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"EUA estão jogando com vidas humanas", diz embaixador boliviano sobre mudanças climáticas

Lilian Ferreira

UOL Ciência e Saúde<br>Em Cancún (México)

06/12/2010 15h55

“Podem morrer um milhão de pessoas por ano após 2030 [se nada for feito para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa]; os EUA estão jogando com vidas humanas”, esbravejou nesta segunda-feira (6) o embaixador boliviano, Pablo Sólon, na COP-16, Conferência do Clima, que ocorre em Cancún, no México.

“Se matar 300 mil pessoas é um genocídio, o que seria o 1 milhão que irá morrer com as mudanças climáticas? E nós é que estamos bloqueando um acordo? Estamos bloqueando a matança de pessoas. Os verdadeiros causadores destes impactos são os que não querem assumir suas responsabilidades sobre a natureza e a vida humana”, continuou.

A Bolívia, ao lado de outros países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), não aceitou o acordo final que foi resultado da COP-15, em Copenhague, Dinamarca. Entre as propostas, estava a declaração voluntária de redução dos gases do efeito estufa. Mesmo que todas as ações fossem implementadas com total sucesso, o limite de gases na atmosfera seria maior do que o necessário para evitar tais catástrofes.

Além disso, Solón falou sobre o vazamento de informações pelo WikiLeaks, que mostram que os EUA usaram dinheiro e ameaças para obter apoio político, além de espionagem cibernética, para aprovar o Acordo de Copenhague. “Estamos felizes porque o WikiLeaks comprovou o que vínhamos falando. Nós tivemos coragem de dizer não a estes métodos dos EUA”, afirmou o embaixador.

Pontos de divergência

Os EUA prometeram um corte de 17% até 2020 sobre as emissões de 2005. Para Solón, esta medida é irrisória. “Na verdade, esta proposta dos EUA significa um corte de 3% abaixo de 1990 [que é o ano base do Protocolo de Kyoto], o que faria as temperaturas subirem em 4ºC. A Bolívia exige uma redução de mais de 50% de 2030 a 2070”.

Segundo o embaixador, os países do G77 exigem uma redução de 40 a 50% dos países desenvolvidos para segurar o aumento da temperatura em 1,5 ºC, o que os países analisam como limite para diminuir os impactos das mudanças climáticas.

Sólon criticou, ainda, como as negociações estão sendo feitas e o projeto que será apresentado para os ministros nesta semana. “As posições do texto, de forma nenhuma, são a base de negociação. Nós defendemos o aumento de 1,5 ºC, mas isso não foi incluído”, reclamou. Ele criticou a presença de facilitadores nas negociações ao afirmar que “o facilitador interpreta o que é dito, isso não é uma negociação das partes”.

Por fim, o embaixador da Bolívia disse que a existência do segundo período de comprometimento do Protocolo de Kyoto não estava em discussão, porque isso já estava definido. Em Cancún, seriam somente definidas as metas e outros detalhes como alterações no mercado de carbono.