Estimulação magnética do crânio é nova aposta para tratamento de bipolares
Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP mostrou que a estimulação magnética pode ajudar a tratar depressão em pacientes com bipolaridade.
O transtorno bipolar é uma condição sem cura na qual a pessoa altera entre períodos de depressão e euforia (também chamado de mania). A doença costuma dar os primeiros sinais na adolescência ou início da vida adulta. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, a condição afeta entre 3% a 8% da população.
A pesquisa publicada pela revista Neuropshychopharmacology mostrou que associar o uso de medicamentos ao tratamento com um equipamento de estimulação magnética profunda chamado de deep TMS, em pacientes com transtorno bipolar em fase depressiva resistentes aos remédios, ajuda a potencializar os efeitos dos fármacos que estabilizam o humor.
A estimulação magnética é feita com uma máquina que lembra uma cadeira com secador de cabelo, semelhante as que são usadas em salões de beleza. A onda magnética produz uma corrente elétrica biológica, sem choque, que religa os neurônios e eles produzem mais química.
Desde 2012, a EMT (estimulação magnética transcraniana) é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina com indicação para depressões uni e bipolar, alucinações auditivas nas esquizofrenias e planejamento de neurocirurgia. Desde então ela é utilizada em pacientes com depressão leve e moderada.
Quando se usa esse tratamento é porque a pessoa não consegue tomar o remédio ou não mostra melhora quando utiliza
Moacyr Alexandro Rosa, diretor do Instituto de Pesquisas Avançadas em Neuroestimulação e professor da Unifesp
Segundo o psiquiatra Diego Tavares, um dos autores do estudo, a estimulação funciona tanto na depressão superficial quanto na profunda. “Em casos de depressão bipolar profunda, em que os sintomas são mais graves e resistentes aos medicamentos, ainda não haviam estudos”, afirma o médico.
Ao todo 50 pacientes foram submetidos à pesquisa, realizada no Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação. Eles foram separados em grupos de acordo com a medicação que faziam uso e uma parte do grupo recebeu apenas uma simulação da estimulação magnética. As sessões tinham duração de 20 minutos, e aconteciam todos os dias durante 4 semanas.
Todos os pacientes tinham bipolaridade, estavam na mesma faixa etária e faziam uso de remédios como lítio, antipsicótico e anticonvulsivo.
Para determinar a melhora dos pacientes, foram aplicados questionários padronizados que fazem escalas dos níveis de depressão. As questões verificam o cotidiano do paciente em suas atividades e reações como crises de pânico, choro, desânimo e pensamentos suicidas.
Não substitui o medicamento
No tratamento para depressão relacionada a bipolaridade, a estimulação magnética não pode substituir completamente os medicamentos.
A doença é crônica, como diabetes e hipertensão. Parar o remédio, nesta doença, o risco de recaída é praticamente certo. Não tem um tratamento que possa corrigir isso. O tratamento magnético seria uma opção para potencializar.”
Diego Tavares, psiquiatra
A bipolaridade costuma dar os primeiros sinais na adolescência ou início da vida adulta e o tratamento inclui remédios para estabilizar o humor.
“A estimulação magnética até hoje tem função reconhecida para a fase depressiva. Mas ela não tem eficácia nas outras fases e não previne a crise, apenas trata os sintomas”, explica Rosa.
No futuro, poderia ser alternativa a remédios
Por ser um tratamento semelhante a uma ressonância magnética, ele não é recomendado para pacientes epiléticos ou com próteses de metal na cabeça. Pessoas com implante coclear também não podem fazer.
De acordo com Tavares, o tratamento tem poucos efeitos colaterais. “O único incômodo relatado pelos pacientes foi um formigamento na região onde a estimulação estava sendo feita. Diferente de enjoos, tontura e outros efeitos causados por remédios”, explica o médico.
Para o cientista esse tratamento poderia ser uma alternativa para pessoas que não podem tomar remédios, como gestantes e pacientes que estão fazendo quimioterapia. No entanto, para que ele substitua efetivamente os medicamentos, os pesquisadores acreditam que ainda são necessários mais estudos.
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