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Aumento de 2ºC ameaça 30% do potencial hidrelétrico do país, diz ambientalista

Flávia Dourado

Especial para o UOL Ciência e Saúde

05/12/2011 07h00

A 17ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-17) acontece em um ápice dos debates sobre o projeto de lei que reforma o Código Florestal e amplia as áreas passíveis de desmatamento. Foi aprovado o texto da Comissão de Meio Ambiente do Senado e agora o texto deve ir à votação em plenário na Casa esta semana.

Além disso, o Brasil ganhou o prêmio Fóssil do Dia na COP por causa do projeto. O prêmio é dado para os países que vão contra o meio ambiente. Segundo as ONGs, a nova lei é um “desastre para as florestas brasileiras, para o clima” e “para a preservação da biodiversidade”.

A ex-ministra Marina Silva, endossa a posição e diz que se trata de uma questão constrangedora, que pode comprometer os avanços obtidos pelo Brasil na agenda ambiental.

“Se o Código for aprovado nos termos em foi aprovado nas comissões do Senado e se não for vetado pela presidente Dilma, o país, que estava com uma posição muito favorável, vai passar de novo para a lista cinzenta dos grandes emissores. Porque a gente tinha iniciado um processo virtuoso com a redução do desmatamento”, diz.

O coordenador da campanha de clima e energia do Greenpeace Brasil, Pedro Torres, que está participando da Conferência de Durban, afirmou que a delegação brasileira vem sendo questionada sobre o Código.

“Ainda que seja um assunto interno, a pressão sobre o Brasil vai aumentar. O questionamento sobre a capacidade do país de reduzir as emissões vai aumentar. E, se a gente inviabilizar as metas com as quais já nos comprometemos, o impacto será muito negativo”, declara Torres.

Para além do Código

Segundo o consultor do Ministério do Meio Ambiente para assuntos de sustentabilidade, clima e floresta, Tasso Azevedo, o Brasil precisa se posicionar como uma liderança na COP-17, visto que as mudanças climáticas terão impactos mais graves no Brasil se comparado a outras grandes economias.

“Nossa economia é totalmente dependente do ciclo da água. Nossa matriz energética é dependente da água e nossa agricultura também. E a previsão é que um aumento de 2ºC a 3ºC na temperatura ameace 30% do potencial hidrelétrico instalado do Brasil e provoque perdas de produtividade em oito das dez principais culturas agrícolas brasileiras. Nós temos que trabalhar para que o mundo não emita mais”, disse.

Azevedo destaca, ainda, que o Brasil é o país com maiores chances de se beneficiar com a transição para uma economia de baixo carbono: “a gente tem o maior potencial do planeta de geração de energia do mar, hidrelétrica, eólica e solar”.

Marina Silva também defende que o Brasil, país que já se comprometeu com uma meta voluntária de redução de 36,1% das emissões de carbono até 2020, tenha um protagonismo maior na Conferência, utilizando sua posição para fazer um constrangimento ético diante de outras nações e garantir que a crise econômica não se sobreponha à crise ambiental.

“A gente não pode trabalhar com a hipótese de rebaixamento de expectativas. Não tem como ter uma segunda fase [do Protocolo de Kyoto] se esse fustigamento não for feito. Esse é o momento de dar o exemplo de que, para a crise ambiental, também haverá o esforço dos governantes, também haverá o aporte de recursos, também haverá o compromisso dos países desenvolvidos e dos países de economia média”, diz a ex-ministra. “Em vez de ir para a Conferência justificando a não-ação, é preciso ir com a determinação de superar os obstáculos”, finaliza.