Paciente com mioma nem sempre é informada sobre embolização, diz médico
O mioma uterino é o tumor benigno mais frequente no sexo feminino. Estima-se que entre 40 a 80% das mulheres em idade tenham o problema e, desse total, pelo menos um terço precisa de tratamento devido a sintomas como períodos menstruais intensos e prolongados, além de sangramentos mensais atípicos, aumento do ventre e sensação de peso sobre a bexiga.
Quando o mioma é pequeno e não traz desconforto, o caso requer apenas acompanhamento. Mas, se ele crescer muito, pode afetar a qualidade de vida da mulher, atrapalhar a fertilidade e até levar à perda do útero, por isso exige cirurgia ou tratamentos hormonais.
Ainda pouco conhecido mesmo pelos ginecologistas, a embolização é uma técnica minimamente invasiva que, em alguns casos, pode substituir a retirada do útero. O método consiste em interromper o fluxo sanguíneo que alimenta o mioma. A maioria dos tumores benignos passa a ficar com metade do tamanho após dois meses. Em alguns casos, eles se tornam imperceptíveis e são até eliminados pela menstruação.
O problema é que nem toda paciente fica sabendo sobre a alternativa. “Existe uma disputa corporativa e, como não são os ginecologistas que fazem a embolização, e sim o radiologista intervencionista, muitos não sugerem à paciente que procure um profissional da área para uma consulta”, diz o especialista Néstor Kisilevzky, que também é médico do Hospital Israelita Albert Einstein.
Para piorar, muitas mulheres têm dificuldade em fazer o convênio médico reembolsar o procedimento, embora ele já faça parte do rol aprovado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). “Eles são obrigados a cobrir, mas não significa que gostem de fazer isso, por isso muitas pacientes têm de recorrer à Justiça para conseguir o reembolso”, conta o médico.
Como a embolização não é realizada em grande escala, apesar de já ser feita no Brasil desde 1999, o custo é maior que o da cirurgia para retirada de mioma e, especialmente, para a retirada do útero. “O equipamento é importado e por isso é mais caro, porém trata-se de um procedimento ambulatorial, portanto não há custo de internação e a paciente volta a trabalhar em no máximo quatro dias”, explica.
Veja, a seguir, algumas perguntas e respostas sobre a embolização uterina:
Há quanto tempo se faz embolização uterina no Brasil e no mundo?
A embolização uterina para tratamento de miomas começou a ser utilizada clinicamente na França no final da década dos 80 e inicio dos anos 90 e o primeiro trabalho científico foi publicado em 1995 na revista The Lancet. Em 1996, o procedimento foi introduzido nos Estados Unidos pelos médicos da Universidade de Califórnia, em Los Angeles, No Brasil, as primeiras embolizações foram realizadas no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, em 1999.
Quais as contraindicações para o procedimento?
Algumas mulheres apresentam outras doenças associadas aos miomas, como pólipos ou endometriose. Nesses casos, a embolização deve ser adiada ou evitada até que os outros problemas sejam resolvidos. Pacientes com infecções de repetição, que tenham sido submetidas a irradiação pélvica ou com sérios problemas sistêmicos, como insuficiência renal ou diabetes descompensada, também devem evitar a embolização. A alergia severa ao iodo pode também ser uma contraindicação formal.
O tamanho ou a localização do mioma podem fazer com que a embolização não seja a melhor alternativa?
De forma geral, não há uma limitação para indicar a embolização devido ao tamanho, quantidade e/ou localização dos miomas. Também não há restrição de idade para a paciente.
A embolização apresenta risco e complicações como a cirurgia convencional?
A medicina não é uma ciência exata e nenhum procedimento médico está livre de riscos. Já foram relatados na literatura médica mais de 25.000 procedimentos de embolização uterina e somente uma morte foi reportada, o que demonstra que é um procedimento muito seguro. A incidência geral de complicações que requeiram uma terapia mais agressiva ou que prolonguem o tempo de internação esta entre 1% e 2%, o que é significativamente menor aquela apresentada pelos procedimentos cirúrgicos convencionais, que pode variar de 4 a 8%.
