'Imperatriz cientista', Leopoldina era apaixonada por geologia e botânica
Dom Pedro casou-se com sua primeira mulher seis meses antes de ela pisar em território brasileiro. Uma procuração garantiu o enlace do príncipe regente com a arquiduquesa da Áustria em maio de 1817.
Foram necessários dois navios para acomodar a mudança de Leopoldina de Habsburgo, em novembro. A grandiosidade não estava relacionada às pompas de um guarda-roupa de princesa, mas estava à altura da comitiva de cientistas europeus que ela fez questão de trazer para o Rio de Janeiro.
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"Dona Leopoldina não veio ao Brasil só porque era da realeza, ela também integrava a expedição científica", afirma o biólogo e médico legista Luiz Roberto Fontes, que fez a análise forense da família imperial. "Ela sabia coletar plantas, pedras e animais – e, inclusive, preparava as peles com técnicas de taxidermia. Ela era uma imperatriz cientista."
Desembarcaram no Rio de Janeiro os alemães Karl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix, nomes famosos das ciências naturais do século 19. Martius coordenou a equipe de botânica, enquanto seu conterrâneo chefiou o grupo de zoologia, da qual fazia parte o taxidermista Johann Natterer. A longa missão dos dois chefes resultou na publicação da obra Viagem ao Brasil, além de Martius ser responsável pelo Flora Brasiliensis, um importante compêndio de 20 mil páginas com classificação e ilustração de milhares de espécies de plantas dos quatro cantos do país.
A austríaca tinha paixão por minerais, o que pode ser considerado hoje um ramo da geologia, e ficou entusiasmada em conhecer o Brasil. Segundo Fontes, ela trouxe uma coleção de pedras e coletou plantas exóticas nas paradas dos navios a caminho do país tropical, porque foi alertada que o marido também se interessava pelo assunto. "Mas, coitada, ela foi enganada. Dom Pedro gostava era de armas e batalhas, não de ciências naturais."
Por seu ímpeto científico e gostar de vasculhar cada canto de terra, a imperatriz acumulou o título de mal vestida na corte portuguesa. "Ela era conhecida como a imperatriz deselegante. Como ela cavalgava, usava camisas e calças como os homens, e não [se trajava] como as outras damas, para estar preparada para colher amostras se fosse necessário."
O apreço de Leopoldina pelo mundo natural foi o embrião para a criação de um importante acervo científico. A imperatriz incentivava o estudo da biodiversidade brasileira no exterior, mas exigia em troca de material, assim, para cada objeto colhido nas matas tropicais, os cientistas eram obrigados a enviar algo de interesse da ‘imperatriz cientista’. "Com essa exigência da troca de material de pesquisa, Leopoldina reuniu um importante acervo que foi base para a criação do Museu Nacional do Rio de Janeiro."
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