Sente com as entranhas? Seu corpo tem um segundo cérebro dentro da barriga
Sabe esse seu cérebro aí na cabeça? Ele não é tão único assim não como a gente imagina e conta com uma grande ajuda de um parceiro para controlar nossas emoções, nosso humor e nosso comportamento. Isso porque o corpo humano tem o que muitos chamam de um “segundo cérebro”. E em um lugar bem especial: na nossa barriga.
O “segundo cérebro”, como é chamado informalmente, está situado bem ao longo dos nove metros de seu intestino e reúne milhões de neurônios. Na verdade, faz parte de algo com uma nomenclatura um pouquinho mais complicada: o Sistema Nervoso Entérico.
Funções que até o cérebro duvida
Uma das razões principais para ele ser considerado um cérebro é a grande e complexa rede de neurônios existentes nesse sistema. Para se ter uma ideia, nós temos ali entre 200 milhões e 600 milhões de neurônios, de acordo com pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, que trabalham em conjunto com o cérebro principal.
É como se tivéssemos o cérebro de um gato na nossa barriga. Ele tem 20 diferentes tipos de neurônios, a mesma diversidade encontrada no nosso cérebro grande, onde temos 100 bilhões de neurônios"
Heribert Watzke, cientista alimentar durante em uma palestra na TED Talks
As funções desse cérebro são várias e ocorrem de forma autônoma e integrada ao grande cérebro. Antes, imaginava-se que o cérebro maior enviava sinais para comandar esse outro cérebro, Mas, na verdade, é o contrário: o cérebro em nosso intestino envia sinais por meio de uma grande “rodovia” de neurônios para a cabeça, que pode aceitar ou não as indicações.
“O cérebro de cima pode interferir nesses sinais, modificando-os ou inibindo-os. Há sinais de fome, que nosso estômago vazio envia para o cérebro. Tem sinais que mandam a gente parar de comer quando estamos cheios. Se o sinal da fome é ignorado, pode gerar a doença anorexia, por exemplo. O mais comum é o de continuar comendo, mesmo depois que nossos sinais do estômago dizem ‘ok, pare, transferimos energia suficiente’”, complementa Watzke.
A quantidade de neurônios assusta, mas faz sentido se pensarmos nos perigos da alimentação. Assim como a pele, o intestino tem que parar imediatamente potenciais invasores perigosos em nosso organismo, como bactérias e vírus.
Esse segundo cérebro pode ativar uma diarreia ou alertar o seu “superior”, que pode decidir por acionar vômitos. É um trabalho em grupo e de vital importância.
Muito além da digestão
É claro que uma das funções principais tem a ver com a nossa digestão e excreção – como se o cérebro maior não quisesse “sujar as mãos”, né? Ele inclusive controla contrações musculares, liberação de substâncias químicas e afins. O segundo cérebro não é usado em funções como pensamentos, religião, filosofia ou poesia, mas está ligado ao nosso humor.
O sistema entérico nervoso nos ajuda a “sentir” nosso mundo interior e seu conteúdo. Segundo a revista Scientific American, é provável que boa parte das nossas emoções sejam influenciadas por causa dos neurônios em nosso intestino.
Já ouviu a expressão “borboletas no estômago”? A sensação é um exemplo disso, como uma resposta a um estresse psicológico.
É por conta disso que algumas pesquisas tentam até tratamento de depressão atuando nos neurônios do intestino. O sistema nervoso entérico tem 95% de nossa serotonina (substância conhecida como uma das responsáveis pela felicidade). Ele pode até ter um papel no autismo.
Há ainda relatos de outras doenças que possam ter a ver com esse segundo cérebro. Um estudo da Nature em 2010 apontou que modificações no funcionamento do sistema podem evitar a osteoporose.
Vida nas entranhas
O “segundo cérebro” tem como uma de suas principais funções a defesa do nosso corpo, já que é um dos grandes responsáveis por controlar nossos anticorpos. Um estudo de 2016 com apoio da Fapesp mostrou como os neurônios se comunicam com as células de defesa no intestino. Há até uma “conversa” com micróbios, já que o sistema nervoso ajuda a ditar quais deles podem habitar o intestino.
Pesquisas apontam que a importância do segundo cérebro é realmente enorme. Em uma delas, foi percebido que ratos recém-nascidos cujos estômagos foram expostos a um químico irritante são mais depressivos e ansiosos do que outros ratos, com os sintomas prosseguindo por um bom tempo depois do dano físico. O mesmo não ocorreu com outros danos, como uma irritação na pele.
Com tudo isso em vista, tenho certeza que você vai olhar para suas vísceras de uma maneira diferente agora, né? Pensa bem: na próxima vez que você estiver estressado ou triste e for comer aquela comida bem gorda para confortar, pode não ser culpa só da sua cabeça.
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