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Pássaros podem aprender o som de outras espécies, mas canto teria "sotaque"

Pássaro diamante-mandarim - Wikimedia Commons
Pássaro diamante-mandarim Imagem: Wikimedia Commons

Do UOL, em São Paulo

09/12/2016 17h00

Assim como os humanos que aprendem a falar imitando as palavras, os filhotes dos pássaros aprendem a cantar copiando a vocalização das aves adultas ao longo do desenvolvimento. Ainda que convivam com outros animais e em ambientes ruidosos, eles reproduzem apenas o som da própria espécie. Mas como eles sabem que essa é a canção certa para cantar?

Segundo um estudo feito por e um físico do Instituto de Ciência e Tecnologia de Okinawa, os pássaros aprendem dos pais.

Os pesquisadores colocaram filhotes de pássaros da espécie diamante-mandarim para serem criados por pais adotivos da espécie manon com o intuito de verificar como o canto se desenvolve com uma criação diferente.

Pássaro - Greta Keenan/Divulgação  - Greta Keenan/Divulgação
O filhote de diamante-mandarim (à esquerda) aprende vocalizações do passarinho manon com um sotaque da espécie de origem
Imagem: Greta Keenan/Divulgação
O canto dos pássaros é composto por repetições de algumas sílabas, separadas por lacunas de silêncio. A descoberta, publicada na revista Science, mostra que os diamantes-mandarins aprenderam estruturas das sílabas dos manon, incluindo a duração, mas aquelas pausas silenciosas que acontecem no meio do canto dos pássaros permaneceu igual ao de pássaros mandarins adultos.

Isso demonstra que a pausa entre o canto é uma característica natural da ave, enquanto as sílabas musicais podem ser aprendidas.

É como se o pássaro aprendesse a “língua” do outro, mas tivesse sotaque ao cantar.

Para determinar a base neural deste mecanismo das aves, os pesquisadores registraram a atividade dos neurônios no córtex auditivo de cérebros adultos dos diamantes-mandarin durante a exposição ao canto dos pássaros. Eles descobriram um primeiro conjunto de neurônios que registrava as lacunas temporais de canções da espécie, bem como um segundo conjunto de neurônios que respondem à estrutura da sílaba.

O estudo usou ruídos diferentes e mostrou que os neurônios não respondem às “pausas silenciosas” quando elas são muito diferentes do que o canto original da espécie. Essa descoberta apoia a existência de mecanismos neuronais que ajudam os filhotes a detectar qual é o canto de sua espécie enquanto ainda estão aprendendo.

Para os cientistas, o estudo demonstra que as aves têm uma forma programada no cérebro para reconhecer os membros de sua espécie e que as informações que levam a esse reconhecimento estão no silêncio.