Ambiciosa, missão Rosetta chega ao fim abrindo portas para o futuro
A aterrissagem nesta sexta-feira (30) da sonda Rosetta no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko põe fim a uma missão de mais de uma década da ESA (Agência Espacial Europeia), vista como sucesso científico e de público e que abre o caminho para futuros horizontes.
O pouso aconteceu às 8h19 (horário de Brasília) e foi transmitido ao vivo pelo canal de transmissão da ESA. As últimas imagens da Rosetta enviadas à Terra mostraram o solo do cometa dez segundos e cinco segundos antes do impacto.
O sinal com as imagens viajou 40 minutos-luz (850 milhões de km) pelo espaço até chegar ao centro de controle da ESA na Terra. Assim, quando a sonda tocou o chão, na Terra os relógios marcavam 7h39 (horário de Brasília)
Para aterrissar, a sonda reduziu sua velocidade orbital, "descendo em direção ao cometa em uma velocidade muito baixa", explicou Andrea Accomazzo, diretor de voo da missão.
A Rosetta iniciou sua manobra final às 17h50 de quinta (horário de Brasília), quando começou a cair de uma altitude de cerca de 19 km. O alvo era uma região do 67P de precipícios, chamada de Ma'at.
O interesse em estudar o local deve-se ao fato dele revelar traços da atividade e da formação do cometa, incrustados nas paredes dos poços.
Na descida, a Rosetta recolheu amostras de gás, poeira e de plasma, além de tirar fotos de alta resolução. Todos os resultados foram enviados à Terra antes do choque. Agora, não é mais possível se comunicar com a sonda.
Rosetta entrou nos livros de história. Celebramos o sucesso de uma missão que superou todos os nossos sonhos e expectativas
Johann-Dietrich Wörner, diretor geral da ESA
Já Álvaro Giménez, diretor de ciência da ESA, destacou que a missão abarcou carreiras inteiras de profissionais envolvidos. "Os dados que retornaram irão manter gerações de cientistas ocupados durante as próximas décadas", afirmou.
A decisão de terminar a missão dessa forma ocorreu pelo fato de a Rosetta e o cometa 67P estarem ultrapassando a órbita de Júpiter, ficando cada vez mais longe do Sol, o que levaria à redução da energia a nível abaixo do necessário para a sonda funcionar.
Uma viagem cheia de histórias para contar
A viagem espacial de 12 anos da sonda ofereceu dados que ampliaram o que se sabia sobre o aparecimento da vida na Terra. A missão histórica buscou compreender o surgimento do Sistema Solar, já que os cometas são vestígios da sua matéria primitiva.
Planejada ainda no início da década de 1990, a Rosetta conseguiu feitos inéditos. Ela foi lançada em março de 2004 com o objetivo de alcançar o 67P e soltar sobre ele o módulo robótico Philae. A sonda cumpriu sua meta em novembro de 2014, em uma manobra sem precedentes na história da exploração espacial. O robô, contudo, acabou em uma área de sombra, onde está inativo desde o ano passado por falta de energia.
No início de setembro deste ano a ESA anunciou que finalmente encontrara o robô Philae no cometa. Correu mundo a tocante imagem do robozinho numa escura fissura do cometa, dois anos depois de concluir com relativo sucesso o primeiro pouso num cometa.
Philae estava encarregado de uma série de experimentos científicos, tendo conseguido realizar 80% da tarefa antes que sua bateria acabasse. A sonda Rosetta orbitou o cometa para estudar seu núcleo e cercanias. Feito isso, e com Philae localizado um mês antes do fim da missão, Rosetta finalmente encerrou suas tarefas. O ato derradeiro foi o choque contra a superfície do cometa.
Fim de viagem com mochila cheia de dados
"Durante a missão, os cientistas ficam imersos em sua execução e planejamento. Agora, eles vão ficar ocupados durante anos", explicou em entrevista à agência Efe, o chefe de coordenação da ESA, Fabio Favata.
A informação que a sonda recolheu durante sua descida sobre o gás, o pó e o plasma a uma distância muito curta, e que enviou à Terra antes do impacto, são a cereja do bolo de um longo trabalho de pesquisa, cuja herança será extensa.
"Com Rosetta foram feitas, pela primeira vez, operações com painéis solares longe do Sol. Houve desafios técnicos que foram controlados e que permitirão missões futuras", acrescentou o especialista italiano.
Favata prefere não qualificá-la de missão histórica, mas a reconhece como "uma das grandes" de sua agência, que tentou esclarecer com ela a formação e evolução do Sistema Solar e entender como ele era no momento em que a Terra se originou.
Futuras jornadas à vista
Com o fim de um dos projetos que mais visibilidade deu à ESA, a agência europeia não ficará órfã de projetos tão ou mais interessantes que Rosetta.
Segundo o representante da agência, 2018 será um ano bastante cheio. É o ano, entre outros exemplos, em que será lançada BepiColombo, uma missão conjunta a Mercúrio da ESA com a agência espacial japonesa JAXA.
É também o ano previsto para o lançamento da missão Solar Orbiter, concebida em parceria com a americana Nasa, que se aproximará do Sol mais que qualquer outra para analisar o magnetismo solar, sua atividade explosiva e os efeitos imediatos nas proximidades da estrela.
Além disso, será o ano em que, a bordo de um Ariane 5, será lançado junto com a Nasa e sua homóloga canadense o telescópio espacial James Webb, que pretende realizar observações infravermelhas do universo, detectar as primeiras galáxias e presenciar o nascimento de novas estrelas.
Mais adiante, aparece na agenda a sonda Juice, que aproveitará a tecnologia desenvolvida para Rosetta e, quando for lançada em 2022, será a primeira missão europeia com destino ao planeta Júpiter, para estudar a aparição de mundos habitáveis em torno de seus gigantes gasosos.
Em busca da vida fora da Terra
Depos da Rosetta, o estudo de astros como cometas não é mais o limite das pesquisas científicas. "Uma das questões científicas mais antigas é se a Terra é única ou se há outras formas de vida. Frequentemente, imaginamos que não estamos sozinhos, mas não há uma resposta científica, apenas filosófica", explicou o chefe do escritório de coordenação da ESA.
Agora, de acordo com Favata, "é bastante interessante viver em uma época na qual se pode começar a dar uma resposta científica e, além disso, com o privilégio de que podemos começar a vislumbrar essa questão".
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