Baratas vivem sem cabeça? Veja o que acontece quando bichos são decapitados
Já ouviu falar que baratas continuam vivas mesmo sem cabeça? E que um frango viveu mais de um ano após ser decapitado? Ou que tentáculos de polvos seguem seus caminhos após a cabeça do animal ser arrancada?
Mito ou verdade: alguns animais conseguem viver normalmente depois de perder a cabeça? Depende.
É preciso levar dois pontos em consideração: as reações dependem da anatomia e fisiologia de cada bicho e viver não é apenas sobreviver e ter espasmos
André Frazão, biólogo do departamento de fisiologia da Universidade de São Paulo
Dizer que as baratas vivem sem cabeça é uma história que já atormentou (para não dizer enojou) muita gente --e o pior é que ela é parcialmente verdade.
O que acontece é que o inseto tem as principais estruturas vitais no abdômen, por isso consegue reagir por mais algum tempo após perder a cabeça.
"A barata não irá comer ou beber. Ela sobreviverá, se não tiver grandes desafios, e morrerá quando a reserva de energia e água acabar", explica Frazão.
Para sorte da barata, e azar de quem tem pavor dela, o baixo metabolismo faz com que ela tenha energia para sobreviver um tempo nessas condições. O biólogo explica:
O inseto fica pouco ativo e não sabe o que está fazendo. É difícil dizer que ela está realmente vivendo sem uma parte do corpo
Moscas têm reações parecidas ao ficarem sem cabeça --segundo Frazão, elas começam a morrer, mas, dadas as características fisiológicas e anatômicas, isso demora um tempo.
Bem diferente é o que acontece com as planárias.
O pequeno verme famoso nas aulas de biologia é capaz de regenerar-se e criar uma nova cabeça se for decapitado.
Quer saber algo ainda mais chocante? Uma pesquisa publicada no Journal of Experimental Biology afirma que até algumas memórias são mantidas na cabeça regenerada.
Existem também aqueles que têm apenas rápidas respostas, como é o caso do polvo.
"Ao perder a cabeça, os tentáculos podem ter reflexos e se dobrarem ou até se enrolarem", afirma Frazão. A resposta não quer dizer que o corpo está vivo, é apenas uma reação ao "susto" da morte.
As cobras também se contorcem, e existem registros de que elas até mordem após a decapitação. Em 2014, um chef chinês morreu ao ser picado pela cabeça de uma cobra que ele havia decepado.
O especialista em cobras Yang Hong-chang explica que é comum répteis terem reações após a morte. "A cobra só morre efetivamente quando as funções básicas do corpo cessam", diz.
Frango sem cabeça
O mesmo acontece com galinhas. Ao quebrar o pescoço ou decapitar um frango, os neurônios disparam em uma frequência muito rápida, e a galinha reage com espasmos. "Mas já não há nenhum controle corporal, de batimento cardíaco ou temperatura. Ela não sobrevive", explica Frazão.
Tudo isso torna o caso do frango Mike um mistério. Em 1945, um fazendeiro americano decapitou o frango, mas a ave 'se recusou' a morrer e sobreviveu por mais 18 meses.
Segundo Tom Smulders, especialista em frangos do Centro de Estudos sobre Comportamento e Evolução da Universidade de Newcastle (EUA), o corte executado em Mike preservou cerca 80% da massa cerebral do animal --a maior parte do cérebro de um frango fica na parte traseira do crânio. Assim, o animal sobreviveu, mas precisava de ajuda para se alimentar e beber água.
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