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Vaticano usa química para "branquear" fumaça que indica escolha do papa

Lilian Ferreira e Ingrid Tavares

Do UOL, em São Paulo

13/03/2013 15h56

O anúncio de que foi escolhido um novo papa é feito pela fumaça branca que sai da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano. Entretanto, a confusão é comum porque a fumaça quase sempre sai cinza - principalmente nos primeiros instantes, como ocorreu nesta quarta-feira (13).

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A química para deixar a fumaça branca ou preta é simples: quanto mais oxigênio, mais branca ela é, porque na combustão completa não sobram partículas. Para facilitar o processo e deixar a fumaça "mais branca", o Vaticano está usando, desde o último conclave em 2005, um composto de clorato de potássio altamente inflamável.

"O clorato de potássio inflama com facilidade e produz belas partículas ao queimar. A adição de corantes é feita para gerar cores. Então, o clorato de potássio queima e gera partículas brancas. Ele deve ser utilizado com extremo cuidado pois é explosivo", explica André Pimentel, coordenador do curso de química da PUC-Rio.

Pimentel explica que, como regra, uma queima bem oxigenada gera fumaça branca, e mal oxigenada gera cinza ou preta. Uma proporção maior de hexacloretano produz fumaça cinza. O acréscimo de resina de poliéster transforma-a em cinza escuro. Já o arsênico queima produzindo fumaça amarela. Uma nuvem de fumaça vermelha de óxido de ferro é obtida com oxigênio sobre ferro derretido.

Reinaldo Camino Bazito, professor do Instituto de Química de USP (Universidade de São Paulo), diz que nos fogos de artifício, aproveita-se uma explosão de pólvora pra colocar íons metálicos que vão colorir a chama, o sódio faz a cor laranja, por exemplo.

As fumaças brancas, teoricamente, são as mais fáceis de produzir, mas elas dependem do ambiente para completar o efeito, exigindo teores adequados de umidade , temperatura etc. "A gente enxerga a fumaça branca por causa da luz, que é espalhada – a luz incide e ‘espalha’, criando a cor visível. A água não absorve a radiação solar, são os compostos que absorvem certos raios correspondentes às cores, e você enxerga o que sobrou, a cor complementar", afirma  Bazito.

Se falta oxigênio durante a queima, é produzido monóxido de carbono e não dióxido de carbono, porque faltou oxigênio na fórmula, e vemos a fumaça mais escura.

  • Fumaça preta dos conclaves de 2005 e 2013

Simbologia

O padre Helmo Faccioli, coordenador da Comissão de Liturgia da Arquidiocese de São Paulo, conta que as cédulas são sempre queimadas, porque além de fazer parte da simbologia, também é parte da legislação do conclave.

"No conclave de Joseph Ratzinger, o Bento 16, em 2005, o Vaticano já usou elementos químicos para deixar a fumaça mais branca e acabar com as dúvidas. Em 1978, o João Paulo 2º foi eleito ao entardecer, no outono (era outubro), e ficou uma certa dúvida. A grande multidão na praça ficou aguardando se a fumaça ficava branca ou preta", lembra.

Tradicionalmente, após uma votação sem sucesso, as autoridades adicionavam palha úmida às cédulas para fazer a fumaça preta com fuligem. A água torna a combustão incompleta e aumenta o número de partículas pretas. A palha seca ajudaria a formar fumaça branca em caso de escolha do papa.

De acordo com Faccioli, a tradição de a fumaça indicar a escolha do papa ocorre desde antes de os conclaves serem realizados na Capela Sistina, no fim do século 16. "Os outros conclaves eram feitos em diversos lugares da Itália. É um sinal externo de comunicação do que acontece internamente; uma vez que tem inicio o conclave, os cardeais não tem nenhuma outra comunicação, e a fumaça passou a ser esta comunicação"

Uma vez iniciado o conclave, eles fazem um pacto de segredo e confidencialidade do que ocorre. "O desenvolvimento interior, dos assuntos, tudo fica sob sigilo – principalmente quem votou em quem. Desde o tempo do apostolo Pedro", afirma o padre.