Topo

Estudo inédito feito em Abrolhos pode ajudar a proteger peixes ameaçados por seu alto valor comercial

Do UOL Ciência e Saúde

Em São Paulo

24/03/2011 19h59

Um artigo científico publicado recentemente na revista Scientia Marina traz os resultados de uma pesquisa que pode ajudar na recuperação e na gestão da exploração de peixes das famílias dos badejos, garoupas e vermelhos. De autoria de quatro pesquisadores brasileiros, o estudo foi conduzido ao longo de dois anos e meio na região dos Abrolhos, no sul da Bahia e no norte do Espírito Santo, com o apoio da Conservação Internacional (CI-Brasil) e a participação dos pescadores locais.

Ao contrário do que ocorre em partes do Caribe e na América do Norte, no Brasil (Atlântico Sul ocidental) a informação sobre épocas e locais de reprodução de peixes ameaçados e com grande valor comercial ainda é bastante escassa, prejudicando a regulamentação da pesca comercial.

Essa falta de controle, ou a existência de controles inadequados, é um dos principais fatores responsáveis pelo declínio das populações de peixes e da própria produção pesqueira nas águas tropicais do Nordeste do país. “Quanto mais conhecermos a biologia das espécies de importância comercial, melhores serão nossas chances de promover seu uso racional”, afirma Rodrigo Moura, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e um dos coautores do estudo.

Espécies

Na costa tropical do Brasil são encontradas dezoito espécies da família dos serranídeos (badejos e garoupas) e quinze espécies de lutjanídeos (vermelhos e pargos). A pesquisa concentrou-se nos ciclos reprodutivos das espécies com produção pesqueira mais expressiva na região de Abrolhos, três serranídeos – a garoupa (Epinephelus morio), o badejo (Mycteroperca bonaci) e o catuá ou jabú (Cephalopholis fulva) – e cinco lutjanídeos – o ariocó (Lutjanus synagris), o dentão (L. jocu), a cioba (L. analis), a guaiúba (Ocyurus chrysurus) e o realito (Rhomboplites aurorubens). 

De maio de 2005 a outubro de 2007, os estudos envolveram a identificação das espécies, a medição, a pesagem e a verificação do sexo e maturação das gônadas de peixes desembarcados nos municípios de Prado, Alcobaça, Caravelas e Nova Viçosa, no sul da Bahia. Ao todo, foram analisados 3.528 peixes das oito espécies selecionadas para o estudo.

Resultados

A conclusão da pesquisa revela que os picos reprodutivos das espécies concentram-se entre os meses de julho e agosto, no caso dos badejos e garoupas; enquanto quase todos os ‘vermelhos’ têm duas etapas reprodutivas anuais: uma mais intensa, entre setembro e outubro, e outra menor, que vai de fevereiro a março. A exceção entre os vermelhos é o realito, cujo período de reprodução ocorre de fevereiro a maio.

A pesquisa aponta também a necessidade de se determinar os locais de desova dessas espécies, o que depende de esforços de longo prazo.