O prometido foi entregue. A Fifa responde pela transmissão, diz Nicolelis
O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis usou seu Twitter nesta sexta-feira (13) para responder às críticas sobre a apresentação de seu exoesqueleto na abertura da Copa do Mundo, ontem, em São Paulo. Ele disse que o que foi prometido sobre o exo foi entregue e que a transmissão pela TV foi de responsabilidade da Fifa.
"Mensagem final: o que foi prometido foi entregue. Depois de 17 meses de trabalho insano, a missão foi cumprida integralmente." Antes, ele disse: "A FIFA deveria responder pela edição das imagens que impediu que a demonstração fosse transmitida na íntegra. Responsabilidade é toda dela."
Na abertura da Copa, o brasileiro paraplégico Juliano Pinto, de 29 anos, chutou a Brazuca mas quase ninguém viu porque a transmissão mostrou o chute no meio, com um pouco mais de um segundo de movimento do exo, o que causou revolta de público e dúvida de críticos quanto ao sucesso do experimento.
Em comunicado, o pesquisador disse que foram previstos 29 segundos para a apresentação, que foi concluída em 16 segundos, mas as imagens geradas pela Fifa mostraram apenas 7 segundos da demonstração. A maior parte já com a bola rolando.
O momento esperado da ciência demonstra o exoesqueleto - uma estrutura metálica que dá sustentação ao corpo e reage a comandos do cérebro, como andar e chutar - criado pelo neurocientista. O estudo iniciado em 2001 tem sua primeira exibição pública.
Ainda na rede social, o pesquisador disse: "Quem definiu o teor da demonstração, a duração e a edição das imagens foi a FIFA. Reclamações sobre esses temas devem ser endereçadas a ela."
O grande avanço de seu exoesqueleto, além de permitir que uma pessoa que não consegue comandar os membros inferiores por lesão na medula consiga comandar um "robô" por sinais cerebrais, é enviar respostas táteis, para que a pessoa sinta que está andando.
"Resumo: um brasileiro, portador de paralisia de mais da metade corpo, realizou um chute com um exo sob controle do cérebro e sentiu o chute", disse o pesquisador no Twitter.
Abaixo, um vídeo feito no laboratório do pesquisador mostra o exoesqueleto e o chute na bola.
Paraplégico chuta a Brazuca com exoesqueleto de Nicolelis
Ainda serão publicados os estudos científicos que embasam e explicam a tecnologia usada para fazer com que uma pessoa que não consegue movimentar os membros por uma ruptura na medula possa, com impulsos do cérebro, comandar uma estrutura robótica.
Na internet, muitas pessoas reclamaram da pouca exibição, que não mostrou o paciente levantar da cadeira de rodas, andar e chutar a bola, como havia sido intensamente prometido. No pouco mais de 1 segundo, só é possível ver um pequeno movimento e a bola já em movimento.
Segundo o pesquisador, os testes foram concluídos com sucesso no último dia 28 de maio: "o exoesqueleto, sobre comando da atividade cerebral de um operador, realizou movimentos naturais e fluidos que produziram, em todos os pacientes, a sensação de que eles estavam caminhando com as próprias pernas".
Oito pacientes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) testaram o exoesqueleto desde janeiro de 2014. Juliano, o escolhido, é atleta de Gália (SP) e teve a lesão causada por acidente de carro em 2006. Também participaram dos testes: Bruno Rodrigues, 26 anos, atleta de Salto (SP), com lesão por acidente de moto em 2008; Carlos Eduardo de Oliveira, 32 anos, de Santo André (SP), com lesão por arma de fogo em 2009; Éric Vlatkovic, de 36 anos, de São Paulo (SP), com lesão por queda de altura em 2011; Patrícia Lopes Pimentel, de 29 anos, autônoma e estudante de São Paulo (SP), com lesão por atropelamento em 2003; Raimundo Reis de Macedo, de 38 anos de São Paulo (SP), com lesão por acidente de moto em 2009; Sheila Batista, de 31 anos, autônoma de São Paulo (SP), com lesão por queda de altura em 2001; e Yves Carbinatti, de 27 anos, atleta de Rio Claro (SP), com lesão por acidente de carro em 2008.
O projeto
A interface cérebro-máquina é feita por meio de uma touca com eletrodos que captam os sinais elétricos do couro cabeludo, com a técnica do eletroencefalograma (EEG), de forma não invasiva. De acordo com Nicolelis, esse procedimento é suficiente para impulsionar, com o exoesqueleto, a realização de movimentos de membros inferiores. Os sinais cerebrais dos pacientes que usaram o exoesqueleto foram processados em tempo real, decodificados e utilizados para mover condutores hidráulicos.
O Projeto Andar de Novo é um consórcio formado por universidades e institutos de pesquisa do mundo todo, sob o comando científico do neurocientista brasileiro. O objetivo do projeto é desenvolver uma tecnologia de interface cérebro-máquina que permita a pessoas com mobilidade restringida – como paraplégicos – voltar a andar usando a mente para controlar um equipamento externo, que substituiria os membros inferiores.
O presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), Glauco Arbix, disse estar satisfeito com a demonstração: "A Finep se orgulha de ter investido R$ 33 milhões no projeto Andar de Novo, que vem sendo desenvolvido há cerca de dez anos. Foi um verdadeiro gol da ciência brasileira, que mostrou para o mundo do que é capaz. Acompanhamos os testes do exoesqueleto e sempre tivemos a melhor expectativa possível, e isso foi confirmado hoje".
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