Mudança na órbita da Terra provocou migrações de homens pré-históricos
"Berço da humanidade", a África é o continente primordial da história humana na Terra. Os cientistas, contudo, não entendiam exatamente o motivo de as populações terem migrado do continente para o resto do mundo. Um estudo publicado nesta quarta (21) pela revista Nature dá pistas sobre o que ocorreu no planeta naquela época.
De acordo com a pesquisa conduzida por Axel Timmermann e Tobias Friedrich, da Universidade do Havaí, a dispersão de humanos da África para o restante da Terra ocorreu em quatro grandes ondas distintas nos últimos 125 mil anos. Todas, contudo, estão conectadas a mudanças no clima terráqueo ocasionadas por variações na órbita que deixaram o planeta mais gelado.
Estudos anteriores já avaliavam a possibilidade de mudanças climáticas impulsionadas por variações orbitais terem influenciado a dispersão do Homo sapiens para fora da África. Faltavam, contudo, dados concretos sobre situações climáticas e datações de fósseis para corroborar a teoria.
Agora, a equipe de pesquisadores construiu modelos numéricos que quantificam os efeitos de antigas mudanças climáticas e no nível do mar na migração global dos últimos 125 mil anos. Os modelos identificam ondas grandes de migração glacial pela Península Arábica e pela região do Levante nos seguintes períodos: 106 mil a 94 mil, 89 mil a 73 mil, 59 mil a 47 mil e 45 mil a 29 mil anos atrás.
Os resultados se aproximam bastante aos dados arqueológicos e a fósseis já encontrados. A descoberta mostra que as mudanças climáticas ocasionadas por alteração na órbita da Terra tiveram um papel crucial para moldar a distribuição populacional no mundo. Além disso, estima que o Homo sapiens chegou quase simultaneamente à Europa e à China entre 90 mil e 80 mil anos atrás.
As populações pelo mundo
A revista Nature também publicou nesta quarta-feira uma vasta pesquisa que mostra a influência global do continente africano e que busca entender como funcionaram as migrações da África. Em três publicações diferentes, cientistas se debruçaram sobre o genoma de 280 diversas populações ao redor do mundo, na maioria de grupos que não tinham sido alvos de grandes estudos.
Um estudo conduzido por David Reich, de Harvard, e colegas sequenciou genomas de 300 pessoas de 142 diferentes populações pouco estudadas, na maioria pouco pesquisadas no campo científico. Os cientistas notam que a população que deu origem aos humanos atuais começou a divergir pelo menos há 200 mil anos.
Já a pesquisa que teve como autor Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague, sequenciou o genoma de 83 aborígenes australianos e 25 indivíduos das terras altas da Papua Nova Guiné. Os dados apontam que os ancestrais dos aborígenes e da Papua Nova Guiné divergiram de populações euro-asiáticas entre 51 mil e 72 mil anos atrás. Ainda foram identificados materiais genéticos de antigos humanos, como os denisovans e de um grupo hominídeo desconhecido.
Outro estudo feito pelos cientistas Luca Pagani e Mait Metspalu, do Estonian Biocentre, descobriu que parte do genoma dos atuais moradores de Papua Nova Guiné mostram ligação com uma população que divergiu dos africanos mais cedo dos que os eurasianos. A descoberta fomenta evidências para uma onda de migração da África há 120 mil anos que levou ao povoamento da Papua Nova Guiné.
Os estudos são novas peças encaixadas no quebra-cabeça da evolução do homem pelo mundo em migrações da África, mas ainda há muitas perguntas sobre a colonização humana pelo mundo.
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