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Dez anos depois de tragédia, Base de Alcântara ainda finaliza reconstrução

Karine Melo

Da Agência Brasil, em Brasília

12/02/2013 16h27

Quase uma década depois da explosão do foguete VLS-1 V03, no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 técnicos civis e destruiu a torre de lançamento, a infraestrutura da base maranhense ainda não está 100% recuperada. A expectativa da Agência Espacial Brasileira (AEB) é que, só em dois anos, todo o trabalho esteja concluído.

 
“Ainda carece de um bom investimento para terminar essa infraestrutura, que vai servir para dois sítios simultaneamente: um especificamente para lançar o Cyclone-4, parceria que nós temos com a Ucrânia, e o outro que é para lançar os nossos lançadores”, disse à Agência Brasil, o presidente da AEB, José Raimundo Coelho.
 
O objetivo da Operação São Luís, que terminou em tragédia no dia 22 de agosto de 2003, era colocar em órbita o satélite meteorológico Satec, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e o nanossatélite Unosat, da Universidade do Norte do Paraná. Foi a primeira e única tentativa brasileira de colocar um satélite em órbita a partir de uma base nacional.
 
O Brasil, no entanto, já voltou a fazer lançamentos a partir da Base de Alcântara. Em 2010, foi lançado o foguete brasileiro de médio porte VSB-30 V07.
 
De 2004 a 2012, foram investidos pouco mais de R$ 582 milhões em infraestrutura e sistemas para o Centro de Lançamento de Alcântara. Nos próximos dois anos, a previsão do Programa Nacional de Atividades Espaciais é que R$176 milhões sejam empregados para o mesmo fim.
 
Segundo o presidente da AEB, o Brasil aprendeu muito com a tragédia, principalmente no que diz respeito à prevenção de acidentes.
 
“Toda operação que envolve combustível pesado, como é o caso espacial, tem que ter senhoras precauções. Digamos que a nossa primeira iniciativa não foi focada nisso, porque a gente jamais poderia imaginar que poderia acontecer aquele acidente. Foi fatal e foi uma surpresa total para nós”, reconheceu.
 
A construção de uma nova torre de lançamento foi totalmente concluída e entregue em outubro de 2012, depois da realização de testes que mostraram que a estrutura está preparada para um feito inédito: lançar um foguete com satélite de uma base própria.
 
Pelas previsões da AEB, o foguete ucraniano Cyclone-4 será o primeiro a ser lançado na base, fora da fase de testes, desde a explosão da torre. Pela cooperação, firmada no mesmo ano do acidente, a Ucrânia é responsável por desenvolver e fabricar os equipamentos do foguete.
 
Já ao Brasil cabe a construção da infraestrutura física e de comunicações do Centro de Alcântara. Ainda não há data marcada para o lançamento do foguete, mas a intenção é que isso ocorra em 2014.
 
Para que o Centro de Lançamento de Alcântara volte a operar, o novo projeto de construção da torre envolveu ajustes, sobretudo na área de segurança. Entre as novidades estão a instalação de sistema de proteção contra descargas atmosféricas, a construção de uma área de fuga e a automatização de sistemas.
 
“O posto de comando é belíssimo, competitivo com qualquer outro do mundo. Tem modernidades que outros lugares não tem, como, por exemplo, uma torre que se ajusta a vários tipos de lançadores” explicou José Raimundo.
 
Ainda segundo José Raimundo, os planos para a base de Alcântara são audaciosos. Quando tudo estiver pronto, a intenção é que ela seja usada para vender serviços a preços mais competitivos. “Nossa posição é bem embaixo da órbita geoestacionária. Se você for lançar lá do Hemisfério Norte, longe do Equador, significa muito mais combustível, muito mais dinheiro gasto. De lá, você pode economizar 30% no lançamento”, estimou.
 
A idéia é que, se o Brasil tiver lançadores eficientes, a partir de um local estrategicamente bem posicionado, a demanda por serviços aumente muito. “Podemos lançar satélite do mundo todo e cada lançamento custa cerca de US$ 50 milhões”, aposta o presidente da AEB.
 
Este ano, a AEB deve contar com um orçamento de R$ 400 milhões para investimentos em lançadores, satélites e infraestrutura. O presidente da agência reconhece que os recursos estão muito aquém do necessário, mas segundo ele, já são o dobro do empenhado no ano passado.
 
“Para a infraestrutura de Alcântara, nós estamos solicitando ao governo brasileiro um suplemento emergencial, devido a esse compromisso que nós temos com a Ucrânia [de lançar o Cyclone-4], isso vai acrescentar R$ 200 milhões ao orçamento”, disse.