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Cérebro humano funciona com "dança" de conexões de neurônios, mostra estudo

Alfred Anwander/Max Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences
Imagem: Alfred Anwander/Max Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences

Do UOL, em São Paulo

07/10/2016 06h00

Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de Stanford revelou que a organização do cérebro não é estática, com conexões fixas, como por muito tempo se acreditou. A comunicação entre as diferentes partes do órgão, na realidade, ocorre de forma dinâmica, com diversas flutuações.

Assim, há momentos em que as ligações de nosso cérebro são maiores e em outros essas pontes se desconectam. É como se elas começassem ou parassem de dançar, e tudo depende do que estamos fazendo.

Os momentos de maior conexão são os que nos deixam mais "espertos". O estudo, publicado na revista Neuron, mostra que quando as pessoas possuem maior integração das atividades do cérebro (ou seja, quando ele está mais "conectado"), elas conseguem um desempenho cognitivo melhor em tarefas complexas.

"Fomos capazes de dizer: 'aqui está a estrutura subjacente do cérebro que você nunca teria imaginado que estava lá'. Isso pode nos ajudar a explicar o mistério de por que o cérebro está organizado da forma que vemos", diz Mac Shine, pesquisador do laboratório Russell Poldrack de psicologia e um dos autores do estudo.

No estudo, os pesquisadores usaram dados sobre o funcionamento cerebral de pessoas em repouso ou realizando tarefas mentalmente desafiadoras. Assim, eles analisaram como áreas separadas do cérebro coordenam suas atividades ao longo do tempo. A variação da quantidade de fluxo sanguíneo nas regiões do cérebro foi um dos dados usados para mostrar a rede de atividades cerebrais em ação.

Os cientistas descobriram que, mesmo entre as pessoas que não estavam recebendo nenhum estímulo intencional (os seja, que estavam em repouso), a rede do cérebro oscila entre períodos coordenados de maior e menor fluxo sanguíneo nas suas diferentes áreas. 

Flutuações cerebrais - Mac Shine - Mac Shine
Os gráficos no alto da imagem mostram as flutuações da estrutura de rede do cérebro durante o repouso. Abaixo, essas flutuações aparecem em dois estados distintos: um em que as conexões do cérebro parecem "integradas" (dir.), e outro em que parecem "segregadas" (esq.)
Imagem: Mac Shine

Já para pessoas que realizaram um teste de memória (ou seja, uma atividade complexa), a atividade cerebral ocorreu de forma mais integrada com relação ao estado de repouso. E quanto maior a rapidez e a precisão na realização da tarefa, mais integrado o cérebro parecia.

Para Shine, o resultado da pesquisa é surpreendente para todas as áreas que se debruçam sobre o entendimento da mente humana.

"Esta pesquisa mostra relações muito claras entre a forma como o cérebro está funcionando e as tarefas psicológicas que a pessoa está executando", diz Shine.

O DJ que coloca a música

Um outro aspecto abordado pelos pesquisadores foi a das ações realizadas pelo cérebro para coordenar as mudanças de conectividade.

Eles analisaram a atividade na pequena região cerebral chamada de cerúleo, responsável pela produção de noradrenalina e que possui papel fundamental na resposta ao estresse e na regulação do sono.

Os pesquisadores descobriram que a atividade do cerúleo também varia no compasso das mudanças de conectividade cerebral. Isto sugere que a noradrenalina proveniente do cerúleo pode ser o que impulsiona o cérebro a tornar-se mais integrado durante tarefas cognitivas complicadas, capacitando uma pessoa para um bom desempenho nessa tarefa.

O foco agora é entender o quanto essa valsa do cérebro pode explicar o funcionamento da atenção e da memória.

Avanços nesses estudos podem ainda ajudar a entender distúrbios cognitivos como a doença de Alzheimer ou a doença de Parkinson.