Cientistas criam rato de duas cabeças; grupo quer transplante em humanos
O plano do neurocirurgião Sergio Canavero é realizar um inédito (e polêmico) transplante de cabeça em humanos ainda neste ano. Mas um experimento recente do médico italiano, realizado junto a pesquisadores chineses da Universidade de Medicina de Harbin, foi bem-sucedido no propósito de realizar transplante de cabeça em ratos: eles criaram um animal com duas cabeças.
A experiência, descrita em artigo na revista CNS Neuroscience & Therapeutics publicado no último dia 21, envolveu três ratos: um doador --este, um rato menor-- e um receptor de cabeça, além de uma terceira cobaia, utilizado para suprir sangue ao rato de duas cabeças. Foram "criados" catorze ratos de duas cabeças na experiência --eles sobreviveram em média, por 36 horas após a cirurgia.
Os cientistas ligaram veias e artérias do doador e do receptor, garantindo que o houvesse fluxo constante para a cabeça transplantada por meio de um tubo de silicone que levava sangue do terceiro rato para a "nova cabeça" do animal receptor. A ideia era saber se seria possível transplantar uma cabeça sem que o cérebro fosse danificado devido à perda excessiva de sangue.
E foi: o cérebro do doador não registrou lesões ocasionadas por falta de irrigação sanguínea, ao passo que o doador manteve seus reflexos (de dor e na córnea).
Transplante em humanos próximo de acontecer?
Em entrevista recente concedida ao portal "OOOM", Canavero afirmou que o transplante de cabeça em humanos dever ser realizado ainda em 2017, na China, e será liderado pelo cirurgião Xiaoping Ren --o médico chinês, da Universidade de Medicina de Harbin, é um dos co-autores do experimento de transplante de cabeça em ratos.
O russo Valery Spiridonov, de 31 anos, que sofre da síndrome de Werdnig-Hoffman, um tipo de atrofia muscular espinhal degenerativa que o impede de movimentar os membros, se candidatou a doar sua cabeça a um corpo de um doador morto. Para Canavero, porém, a tendência é que o experimento seja realizado em um paciente chinês.
Como isso seria feito?
O procedimento seria o seguinte: a cabeça e o corpo do doador seriam resfriados para que as células permanecessem vivas mesmo sem oxigênio. Os tecidos ao redor do pescoço de ambos, então, seriam dissecados para que artérias e veias fossem interligadas por tubos e ligadas a uma máquina que manteria o fluxo de sangue.
Quando as medulas estivessem cortadas, os médicos colocariam a cabeça do paciente no corpo do doador, unindo com uma substância chamada polietilenoglicol, que faz as células que formam a medula espinhal crescerem. Um suporte feito por encomenda levaria a cabeça do paciente até o pescoço do corpo doado, com auxílio de tiras de velcro.
Depois disso, o paciente seria mantido em coma durante algumas semanas, com o intuito de evitar que ele movesse até que a ligação das duas partes fosse finalizada. Eletrodos, enquanto isso, estimulariam a medula espinhal para reforçar novas ligações nervosas.
O neurocientista italiano acredita que o paciente, após sair do coma, seria capaz de falar e mover o rosto. Para mover o corpo, porém, seria preciso um ano de fisioterapia.
A operação seria realizada em torno de 36 horas, precisando da mobilização de uma equipe médica de mais de 150 pessoas. A estimativa é de que o procedimento custe em torno de US$ 10 milhões.
O maior entrave para que a operação, batizada de Heaven ("Head Anastomosis Venture", ou "Anastomose Craniana de Risco" em tradução livre), seja bem-sucedida é que ainda não se sabe como reconectar nervos espinhais fazendo-os funcionar novamente --se fosse possível, pessoas paralisadas devido a acidentes poderiam voltar a andar novamente.
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