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Vigilância vistoriou o Instituto Royal um mês antes do resgate de beagles

Do UOL, em São Paulo

25/10/2013 06h00

A Vigilância Sanitária de São Roque, a 66 km de São Paulo, fez a última vistoria do Instituto Royal, sem encontrar irregularidades, cerca de um mês antes de um grupo de ativistas "resgatar" 178 beagles usados em pesquisas laboratoriais. O local é investigado desde 2012 por maus-tratos aos animais pelo Ministério Público.

O órgão municipal decidiu fazer uma visita surpresa ao Instituto no dia 19 de setembro após receber algumas denúncias de maus-tratos contra os animais de laboratório - além de cães, o biotério abriga também coelhos e ratos -, apesar de a fiscalização ser feita pelo Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Segundo a Vigilância, a visita também ajudaria a dar informações a um grupo de ativistas que se revezava em frente à empresa. Os manifestantes queriam ter acesso ao laboratório para verificar se realmente havia riscos ou crueldade aos bichos, assim como se eram feitos testes para produção de cosméticos com os animais no local, e não só os científicos.

Mas Marcelo Morales, coordenador do Concea, confirmou que o instituto não fazia testes para cosméticos em animais, somente com métodos alternativos. O pesquisador também já havia declarado que não havia maus-tratos na instituição

Com ajuda da veterinária Solange Cestero Rodriguez, chefe do Serviço de Controle de Zoonoses da cidade, os fiscais da Vigilância conheceram os canis, a maternidade dos animais, os laboratórios e eles não constataram irregularidade nas dependências, nem sinais de maus-tratos ou de sujeira. Além disso, a documentação e as credenciais estavam em dia.

Nesta quarta-feira (24), uma dupla da Vigilância Sanitária voltou ao Instituto a pedido do prefeito de São Roque, Daniel de Oliveira Costa (PMDB): a comissão verificou as condições do laboratório e o prefeito garantiu que o alvará de funcionamento será mantido.

"A estrutura do local está em perfeitas condições. Não vejo motivo para cassar o alvará", disse Costa.

A Polícia Civil informou, também na quarta, que identificou cerca de 20 pessoas que participaram da ação dos cães. Segundo a Delegacia de Investigações Gerais de Sorocaba, que vai cuidar do caso, os suspeitos deverão ser ouvidos e, se constatado crime, poderão responder por furto qualificado (já que ocorreu no período noturno), dano e formação de quadrilha.

Silvia Ortiz, gerente geral do Instituto Royal, negou que a empresa fazia testes de cosméticos ou de produtos de limpeza com animais, pois esses procedimentos podem ser feitos com métodos "in vitro". Em um vídeo gravado, ela disse ainda que os animais eram tratados "com carinho" pela equipe e que os animais tinham atividades recreativas e recebiam alimentação nutritiva - a denúncia de maus-tratos foi o principal motivo apontado para a invasão do local em 18 de outubro.

Os ativistas dos direitos animais mantêm as acusações contra o instituto, alegando que os cães viviam em situação degradante, com sujeira, fezes e urina. Luisa Mell, que participou da ação, afirma que os "beagles estão muito assustados, apáticos". A apresentadora de TV, que lidera uma mobilização para que os cães sejam adotados, diz que a invasão ocorreu para evitar a morte dos bichos. 

"Tivemos a informação de um funcionário do Royal, que nos ajudou porque estava cansado de ver os animais sofrendo, que iam sacrificar todos os bichos naquela noite. Ouvimos choro dos animais e entramos em desespero."

Na última terça-feira (22), o deputado Protógenes (PCdoB -SP) pediu a a abertura de uma comissão na Câmara dos Deputados para investigar o caso. Segundo o parlamentar, o objetivo final do grupo é restringir a lei que permite testes em animais, tanto para cosméticos quanto para medicamentos.

No mesmo dia, o deputado Ricardo Izar (PSD-SP) apresentou um projeto de lei proibindo o uso de qualquer espécie animal em atividades de ensino, pesquisas e testes laboratoriais para produtos cosméticos.