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Grupo questiona originalidade de pesquisa de Nicolelis; cientista rebate "insinuação leviana"

Do UOL, em São Paulo

26/02/2013 16h29

O neurocientista Miguel Nicolelis classificou como "primária, leviana e irresponsável" a "insinuação" de que suas pesquisas com sensores infravermelhos com ratos foi influenciada após uma apresentação do pesquisador Márcio Flávio Dutra Moraes, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Um manifesto publicado no blog da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento afirma que Nicolelis participou, em julho de 2010, de uma reunião do Comitê Gestor da Incemaq (Interface Cérebro-Máquina), no INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), na qual Moraes apresentou um projeto semelhante ao dos sensores. O documento é assinado por ex-membros do INCT, que é presidido por Nicolelis.

"Nada do que o professor Marcio Moraes possa ter dito ou feito teve qualquer influência no nosso trabalho", afirmou Nicolelis, em entrevista por e-mail ao jornal O Estado de S. Paulo. "Não tenho nenhuma lembrança, dois anos depois, da apresentação do prof. Márcio Moraes."

"Não duvido de que ele possa ter apresentado algum trabalho envolvendo uso de transdutor infravermelho. Todavia, nosso trabalho, como demonstram os documentos remetidos ao senhor, dedicava-se a pesquisas usando luz infravermelha como fonte de controle de uma neuroprótese cortical desde 2006", relata Nicolelis.

O grupo questiona por que Nicolelis manteve sigilo sobre seu estudo durante tanto tempo e publicado os resultados de forma isolada, mesmo sabendo que Moraes estava desenvolvendo um projeto similar na universidade mineira. 

Nicolelis e Rômulo Fuentes, diretor científico do IINN-ELS (Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra), divulgaram cópias de e-mails trocados desde 2006 entre pesquisadores da Universidade Duke, nos Estados Unidos, em que a ideia de acoplar sensores de infravermelho a cérebros de ratos já era discutida. Eles dizem que o primeiro experimento de fato ocorreu em janeiro de 2010, antes da reunião do comitê da Incemaq.

A carta assinada pelos ex-membros também questiona o crédito dado ao IINN-ELS no trabalho que foi publicado na Nature Communications. Eles alegam que Eric Thomson, um dos autores da pesquisa, assina como membro do instituto, mas não tem vínculo com a organização. Ou seja, segundo o grupo, a pesquisa foi toda produzida nos Estados Unidos, e não no centro do Rio Grande do Norte.

"Utilizar a produção de um laboratório no exterior como justificativa para prestação de contas de um financiamento nacional tem grande potencial de comprometer o trabalho sério e sólido das agências de fomento brasileiras nas últimas décadas", afirma a carta. "A produção deve ser resultante do investimento em infraestrutura para geração de conhecimento, formação de recursos humanos e nucleação de grupos de pesquisa em território nacional."

Nicolelis disse que a contribuição do IINN-ELS será explicada num próximo trabalho. Ele e Fuentes atribuem as críticas a um suposto complô liderado pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, que estaria "totalmente obcecado com a ideia de assassinar a reputação do professor Nicolelis".

Sidarta, professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), rompeu com Nicolelis em agosto de 2011, sacramentando um "racha" que esvaziou quase que completamente o quadro de pesquisadores e alunos do  IINN-ELS - ele era um dos fundadores do instituto. (Com informações dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo)