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Ministra diz que texto básico sai nesta madrugada; Japão continua contra 2 º período de Kyoto

Lilian Ferreira<br> Do UOL Ciência e Saúde<br> Em Cancún (México)

09/12/2010 23h53

Patrícia Espinosa, a presidente da COP-16, Conferência do Clima, que acontece em Cancún, no México, pretende apresentar um documento base ainda na noite desta quinta-feira (9), na madrugada desta sexta-feira pelo horário do Brasil. O texto, resultado das negociações dos últimos dias , deve trazer algumas possibilidades de acordo e será votado pela plenária da Conferência na sexta, último dia da COP.

“A minha experiência em COP é virar muitas noites negociando. Hoje é um dia determinante pra gente avançar”, afirmou a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira. Segundo ela, o “resultado de Cancún” pretende apresentar avanços em todas as áreas (Protocolo de Kyoto, metas em longo prazo, finaciamento, adaptação e transparência) e ainda não foi avaliada a possibilidade de se aprovar apenas partes dele.

Teixeira admitiu que as negociações sobre um segundo período do Protocolo de Kyoto ainda tem dificuldades, mas que todos os temas têm “sensibilidades”. “Até agora está todo mundo insistindo pra ter o compromisso político do segundo período”, confirmou.

O Japão, por outro lado, mais uma vez se pronunciou publicamente contra uma segunda etapa de Kyoto porque ele não resolveria “o problema das mudanças climáticas. “Apenas 27% das emissões globais estão sob o protocolo. Podemos acomodar o que o Japão deseja ao chegar a um único acordo vinculante global”, disse o negociante japonês, Akira Yamada.

Eles desejam um acordo de metas de redução dos gases do efeito estufa com todos os países. O Protocolo de Kyoto apenas obriga países industrializados, menos EUA, a cortarem suas emissões. Os japoneses destacam ainda que estão fazendo todos os esforços para reduzirem suas emissões.

Já a Bolívia teria saído das discussões e depois voltado por pressão de outros países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas). Claudia Salerno, negociadora da Venezuela, um dos países membros da Alba, afirmou que as negociações estão avançando e que agora não há porque se retirar.

As discussões sobre REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação de floresta), que proveria recursos para os países preservarem suas florestas (grandes armazenadores de CO2), estariam bem avançadas, apesar da oposição da Bolívia.

Fantasmas de Copenhague

A ministra afirmou ainda que não há um texto articulado pela União Europeia (UE) com as Pequenas Ilhas, como informou o jornal Guardian. “Não tem nenhum texto. Como chefe da delegação do Brasil, eu não vi nenhum texto”, declarou.

Um dos principais esforços da presidência mexicana nesta COP é afastar os chamados “fantasmas de Copenhague”. Na COP-15, na capital Dinamarquesa, diversos textos paralelos foram discutidos e a proposta final do Acordo de Copenhague foi elaborada por EUA, UE e os BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China). Isto causou diversos protestos por parte dos países que não foram consultados, principalmente os da Alba, que não assinaram o Acordo.

Duplas de co-facilitadores

A ministra contou que a presidente da COP chamou, na tarde desta quinta, as duplas escaladas para negociar questões chave do “pacote de Cancún” para saber seus resultados, mas que todas pediram mais tempo para apresentar um relato final dos diálogos.

“A presidente chamou uma plenária com um grupo de 50 países para fazer avaliação dos relatos dos co-facilitadores dos vários temas do pacote balanceado. Todos os grupos pediram mais tempo para fazer essa consolidação e a gente espera que no final do dia possamos ter mais textos consolidados”, explicou.

Além de Brasil e Reino Unido trabalharem para um segundo período do Protocolo de Kyoto; metas globais a longo prazo ficaram a cargo de Suécia e Granada; a ajuda para adaptação às mudanças climáticas em países pobres fica com Espanha e Argélia; divergências sobre financiamento serão discutidas com Austrália e Bangladesh; e o controle e transparência das emissões serão mediados por Nova Zelândia e Indonésia.