Topo

James Webb: Nasa 'traduz' imagens registradas pelo telescópio em sons; ouça

"Penhascos cósmicos" da Nebulosa da Carina, uma das primeiras imagens feitas pelo novo telescópio espacial, foi transformada em áudio - Nasa
"Penhascos cósmicos" da Nebulosa da Carina, uma das primeiras imagens feitas pelo novo telescópio espacial, foi transformada em áudio Imagem: Nasa

Raisa Toledo

01/09/2022 10h27

Agora podemos não somente observar as belas imagens do universo registradas pelo Telescópio Espacial James Webb, mas também ouvi-las. Tudo graças ao processo chamado "sonificação", capaz de converter diferentes tipos de dados em som. Por meio dele, as nebulosas da Carina e do Anel Sul e o exoplaneta Wasp-96 b tiveram suas cores e características transformadas em áudio, como se as frequências de luz fossem "traduzidas" para ondas sonoras.

Diferente de outras faixas de áudio já divulgadas pela Nasa, como a do buraco negro do aglomerado de galáxias Perseu, não se tratam de frequências de som reais, gravadas no espaço. São uma nova criação artística, como uma música, composta para que os dados visuais possam ser representados e percebidos pela audição.

"Semelhante à forma como as descrições escritas são traduções únicas de imagens visuais, as sonificações também traduzem as imagens codificando como sons informações como cor, brilho, localizações de estrelas ou assinaturas de absorção de água", disse Quyen Hart, cientista sênior do Instituto de Ciências do Telescópio Espacial em Baltimore, Maryland.

O processo foi realizado por uma equipe de cientistas, músicos e uma pessoa com deficiência. Os áudios estão disponíveis no perfil da Nasa no SoundCloud; ouça o da Nebulosa do Anel do Sul.

anel do sul - Nasa - Nasa
Nebulosa de Anel do Sul: uma nuvem de gás ao redor de uma estrela morta, a cerca de de 2.000 anos-luz da Terra
Imagem: Nasa

A sonificação é sempre realizada considerando a imagem da esquerda para a direita, mas foram empregadas diferentes técnicas para cada um dos três objetos celestes retratados. Para a Nebulosa do Anel Sul, as frequências do som seguem o comprimento das frequências de luz; notas mais altas para acompanhar a luz infravermelha mais curta, e mais baixas à medida que a luz infravermelha apresenta ondas mais longas.

Já a imagem dos "penhascos" da Nébula de Carina teve notas únicas atribuídas às regiões transparentes, semitransparentes e densas. O resultado final é uma sinfonia com sons de vento que representam o gás e a poeira presentes na parte de cima, melodias para os tons de vermelho e laranja e frequências sonoras que variam em função da posição e intensidade das luzes detectadas.

Ouça os "penhascos cósmicos" da Carina.

Para o exoplaneta Wasp-96 b, a imagem foi dividida em pontos que consideram quantidade e frequência de luz. Para ondas luminosas mais longas, as notas são mais baixas (como na Nebulosa do Anel do Sul), e o volume indica a quantidade de luz detectada em cada ponto. Além disso, os sons de gotas de água caindo representam a intensidade dos sinais do líquido no gigante gasoso.

Ouça a sonificação do distante Wasp-96.

WASP-39b - Nasa - Nasa
Composição da atmosfera do exoplaneta WASP-39b, em espectroscopia feita pelo James Webb
Imagem: Nasa

Imagens mentais

Além de auxiliar os ouvintes a criarem suas próprias "imagens mentais" do espaço, segundo os cientistas, as sonificações também são um recurso de acessibilidade. Pesquisas preliminares indicaram que pessoas com e sem deficiência visual relataram ter aprendido algo sobre astronomia ouvindo os áudios. Algumas também disseram que passaram a entender um pouco melhor como as pessoas cegas ou com baixa visão acessam as informações de forma diferente, com uma outra experiência.

Christine Malec, consultora do projeto e pessoa com deficiência visual, disse que experimenta as faixas de áudio com vários sentidos. "Quando ouvi uma sonificação pela primeira vez, me atingiu de uma maneira visceral e emocional que imagino que as pessoas que enxergam experimentam quando olham para o céu noturno", contou.