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Reduzir n° de calorias ingeridas pode fazer bem para o cérebro, diz estudo

Morrow lab/Brown University
Imagem: Morrow lab/Brown University

Karina Toledo

Da Agência Fapesp

23/09/2016 06h00

Estudos com diferentes espécies animais sugerem haver uma relação entre comer menos e viver mais. Porém, ainda não são bem compreendidos os mecanismos moleculares pelos quais a restrição calórica pode proteger contra doenças e aumentar a longevidade.

Novas pistas para ajudar a solucionar o mistério foram apresentadas em artigo publicado este mês na revista Aging Cell pela equipe do Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da Fapesp.

Por meio de experimentos in vitro e in vivo, os cientistas observaram que uma redução de 40% nas calorias da dieta aumenta a capacidade da mitocôndria (organela celular responsável pela produção de energia) de captar cálcio em algumas situações nas quais o nível desse mineral no meio celular encontra-se patologicamente elevado. No cérebro, isso pode ajudar a evitar a morte de neurônios associada a doenças como Alzheimer, Parkinson, epilepsia e acidente vascular cerebral (AVC), entre outras.

“Mais do que promover as vantagens de comer pouco, nosso objetivo é compreender os mecanismos que fazem com que não exagerar na ingestão de calorias seja melhor para a saúde. Isso pode apontar novos alvos para o desenvolvimento de drogas contra diversas enfermidades”, comentou Ignacio Amigo, pesquisador do Instituto de Química da USP.

A pesquisa

Conforme explicou o pesquisador, o cálcio é uma molécula que participa do processo de comunicação entre os neurônios. Porém, doenças como o Alzheimer podem causar uma superativação dos receptores para o neurotransmissor glutamato nos neurônios, resultando em uma entrada excessiva de íons de cálcio na célula. Tal condição é conhecida como excitotoxicidade e pode causar danos e até mesmo a morte de neurônios.

Com o objetivo de verificar o efeito da restrição calórica em uma condição de excitotoxicidade, os cientistas do Redoxoma compararam dois grupos de camundongos. O controle recebeu ração à vontade durante 14 semanas e, no final do experimento, estava com excesso de peso. O outro grupo experimental, durante o mesmo período, recebeu uma quantidade de ração controlada, com redução de 40% nas calorias ingeridas.

“Calculamos quantas calorias, em média, os animais controle ingeriam diariamente e oferecemos para os demais 40% a menos. Eles não ficavam abaixo do peso, estavam saudáveis, mas suplementamos com algumas vitaminas e minerais que ficariam abaixo do ideal com a diminuição na quantidade de comida”, contou Amigo.

A restrição calórica induziu um aumento nos níveis de proteínas que fazem as mitocôndrias captarem mais cálcio. Nas mitocôndrias do grupo submetido à restrição houve aumento de algumas enzimas antioxidantes. Segundo os cientistas, tais resultados sugerem um aumento na capacidade cerebral de lidar com o estresse oxidativo – condição que participa da gênese de várias doenças degenerativas.

“Dados preliminares sugerem que a mudança no transporte de cálcio mitocondrial induzida pela restrição calórica pode acontecer também em outros tecidos, além do cerebral, com diferentes repercussões. Parece ser algo importante e pretendemos investigar melhor”, comentou.