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Estudo mundial com medicamento para prevenir HIV entra na segunda fase

DANILO POVEZA

Colaboração para o UOL

01/12/2011 11h30

Pode uma pílula prevenir o HIV? Esta é a investigação do iPrEx (Iniciativa Profilaxia Pré-exposição), estudo que acaba de entrar na segunda etapa de pesquisa e relata a eficácia do uso de remédios aplicados no tratamento de pacientes soropositivos como forma de diminuir o risco de contaminação por pessoas não infectadas.

Até o começo do próximo ano, 75 voluntários brasileiros que não são portadores do vírus começarão a tomar um comprimido por dia do medicamento Truvada (composto de tenofovir e emtricitabina usado no coquetel para HIV) para ser avaliado como este método, conhecido por profilaxia pré-exposição, pode ser somado ao uso da camisinha para conter a transmissão do vírus e ser uma alternativa aos meios empregados até agora.

Vivian Silva, médica pesquisadora do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde o estudo ocorre simultaneamente a centros de outros cinco países, conversou com o UOL a respeito da iniciativa. “A camisinha é eficaz, mas é eficiente? Há pessoas que não usam e é preciso apresentar mais formas que aumentem o nível de proteção”, resume.

Resultados da primeira fase da pesquisa, divulgados no ano passado, demonstram o efeito preventivo do Truvada. Para 2499 homens com práticas sexuais de risco foram dados aconselhamento, preservativos e comprimidos pelo tempo médio de 20 meses. Metade dos voluntários recebia o medicamento com princípio ativo e a outra metade recebia um placebo (pílula de açúcar). Entre o grupo que utilizou o remédio todos os dias, com frequência superior a 90%, a chance de infecção por HIV foi 72,86% menor do que entre aqueles que tomaram placebo.

“Agora, nesta segunda etapa, todos os voluntários receberão os comprimidos sabendo que se trata de um remédio com estas chances. Será importante para avaliarmos como isto muda o comportamento dos participantes”, explica Vivian Silva.

Sorodiscordantes

Um dos voluntários, Adriano (nome fictício), 29, avalia o que mudou em sua rotina desde que começou a tomar o Truvada nesta semana. “Muda [o fato de] eu me sentir mais tranquilo, mais protegido, com menos receio para viver melhor com meu parceiro HIV positivo”. Adriano tomou conhecimento de que era sorodiscordante de seu parceiro há um ano e meio. “Confesso que vivemos na expectativa deste remédio, da pesquisa ou de algum outro avanço qualquer da ciência para poder nos liberar do uso do preservativo algum dia", diz ele.

No entanto, Adriano sabe que o medicamento não é o suficiente para "relaxar no uso da camisinha", mas "é sempre bom garantir com algo mais. Os efeitos colaterais, que são praticamente nulos, não chegam a ser problema algum". Entre os efeitos colaterais da droga estão desconforto gástrico e náuseas.

  • iPrex/Divulgação
  • Comprimido de Truvada usado na pesquisa

Resultados em 2013

O estudo deve relacionar como a frequência do uso da droga aumenta a proteção e se continuam baixíssimos os efeitos de seu uso prolongado. Infectologistas e psicólogos acompanharão os envolvidos até 2013, quando novos dados serão divulgados.

Por enquanto, são estudados apenas casos de homens que têm relação sexual com outros homens, a população mais afetada pelo vírus. Para a médica, essa participação é crucial. Todos os dados de quem fizer uso regularmente do medicamento e dos que não tiverem adesão são significantes para avaliar o método e recomendá-lo aos programas mundiais como forma de prevenção. “Agradecemos muito aos voluntários. O potencial da pesquisa é beneficiar toda a população", diz Vivian.

O estudo iPrEx é financiado pelo NIH -- o Ministério da Saúde dos EUA -- e a fundação Bill e Melinda Gates. No Brasil, também participam da iniciativa o Instituto Fiocruz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.