Clique Ciência: Por que os animais adotam bichos de outras espécies?
Após ser rejeitado pela mãe, um pequeno macaquinho é adotado por uma gata. No mar, uma baleia cuida de um golfinho. No zoológico, a nova mãe do filhote de tigre é uma porquinha. A adoção de animais de outras espécies não é algo raro e acontece principalmente entre os mamíferos.
Até agora, os estudiosos ainda não chegaram a uma conclusão sobre o que realmente leva esses animais a cuidar de outros filhotes --inclusive daqueles que poderiam ser suas presas. No entanto, o que muitas pesquisas apontam é que o ato pode estar muito mais relacionado aos mecanismos biológicos e ao instinto de sobrevivência dos animais do que a um sentimento "altruísta".
Choro de bebê
Um estudo publicado na revista americana Naturalist, por exemplo, apontou que fêmeas de alguns mamíferos respondem prontamente a gritos de filhotes, mesmo sendo eles de outras espécies (como cachorros, gatos e até bebês humanos).
Os biólogos Susan Lingle e Tobias Riede gravaram o "choro" de filhotes de várias espécies e o reproduziram em florestas do Canadá.
Sempre que o choro soava nos alto-falantes escondidos, as fêmeas de veados da região corriam em direção ao ruído --coisa que não acontecia quando o som era de animais adultos.
Segundo os pesquisadores, o choro do filhote é sinal de uma situação grave, e as fêmeas podem ter evoluído para responder rapidamente nessas situações. "A vantagem de garantir a sobrevivência da sua prole supera o potencial erro", disse Lingle à revista New Scientist.
Instinto materno?
Os filhotes são na maioria das vezes adotados por fêmeas. Segundo Patrícia Monticelli, professora de etologia da USP, isso acontece porque há alterações hormonais que desencadeiam o comportamento materno ao longo da gestação e do parto, deixando as fêmeas mais propensas aos cuidados.
"Mas há espécies, como alguns peixes e aves, em que os machos agem como mães. Nesses machos também há um quadro hormonal que regula o comportamento e o cuidado”, explica.
Por outro lado, os filhotes que precisam de cuidados ao nascer contam com um “sistema comportamental de reconhecimento do cuidador e de estabelecimento de vínculo”, ou seja, ele escolhe o melhor cuidador.
Casos domésticos e em cativeiros
Em alguns casos, como animais domésticos, criados em cativeiro ou zoológicos, a adoção pode acontecer com base na teoria do imprinting (ou estampagem). Funciona assim: ao serem retirados do convívio com a mãe já nas primeiras horas de vida e inseridos em outro habitat, com outra “mãe”, esses filhotes passam a “acreditar” que pertencem à nova espécie.
Como exemplo, a professora cita um caso onde um filhote de tigre foi criado por uma porca.
Tigres são animais difíceis de se reproduzir em cativeiro e é comum a mãe matar os filhotes. Então, a saída é tirar os recém-nascidos e criá-los ou colocá-los com outra mãe
Para a pesquisadora, esses tigres crescerão achando que são porcos.
"A experiência das primeiras horas após o nascimento nos marca para sempre, nos carimba e mostra o modelo de quem você é enquanto espécie", conclui.
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