Topo

Estudo liga magreza de Audrey Hepburn a alterações genéticas causadas pela guerra

Do UOL Ciência e Saúde

Em São Paulo

31/08/2011 15h35

Audrey Hepburn era conhecida por sua silhueta fina, muito parecida com o padrão de beleza atual, mas para a pesquisadora britânica e bióloga Nessa Carey as formas esguias da atriz nada tem a ver com horas de exercícios e dietas malucas como as das estrelas atuais. Como ela explica ao Daily Mail, Hepburn teve seus genes alterados pela privação de alimento que sofreu durante a adolescência, quando morava na Holanda e o país foi invadido pelos nazistas.

A atriz viveu na Holanda durante a infância, quando o exército de Hitler invadiu o país em 1940. De novembro de 1944 a maio de 1945 Hepburn passou fome e um período chamado na história do país como o "inverno da fome", quando o exército alemão bloqueou o fornecimento de alimentos, deixando uma grande população passando fome, o que matou em torno de 18 mil pessoas.

A atriz comeu tulipas e tentou fazer pão com grama para sobreviver. Para Carey, o período de subnutrição durante a guerra causou alterações na genética de Hepburn, provocando icterícia, anemia, problemas respiratórios e sanguíneos crônicos que acompanharam a estrela até o fim da vida, aos 63 anos.

A ciência que estuda as alterações genéticas que ocorrem durante a vida se chama epigenética. Segundo Carey conta ao Daily Mail, com as pesquisas nesta área é possível perceber que não nascemos com uma combinação genética que vai continuar até o final da vida, os genes podem se ligar ou desligar pelo processo epigenético e suas funções alteradas pelo nosso ambiente ou dieta.

Estudos com os sobreviventes do "inverno da fome" na Holanda mostram que este período de fome pode causar diversas alterações. As últimas análises mostram que a desnutrição na infância está ligada a doenças cardíacas no vida adulta, mostrando que esse período de má nutrição pode causar alterações metabólicas para o resto da vida.

A última análise dos dados mostra que períodos de subnutrição dos pais pode afetar seriamente os filhos que ainda não nasceram, especialmente quando ocorre com a mão nos três primeiros meses de gravidez. Apesar dos filhos daqueles que sofreram com o "inverno da fome" terem nascido com peso normal, sua taxa de obesidade é bem mais alta que a normal.

Algumas teorias indicam que quando o feto sofre falta de nutrientes dentro do útero, o mecanismo de sobrevivência ajusta o metabolismo para um mundo com fome, As alterações epigenéticas fazem com que o corpo dê prioridade para a criação de tecido adiposo (para acumular gordura) do que para a formação de um cérebro, fígado ou coração robusto. Ao envelhecerem, estes bebês apresentam maior tendência para outros problemas de saúde, como a demência. Alguns desses problemas podem ser observados também nos filhos desses bebês, indicando que as alterações epigenéticas são passadas para a próxima geração.

Outro estudo foi feito na Suécia no início do século XX pesquisou moradores de uma região que passava por períodos de abundância de comida e outros de falta. Os jovens do sexo masculino que comiam demais no período de abundância antes da puberdade tiveram filhos e netos com maior tendência de morrer de diabetes do pais que, no período pré-púbere, comeram normalmente.

Mas as pesquisas também mostram que melhoras na dieta podem proteger o corpo de alterações epigenéticas que podem nos prejudicar, uma alimentação correta pode, por exemplo, suprimir genes que causem o aparecimento de tumores. Além disso, uma alimentação mais saudável pode proteger também nossos descendentes. Esta alimentação, segundo Carey, é a dieta saudável, com alimentos como uvas, tomates, tofu, salsa, alho, cúrcuma, brócolis e chá verde.