresenta grandes dúvidas.
Buscando atenuar essa situação, uma equipe multidisciplinar e internacional de cientistas estudou restos fósseis de molares de gonfotérios em 30 jazidas chilenas (distribuídos em uma extensão latitudinal de 1.500 quilômetros), a maior amostra já analisada até o momento.
O estudo revela que tais gonfotérios tinham uma alimentação dominada pelo consumo de recursos arbustivos e, em menor medida, mas complementar, de herbáceas.
Além disso, a diversidade do hábitat ocupado pelos gonfotérios na América do Sul apoia, por sua vez, a hipótese de que o seu padrão de alimentação parece estar mais caraterizado pela disponibilidade de recursos em determinados momentos (geleiras e intergeleiras) e não pela "função ecológica" da anatomia crânio-dental.
Essas conclusões foram obtidas a partir das análises de sulcos de microdesgaste, de isótopos estáveis e dos microfósseis presentes no cálculo dental (tártaro) dos elefantes extintos.
Cada uma dessas análises mostrou uma ampla resolução temporal ao longo da história de vida nos gonfotérios; ou seja, os pesquisadores puderam determinar a dieta e o ambiente, seja durante os primeiros meses e anos de vida e a dieta ingerida até a última semana antes de o animal morrer.
O estudo multidisciplinar foi realizado por uma equipe integrada pelo Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES) e das Universidades Complutense de Madri, Austral do Chile, da Pensilvânia e da Califórnia (UCI), entre outros centros de pesquisa.
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