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Pesquisador da vacina contra a Aids sonha em trabalhar com brasileiros e vir à Copa de 2014

O imunologista brasileiro Michel Nussenzweig dá palestra na Universidade Rockefeller, em Nova York - Rockefeller University/Divulgação
O imunologista brasileiro Michel Nussenzweig dá palestra na Universidade Rockefeller, em Nova York Imagem: Rockefeller University/Divulgação

Ingrid Tavares e Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

25/10/2012 06h00

O imunologista brasileiro Michel Nussenzweig conseguiu desenvolver uma vacina experimental contra o vírus da Aids mais eficaz que os atuais tratamentos clínicos, como os medicamentos antirretrovirais existentes no mercado.

Liderando uma equipe na Universidade Rockefeller, em Nova York, o pesquisador clonou, a partir de uma única célula, anticorpos poderosos encontrados em organismos de pessoas imunes ao vírus HIV e os administrou em ratos que foram geneticamente modificados para ter um sistema imunológico idêntico ao nosso.

A pesquisa, publicada na prestigiada revista científica Nature, constatou que a carga viral das cobaias caiu para um nível abaixo do detectável por até 60 dias depois do fim do tratamento – já nos animais tratados com remédios, os sintomas voltaram a aparecer em poucos dias logo após a interrupção. "O experimento demonstrou que combinações distintas de anticorpos monoclonais são eficazes na hora de suprimir a replicação do HIV em ratos 'humanizados', por isso podem prevenir a infecção e servir para o desenvolvimento de novos tratamentos", descreve em seu artigo científico.

Difícil, mas não impossível

Segundo Nussenzweig, os anticorpos monoclonais são o “caminho mais seguro” para controlar o vírus da Aids, tanto que ele já testa a sofisticada técnica em macacos rhesus, que têm 93% de semelhança com o material genético humano.

Ele não descarta conduzir, no futuro, uma terapia clínica em soropositivos. “Espero ser capaz de conseguir isso, e outros pesquisadores também estão tentando como nós”, disse em entrevista ao UOL, sem mencionar uma data. O custo desta etapa costuma girar na casa dos milhões de dólares e poucas empresas tendem a financiar os estudos com um vírus mutante.

Mas o pesquisador não trata como impossível desenvolver uma vacina que cure a infecção, apenas “difícil”.  “Sim, eu acredito [que teremos uma vacina eficaz]. Ela ainda é difícil de ser produzida porque não sabemos direto como ensinar o sistema imunológico a fazer os anticorpos certos. Mas sei que é possível consegui-la, porque alguns poucos indivíduos já fazem isso naturalmente”, explica.

O primeiro passo para um tratamento efetivo já foi dado pelo seu grupo da universidade. Em um estudo anterior sobre anticorpos humanos no combate ao HIV, divulgado no ano passado, eles observaram que as proteínas de defesa foram capazes de neutralizar uma gama de vírus da doença em macacos rhesus.

Copa no Brasil

Nussenzweig nasceu em São Paulo e se mudou para os Estados Unidos aos 12 anos, quando seus pais, a parasitologista Ruth e o patologista Victor, foram fazer um pós-doutorado na Escola de Medicina da Universidade de Nova York. O casal tem renome na comunidade científica por uma série de importantes estudos sobre a malária publicados desde a década de 1960.

Radicado em Nova York, Michel seguiu o exemplo de dentro de casa e se formou em medicina, mas logo partiu para o campo de pesquisas para entender o funcionamento das células. Uma de suas linhas de pesquisa atuais são as células dendríticas, fruto do seu doutorado de 1981, em que ele investiga a origem do sistema de defesa do nosso organismo.

Professor da Universidade Rockefeller desde 1990, o paulistano mantém laços com o Brasil por meio de sua irmã, Sonia, socióloga que leciona na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e vive com sua família no país, e adorar futebol. Ele gosta tanto do esporte que diz "sonhar"  em vir para cá para acompanhar de perto os jogos da Copa. "Eu amo futebol e sonho em assistir à Copa do Mundo no Brasil!" 

Sua única frustração parece ser não conseguido ter feito nenhum trabalho científico com uma equipe brasileira. “Tenho tentando isso [trabalhar com brasileiros], mas, para ser honesto, tem sido bastante frustrante [essa tentativa].”