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Entenda o que está em jogo às vésperas do último dia da conferência do clima

Lilian Ferreira

Do UOL Ciência e Saúde<br>Em Cancún (México)

09/12/2010 17h06

A um dia do fim da COP-16, Conferência do Clima, que ocorre em Cancún, no México, muitos pontos ainda precisam ser decididos. Nunca se esperou de Cancún um resultado sobre metas de emissões dos gases efeito estufa, mas avanços em adaptação às mudanças climáticas, financiamento e transferência de tecnologia. Apesar disto, as reduções dos gases foram o tema central da Conferência.

Países como EUA, Brasil e União Europeia dizem só aceitar um acordo se ele for um pacote balanceado. Isso quer dizer, que abarque todas as áreas e todos os países.

Mas assim que chegou à Cancún, o Japão já afirmou que não participaria de um segundo período do protocolo de Kyoto. O tratado define que países industrializados, menos os EUA, reduzam suas emissões de gases à, pelo menos, 5% menos do os níveis de 1990 até 2012.

Canadá, Rússia e Nova Zelândia seguiram os mesmos passos alegando que não fariam cortes enquanto países que poluem mais, como EUA e China, também não tivessem metas obrigatórias de redução.

O Brasil, junto ao Reino Unido, foi escalado para intervir nas negociações e tentar achar um consenso que permita continuar com as metas. Paralelamente, estuda-se a possibilidade de todos os países assumirem metas obrigatórias no futuro.

Em entrevista ao UOL Ciência e Saúde, a cientista social Silvia Dias, consultora da ONG Vitae Civilis, diz que acredita que a COP-16 termine com um comprometimento sobre o segundo período do comprometimento do Protocolo de Kyoto e sobre definições mais claras para o Fundo de Financiamento Rápido. "Mesmo que não saia números, acho que os países vão se comprometer com a prorrogação de Kyoto e também devemos ter as regras de implementação do Fundo Rápido, que prevê o destino de U$ 30 bilhões até 2012", diz.

Fundo Verde

Quanto aos demais assuntos, pouco se avançou. No que se refere a adaptação, a única pontuação recorrente é que 50% dos fundos sejam destinados aos mais vulneráveis, como as pequenas ilhas, países da América Central e da África. Já sobre o Fundo Verde (que prevê o destino de U$ 100 bilhões de dólares ao ano até 2020), criado no Acordo de Copenhague no ano passado, a discussão é sob qual órgão internacional ele irá ficar: ONU ou Banco Mundial.

O único ponto em que os países entraram em acordo foi no maior investimento em educação e conscientização da população sobre as mudanças climáticas. Outro tema que parece ter se chegado a um resultado é a transparência.

Os EUA, principalmente, exigiam que países em desenvolvimento, em especial a China, hoje o maior emissor do planeta, fossem mais transparentes no relatório de suas emissões. A ideia é poder verificar a quantidade e os avanços nos cortes dos gases. Por outro lado, a China não concorda, pois acredita que seja uma interferência externa ao país.

A Índia trouxe o que parece ser a solução. Em vez de adotar o chamado MRV (Mensurável, Reportável e Verificável), método pelo qual os países desenvolvidos relatam suas emissões, os países em desenvolvimento com mais de 1% nas emissões globais fariam o reporte ICA, menos complexo, a cada 2 anos.