Peixe é 'primo' de cavalo não de tubarão, diz biólogo que quer nova divisão
Estamos acostumados a ver um animal aquático com nadadeiras e dizer: “olha, um peixe”. Mas esta afirmação pode estar equivocada. Ao menos é o que diz Carlos Alberts, professor de zoologia e comportamento animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Para Alberts, a forma como classificamos e nomeamos os animais atualmente é incorreta e deveríamos fazer uma reorganização, unindo no mesmo grupo todos os bichos com parentes próximos.
A ideia vem da teoria da evolução de Darwin, que parte de um princípio que os seres vivos descendem de um só ancestral. Temos que buscar os graus de parentesco e classificar os animais seguindo este princípio”.
Carlos Alberts, professor de zoologia
Um exemplo que facilita a compreensão do sistema proposto pelo professor é a classificação dos peixes. Primeiramente, o nome peixe, que engloba bichos que nadam, não deveria existir, defende o biólogo. Isso porque o grupo une animais muito diferentes entre si.
“Dentro dos peixes temos os ágnatos e os condrictes, por exemplo, e eles não deveriam se encaixar nesta categoria, pois têm características e parentes diferentes dos peixes ósseos”, diz.
O grupo dos ágnatos é representado pelas lampreias e feiticeiras, que não têm mandíbula e nem apêndices pares, por exemplo. Já os condrictes são os cartilaginosos tubarões, raias e quimeras, que contam com escamas de dentina, fecundação interna e não tem bexiga natatória.
As características de ambos são distintas das dos peixes ósseos, como o dourado, carpa ou truta, e, de acordo com Albert, essa é uma prova de que a divisão taxonômica atual coloca animais diferentes e com grau de parentesco evolutivo distante no mesmo grupo. Ao mesmo tempo, a separação convencional deixa de unir bichos que têm ancestrais comuns, segundo o professor.
“Peixes ósseos estão em um grupo com animais que não têm nada a ver e deixam de ficar junto com parentes, que seriam mamíferos, lagartos, serpentes, anfíbios, crocodilianos, aves e tartarugas”. Seriam uma junção com o grupo dos animais que “saíram” da água.
Entendendo a lógica você vê que uma truta é parente mais próximo de um cavalo ou do ser humano, do que de um tubarão. Temos que evidenciar isso”
Carlos Alberts, professor de zoologia
Além dos peixes, Alberts afirma que a mesma tese vale para os répteis, um grupo que conta com bichos não tão próximos, como tartarugas, e exclui as aves, com quem têm ancestrais em comum.
A mudança toda faz sentido?
Na vida de quem é leigo, alterar os nomes dos animais pode confundir mais do que facilitar, e talvez não mude nada na sua rotina.
“Com a evolução da ciência descobrimos que alguns grupos que juntamos não são muito válidos, mas é todo um sistema que precisa ser mudado. Antes é preciso solidificar as informações, juntar diversas evidências para ver se realmente faz sentido explicar isso para o grande público’, diz Rosana Moreira da Rocha, professora da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
Rocha afirma que biólogos sabem que os peixes não são um grupo natural, que lampreias não estão no mesmo ramo evolutivo que os peixes ósseos, mas entendem também que estão ligados por serem parecidos e próximos na cronologia evolutiva.
Antigamente, não tínhamos testes avançados que provassem geneticamente o parentesco dos bichos. Por tanto, o começo da divisão animal era feito com as evidências mais visíveis dos organismos.
Como quem descende do mesmo ancestral geralmente tem características parecidas, pela aparência acertamos muitas classificações, mas testes recentes de bioquímica e genética mostram novidades, como que aves e crocodilos têm ancestrais próximos, o que não diríamos só pela aparência.”
Rosana Moreira da Rocha, professora da UFPR
Estamos melhorando o conhecimento, logo estranhezas com as definições antigas podem fazer sentido, mas a professora explica que ainda não é necessário modificar toda a nomenclatura conhecida.
Um exemplo é o que acontece com as tartarugas. Já se sabe que elas são uma família separada dos répteis. "Com o tempo podemos introduzir melhor a ideia, explicar as diferenças que separaram as tartarugas do ramo dos répteis, ver como as pessoas aceitam a mudança. Mas não é nada urgente".
Quanto a questão pontual de peixes serem mais próximos de cavalos do que de tubarões, Rocha diz que é preciso uma análise mais profunda para garantir que os elos evolutivos mostrem a proximidade dos parentescos, mas inicialmente ela acha a ideia incorreta.
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