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Como os pais podem ajudar crianças e adolescentes muito tímidos

Chris Bueno

Especial para o UOL Ciência e Saúde

28/11/2009 08h00

A timidez pode ser detectada desde muito cedo. E bebês que demoram mais para interagir com o meio externo ou com pessoas estranhas, ou a se adaptar às situações novas, tendem a ser crianças mais tímidas. É o que afirma a psicoterapeuta Sâmara Jorge.

 

O mais comum é a timidez tornar-se mais evidente por volta dos cinco ou seis meses, fase em que a criança começa a reconhecer as pessoas e pode estranhar quem não conhece, ficando mais retraída, ou o início na escola. "Entretanto, é importante ressaltar que isso não representa necessariamente um problema", explica a psicoterapeuta. "Se houver sinais de timidez, o mais indicado é lidar com isso naturalmente, respeitando a forma de ser de seu filho. Crianças também têm o direito de ficar quietinhas!".

 

 

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Um pouco de timidez ser até saudável, já que torna o indivíduo mais cauteloso, menos impulsivo e mais atento aos comportamentos e sentimentos dos outros
TIMIDEZ AFETA METADE DAS PESSOAS
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QUANDO E COMO TRATAR A TIMIDEZ
UOL CIÊNCIA E SAÚDE

Mas é claro que se os pais perceberem que a timidez está causando algum tipo de sofrimento à criança é preciso conversar com ela, incentivando-a a falar sobre seus sentimentos, medos e inseguranças. Muitas vezes, a criança acha que algo pode estar errado com ela, simplesmente por se sentir diferente de um amigo mais extrovertido, ou de um irmão mais popular. "Se a mãe percebe que há travas, que há limitações, e que a criança não consegue superá-las, uma conversa franca no sentido de esclarecer o assunto sempre é útil. Para a criança o mundo adulto é muito complexo e muitas vezes ela precisa do respaldo e da tradução de um adulto", explica o psicólogo René Schubert.

 

 

Influência da mãe


Uma criança que se isola, que não quer participar de atividades e brincadeiras, nem ir ao parque ou a uma festa de aniversário, é uma criança que está deixando de experimentar coisas novas, fazer amigos e se divertir. Nesse caso, o papel da mãe é fundamental - para o bem ou para o mal. Como a mãe é o modelo de socialização do filho nos primeiros anos de vida, sua postura ao lidar com o assunto pode ajudar a criança a superar suas dificuldades ou pode agravar a situação.

 

“Incentivar amizades, sugerindo que ele escolha um amigo para brincar em casa é um caminho, assim como elogiar quando consegue vencer a timidez diante de uma situação difícil para ele. Vale também acolher, sem criticar, momentos em que não consegue”, aconselha Jorge. Mas a psicoterapeuta alerta que forçar a criança a se soltar pode ter o efeito inverso: “É preciso tomar cuidado para não bombardear a criança com atividades, conversas, convites etc. Isso pode trazer problemas”.


Respeitando o ritmo de cada um


“Corta meu coração ver minha filha em um cantinho enquanto as outras crianças brincam juntas, mas eu sei que se eu forçar vai só piorar e ela vai se retrair mais ainda”, diz Isabel Hadler, mãe de Maria Luiza, de 3 anos. Ela conta que a filha não gosta de participar das festas e passeios da escola, nem das atividades extras como capoeira e ballet, e que prefere ficar junto às professoras do que com as outras crianças. “No dia da festa junina ela me pediu chorando para ficar em casa, porque ela não queria dançar. Tive que conversar muito até convencê-la a ir, mas ela não dançou. Claro que toda mãe quer ver seu filho lá, dançando, mas como ela não quis, eu tive que respeitar”, diz.


Jorge reforça a atitude de Isabel: “É importante nunca impor ou forçar a criança a viver situações difíceis para ela. Isso pode fazer com que a criança se sinta muito pior, aumentando seu sofrimento e desencadeando não só mais retraimento, mas, em alguns casos, atitudes agressivas e maior rigidez consigo mesma”.

 

O mesmo conselho vale para os adolescentes. Se os pais percebem que o filho adolescente tem dificuldades em fazer amizade, expor opiniões, falar em público, que prefere ficar em casa do que sair com os amigos, ou se sente aflito quando tem que ir para uma festa em que conhece ninguém, o importante é respeitar. “A pior coisa para uma pessoa tímida é se sentir exposta indevidamente, ser forçada a viver situações de exposição, com a justificativa de superar sua timidez”, acrescenta a psicoterapeuta.


A timidez é natural na adolescência porque essa é uma fase de descobertas, conflitos e insegurança. O adolescente não é mais criança, mas ainda não é um adulto, precisa firmar sua personalidade a caminho da maturidade, mas ainda não sabe lidar com todas suas emoções. Esses sentimentos se agravam com o despertar do interesse pelo sexo oposto. “Após um período afastado do universo feminino, pois estava ocupado em atividades exclusivamente masculinas, o menino, agora adolescente, começa a reparar na menina, agora moça, e se interessa por ela de uma nova forma – esta nova forma implica em maneiras diferentes de conversar, puxar assunto, ‘chegar junto’”, explica Schubert. E isso pode agravar a timidez.

 

De acordo com o psicólogo, a melhor alternativa para lidar com essa nova situação é a convivência com pessoas da mesma idade, que estão passando pelos mesmos desafios e angústias. “A convivência com outros jovens, a possibilidade de desenvolver sua identidade social dentro de um grupo escolhido, a participação em grupos e atividades jovens auxiliará o e a adolescente a lidar com os conflitos e travas advindos desta nova e, muitas vezes, longa fase”.