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Mãos humanas são mais primitivas do que as de chimpanzés, diz estudo

Chimpanzé brinca com seu cuidador em Lahore, no Paquistão - Omer Saleem/EFE
Chimpanzé brinca com seu cuidador em Lahore, no Paquistão Imagem: Omer Saleem/EFE

Do UOL, em São Paulo

15/07/2015 16h01

Embora as mãos humanas sejam capazes de construir, emitir sons e fazer delícias na cozinha, um novo estudo sugere que elas são anatomicamente mais primitivas do que as mãos do nosso ‘primo evolutivo’, os chimpanzés. O estudo foi publicado nesta quarta-feira (15) na revista “Science”.

Os seres humanos e chimpanzés divergiram de um ancestral comum em torno de 7 milhões de anos, e suas mãos se tornaram muito diferentes ao longo do tempo.

Os humanos ‘de hoje’ (homo sapiens) têm um polegar relativamente longo e dedos mais curtos, o que nos permite tocar qualquer ponto de nossos dedos e, assim, facilmente agarrar objetos.

Os chimpanzés, por outro lado, têm dedos mais longos e polegares mais curtos, perfeitos para se balançar em árvores, mas muito menos útil para pegar coisas com precisão.

Milhões de anos

Por décadas a visão dominante entre os pesquisadores era de que os humanos tinham mãos semelhantes às dos chimpanzés por questões evolutivas, mas que as mãos dos primeiros homens foram se modificando para se tornarem melhores ferramenteiros.

Recentemente, alguns cientistas começaram a desafiar essa noção de que as proporções da mão humana mudaram fundamentalmente depois da separação evolutiva com chimpanzés.

As primeiras ferramentas de pedra feita por ancestrais humanos foram há 3,3 milhões de anos, mas há novas evidências de que os neandertais Ardipithecus ramidus ("Ardi"), que viveram há 4,4 milhões de anos, tinham mãos que se assemelhavam mais a dos humanos modernos do que a dos chimpanzés, apesar de não fazerem ferramentas.

Em 2010, uma equipe liderada pelo paleontólogo Sergio Almécija, da Universidade George Washington, em Washington, nos Estados Unidos, argumentou que os aspectos da mão humana como vemos hoje podem remontar a um período ainda mais longo -- algo como seis milhões de anos -- e que já seria vista em humanoides (espécie humana precursora ao homo sapiens), dado que eles já apresentavam capacidade de pressionar o polegar contra os dedos, dando precisão ao movimento.

Para saber como era o aspecto das mãos originárias dos homens, Almécija e seu grupo de pesquisadores analisaram as proporções do polegar e dos dedos de um grande número de macacos e chimpanzés vivos, assim como o de humanos modernos.

Elas foram comparadas a partir de medições e estatísticas com as mãos de várias espécies extintas de macacos e de seres humanos primitivos, incluindo ‘Ardi’, e o Australopithecus da África do Sul, que viveram a 2 milhões de anos, e com uma amostra de um fóssil de um macaco chamado Proconsul.

Chimpanzés mudaram mais

Os pesquisadores descobriram que a mão do ancestral comum entre chimpanzés e humanos, e ancestrais símios tinha um polegar longo e dedos curtos, similar à mão dos humanos hoje.

Assim, a mão humana mantém estas proporções mais "primitivas", considerando que os dedos mais alongados e polegares mais curtos dos chimpanzés e orangotangos representam uma forma mais modificada evolutivamente, perfeita para a vida nas árvores.

Almécija diz que que a capacidade de precisão da mão para agarrar foi "uma das primeiras adaptações" entre os membros da linhagem humana, possivelmente porque os nossos antepassados se aprimoraram em reunir uma ampla variedade de alimentos, e não originalmente, porque isso os fariam melhores fabricantes de ferramentas.

E se as mãos humanas em grande parte mantiveram o estado "primitivo", as mudanças mais importantes que teriam levado ao aprimoramento de seu uso vem da parte "neurológica", isto é, do alargamento e da evolução do cérebro humano e de sua capacidade de planejar e coordenar melhor os movimentos da mão.

"É bom ver que algumas das implicações de Ardi (o ancestral comum entre chimpanzés e humanos) estão sendo notados", afirma Owen Lovejoy, um anatomista da Kent State University, em Ohio.

Ao invés de ser um bom modelo para esse ancestral comum, Lovejoy diz que os chimpanzés de hoje se tornaram "altamente especializados" a manter uma vida na qual que se alimentam de frutas no alto das árvores, enquanto a mão humana sofreu menos modificações anatômicas.