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Observatório amador de MG descobre três cometas em poucos meses

Os astrônomos amadores (da esquerda para a direita) João Ribeiro de Barros, Cristovão Jacques e Eduardo Pimentel, na sede do  Observatório Sonear, em Oliveira (MG) - Divulgação Sonear
Os astrônomos amadores (da esquerda para a direita) João Ribeiro de Barros, Cristovão Jacques e Eduardo Pimentel, na sede do Observatório Sonear, em Oliveira (MG) Imagem: Divulgação Sonear

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Americana (SP)

09/04/2015 15h30

Um grupo de astrônomos do Observatório Sonear, em Oliveira (MG), descobriu um novo cometa no final de março. Nomeado Jacques (C/2015 F4), ele foi registrado em 27 março e o anúncio oficial, confirmado pela IAU (em inglês, sigla de União Astronômica Internacional), ocorreu no dia 31 do mesmo mês. Terceiro objeto celeste do tipo descoberto por brasileiros, o cometa passará a 134 milhões de quilômetros de distância da Terra no dia 8 de agosto, quando poderá ser visto com a ajuda de um telescópio.

“É um orgulho muito grande. Ainda mais porque sabemos que iremos deixar um legado para a história e levar o nome do Brasil à comunidade astronômica mundial novamente”, avalia o astrônomo amador João Ribeiro de Barros, 56, um dos responsáveis pelo observatório.

Construído e equipado com recursos vindos da iniciativa privada, o Sonear (sigla que em inglês significa Observatório Austral para Pesquisas de Asteroides Próximos à Terra), que começou a operar em 18 de dezembro de 2013, foi o primeiro observatório do hemisfério Sul a descobrir um cometa. A primeira descoberta já ocorreu oito dias depois da inauguração. Desde então, a instituição, cuja equipe é liderada pelo engenheiro Cristovão Jacques, 52, e composta ainda pelo advogado Eduardo Pimentel, 55, já identificou, além dos cometas, 12 asteroides, sendo que três deles têm potencial para colidirem com a Terra.

“Fazemos um trabalho que é muito importante para a ciência e para a segurança. Identificamos esses asteroides e monitoramos as suas rotas. Em caso de uma possível colisão, temos condições de avisar as autoridades para que elas tomem as providências necessárias”, conta Jacques.

O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores do Sonear já conseguiu, em pouco mais de um ano, reconhecimento internacional. Tanto que, no ano passado, foi indicado, pelo Minor Planet Center, órgão ligado à IAU, como um dos 12 observatórios mais produtivos entre as instituições especializadas em acompanhar pequenos objetos próximos à órbita terrestre.

“Hoje, podemos dizer que nós, mesmo como amadores, estamos na elite dos observatórios mundiais. Somos conhecidos pela sociedade científica astronômica internacional, eles conhecem o nosso trabalho. E isso é uma grande honra”, conta Ribeiro Filho.

Cometas

Mas é a identificação dos cometas que acabou conferindo ao Sonear o reconhecimento da comunidade científica internacional. Tanto que os cometas receberam, respectivamente, o nome do Instituto (C/2014 A4 Sonear) e dois receberam o nome de Jacques (Jacques C/2014 E2 e C/2015 F4).

“É uma honra muito grande ter um cometa com seu nome. O primeiro, alguns podem pensar que foi acaso, o segundo, pode ser sorte para outros, mas, três cometas descobertos em pouco mais de um ano indica que o trabalho que fazemos é relevante para a astronomia mundial”, conta Jacques, que ressaltou que as descobertas foram comunicadas e homologadas pela IAU.

“O segundo cometa que descobrimos chegou a ser visível em boa parte do hemisfério Norte, houve muitas fotos, alguma lindíssimas. Junto com esses registros, o nome do Brasil foi levado. Todos souberam que um observatório brasileiro foi quem descobriu esse cometa. Isso é um orgulho muito grande, pois levamos o nome do nosso país a todo o mundo”, conta Jacques.

O observatório

Construído em um terreno comprado por Ribeiro de Barros, o observatório foi equipado por Jacques. Pimentel ajuda na análise dos dados. Graças ao trabalho dos três pesquisadores amadores, o observatório Sonear funciona constantemente. As imagens são captadas pelas lentes dos telescópios e armazenadas em um computador. Entre os parceiros, dois deles moram em Belo Horizonte e apenas Ribeiro de Barros fica em Oliveira.

Embora não revelem os custos envolvidos para a construção e operação do projeto, os pesquisadores reconhecem que a manutenção do espaço não é barata. “São equipamentos caros, às vezes temos problemas, mas preferimos manter a operação sem dinheiro público. Assim, mantemos nossa independência e evitamos o uso antiético de nosso observatório”, afirma Jacques.

Depois que as imagens são captadas, os três astrônomos têm acesso aos dados e fazem as análises. "O telescópio fica programado todas as noites para fotografar o céu. Todos os dias é feita uma programação com agendamentos e a partir dessa agenda é delimitada as áreas do céu onde o telescópio vai captar as imagens", conta Pimentel.

O telescópio utilizado pelos pesquisadores é capaz de proporcionar uma visão de 373 mil vezes mais potente que a visão humana e foi construído majoritariamente com equipamento brasileiro. Há, ainda, um outro equipamento, de menor porte, importado. Nos dois casos, é possível fotografar, com eles, centenas de imagens, três vezes em cada área do céu. "Se há um objeto que se move de maneira diferente e, que foge do padrão do restante do céu, passamos a analisá-los”, comentou.