Clique Ciência: Por que é tão difícil perder seu sotaque?
Com uma extensão territorial de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o Brasil é o maior país da América do Sul. Seu gigantismo produz por aqui uma quantidade infindável de sons regionais reproduzidos pelos milhões de habitantes. Cadência, entonação e ritmo. Apesar de ser fácil de identificá-lo, perder um sotaque pode ser algo realmente difícil de fazer.
“Para começar, é preciso esclarecer que você não perde, mas troca um pelo outro”, explica o linguista Márcio Renato Guimarães, da Universidade Federal do Paraná. Ou seja, não existe fala neutra e desprovida de algum tipo de cadência própria.
Não é só força de vontade
Há mais do que apenas vontade envolvida na perda do sotaque. Algumas pesquisas apontam que a sonoridade da língua é apreendida pelos bebês com até cerca de seis meses de idade. Um estudo realizado no Centro da Mente, Cérebro e Aprendizado, da Universidade de Washington, mostrou que até essa idade, eles aprendem nuances da pronúncia da linguagem que vão começar a falar em breve.
Nessa fase de absorção, o cérebro deles age como uma verdadeira esponja. Essa capacidade, no entanto, se reduz com o passar dos meses. Por isso, mudar de sotaque tende a ficar mais difícil conforme envelhecemos.
Ao que tudo indica, vamos perdendo a habilidade de notar e reproduzir sons diferentes daqueles que foram programados no nosso cérebro ainda bebê.
Alguns cientistas apontam ainda um terceiro fator, fundamental no sucesso de “perder” o sotaque. Ele estaria ligado à musicalidade. Isso porque aprender as variações linguísticas tem muito a ver com entonação e ritmo.
Cursos que prometem ensinar um novo dialeto ou mesmo amenizar as marcas fortes do seu atual, por exemplo, focam exatamente nesse ponto. Os exercícios costumam ser direcionados na ênfase, ritmo e entonação. A musicalidade explicaria ainda porque é mais fácil aprender um sotaque carioca (se você é paulista, por exemplo), do que o de uma língua estrangeira.
Motivação é importante
De acordo com Guimarães, a maneira como a pessoa entende seu jeito de falar, ou mesmo sua vontade em fazer parte de um novo grupo, tem um peso muito importante no seu sucesso em trocar de sotaques. “Se o falante não se importa com a maneira como fala, a mudança pode nem acontecer mesmo depois de anos morando no mesmo local”, comenta.
Mas, para aquelas pessoas que querem passar despercebidas, a transição pode ser eficaz. “Inconscientemente, essa pessoa vai treinar o tempo todo como reproduzir os sons que considera de maior prestígio.”
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