Por que nem todo ginecologista apresenta a alternativa à paciente?
Muitos ginecologistas não estão ainda familiarizados com a técnica de embolização já que eles não realizam este procedimento. Alguns se preocupam pelo fato de perderem pacientes para outros profissionais ou ate pela possibilidade de diminuir os seus honorários médicos provenientes das cirurgias ginecológicas.
De que tamanho ficam os miomas após a embolização?
A experiência universal mostra que a embolização produz uma redução do tamanho uterino de aproximadamente 50% só nas primeiras 12 semanas e está diminuição continua a acontecer durante o primeiro ano após o procedimento. A redução de tamanho dos nódulos miomatosos é bastante variável. Nódulos maiores tendem a reduzir proporcionalmente mais do que nódulos menores. Em alguns casos os nódulos desaparecem por completo. Entretando, o mais comum é observar uma redução no tamanho do mioma dominante (maior) de aproximadamente 65% durante os três primeiros meses após a embolização.
Quantas pacientes que realizam embolização precisam passar por uma cirurgia depois?
Deve-se diferenciar a necessidade de um procedimento adicional por causa de insucesso terapêutico (continuidade ou recorrência dos sintomas) daquele realizado para tratar uma complicação. Aproximadamente 4% a 7% das pacientes continuam a apresentar sintomas desconfortáveis após a embolização e são, então, submetidas a miomectomia ou histerectomia. Isso pode acontecer por erros no diagnóstico, por falhas técnicas do procedimento, ou pela presença de variações anatômicas. A associação entre embolização e miomectomia é cada vez mais empregada para tratamento de pacientes com útero muito volumoso e com múltiplos nódulos. É importante salientar que a embolização uterina jamais inviabilizará uma cirurgia caso esta seja eventualmente necessária no futuro. Por isso, a embolização deve ser sempre considerada antes da cirurgia.
A embolização pode provocar alterações hormonais?
A maioria das pacientes que realizam embolização uterina volta a ter a sua menstruação normal imediatamente após a cirurgia. Aproximadamente 10% das pacientes apresentam ciclos irregulares durante 3 a 6 meses após a embolização. Menos frequentemente, uma mulher pode entrar na menopausa após a embolização. Estima-se que isso possa ocorrer entre 1% e 15% da população geral submetida a embolização, mas essa possibilidade esta relacionada principalmente com a idade da paciente, sendo menor que 1% nas mulheres com menos de 40 anos e maior que 20% naquelas com mais de 45 anos.
Qual é a probabilidade de engravidar após a embolização e quanto tempo após a cirurgia pode-se começar a tentar?
Este é um assunto controvertido e não ha ainda uma resposta definitiva. Alguns trabalhos já publicados na literatura médica indicam que a possibilidade de engravidar gira em torno de 30%, isto é uma de cada três pacientes que desejam, conseguem engravidar. Esta possibilidade parece ser bastante similar com a obtida após a miomectomia. Para as pacientes que desejam engravidar pedimos para aguardar pelo menos 12 semanas até fazermos o controle com os estudos de imagem, ultra-som ou ressonância magnética, antes de tentarem engravidar.
Pode ocorrer a eliminação de miomas pela vagina após a embolização? É muito doloroso?
Muitas, se não a maioria das pacientes, apresentam um corrimento de cor castanho depois da embolização. Às vezes, simula uma menstruação discreta e é acompanhada de pequenos fragmentos de miomas que migram desde a camada interna do útero. Aproximadamente 5% das mulheres poderão eliminar uma porção maior de um mioma e, nesses casos, pode haver dor de tipo cólica e sintomas similares ao de um aborto. Às vezes é necessário prescrever antibiótico e esvaziar a cavidade uterina com uma curetagem. Embora não seja o objetivo da embolização, a eliminação de miomas através da vagina provoca um alivio enorme os sintomas.
Fonte: Dr. Néstor Kisilevzky e site webmioma.com.br