Esqueleto de jovem revela passado de fome dos primeiros humanos da América
O esqueleto de uma adolescente que viveu há cerca de 12 mil anos é para os arqueólogos como um contador de histórias. Os finíssimos braços, os dentes irregulares e os calcanhares que sugerem uma perna musculosa revelam o passado de longas andanças em meio à escassez de alimentos e penúria dos primeiros moradores do continente americano.
Quem conta essa antiga história é a ossada de Naia, jovem que tinha entre 15 e 17 anos quando morreu ao cair de um penhasco. O local onde foi encontrada, em 2007, no México, é hoje uma caverna submersa. Os ossos de Naia foram retirados da água entre 2014 e 2016, após intrusos violarem o sítio arqueológico em que estavam.
No laboratório, os arqueólogos puderam examinar a narrativa inscrita na estrutura óssea da jovem desbravadora. Nela, os cientistas visualizam um grande estresse nutricional, além de uma gravidez e um parto, que deve ter ocorrido bem antes da queda que quebrou sua bacia e provocou sua morte.
"Ela está nos contando uma história", diz James Chatters, arqueólogo que lidera a pesquisa sobre Naia. "Foi uma vida muito dura", disse o pesquisador à revista Nature, que publicou resultados de estudos apresentados em encontro da Sociedade Americana de Arqueologia, em Vancouver, no Canadá.
Ossada ilumina origens dos desbravadores da América
Os restos mortais de Naia que puderam ser recuperados incluem dois braços, uma perna e um crânio intacto. Isso faz dela um dos mais completos esqueletos encontrados no continente americano com mais de 12 mil anos de idade.
Essa época é apontada pelos especialistas como a da chegada dos primeiros humanos à América. De acordo com a Nature, em 2014, Chatters e sua equipe relataram que o DNA da ossada encontrada no México confirma a ideia de que um único grupo vindo da Ásia deu origem tanto aos primeiros colonos quanto aos mais recentes nativos americanos.
Osso com a grossura de um dedo mindinho
O início da jornada americana não foi livre de sofrimento. "Temos a sensação de que as vidas dos primeiros americanos foram maravilhosas e fáceis", diz Chatters. "Não é necessariamente o caso", completa. A espessura do osso do braço de Naia pode servir como prova. De tão fina, possui espessura quase igual a do dedo mindinho, conta o especialista.
Os pesquisadores não estão certo sobre a real causa da profunda desnutrição pela qual ela passou. As pistas são os ossos finos, com marcas de crescimento interrompido, condição que pode ter sido causado por pouca comida ou por problemas de saúde, como infecções parasitárias que impediriam a absorção de nutrientes. Irregularidades nos dentes sugerem uma nutrição bastante limitada.
Pouco restou dos ossos da bacia de Naia, que provavelmente se quebraram na queda do penhasco. Mas os pequenos fragmentos remanescentes possuem características que estão associadas a de mulheres que deram à luz.
O calcanhar e a coxa de Naia indicam que ela possuía pernas bastante musculosas. É o sinal das vastas jornadas que deve ter enfrentado, nos primeiros passos da humanidade sobre o Novo Mundo.
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