Como funcionam as vacinas e por que uma dose nem sempre é suficiente?
Em 1796, o médico britânico Edward Jenner descobriu a primeira vacina. Para isso, ele extraiu pus de uma mulher que havia contraído a varíola bovina e o inoculou em James Phipps, uma criança de apenas oito anos. O garoto, que era saudável, teve uma forma leve da doença, mas sarou rapidamente.
Cerca de dois meses depois, o médico fez outro teste em Phipps. Dessa vez, ele inoculou uma pústula da versão humana da varíola (mais agressiva) e o garoto não ficou doente. Ele estava imune.
De lá para cá, os cientistas vêm desenvolvendo vacinas contra as mais variadas doenças –entre elas, a dengue. Todas funcionam da mesma maneira que a versão nada tecnológica de Jenner: estimulando o organismo a produzir anticorpos contra um determinado microrganismo, sem que, para isso, seja preciso ficar doente.
Quando uma criança é vacinada, é como se o corpo recebesse uma imitação da doença, mas muito mais fraca. “Algumas até possuem uma virulência residual do microrganismo, mas são muito atenuadas”, explica Reinaldo de Menezes, consultor científico do instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz.
Isso é o suficiente para o que o organismo comece a produzir uma defesa específica para combater aquele vírus ou bactéria. Quando a infecção for eliminada, as células de defesa já terão criado uma “memória” contra a doença.
Fragmentos 'do bem' de vírus e bactérias
Atualmente, as vacinas são produzidas, principalmente, a partir de fragmentos de vírus e bactérias ou com esses microrganismos atenuados ou inativados. “A escolha do tipo de vacina é feita após muita pesquisa e com base na efetividade de cada modelo”, explica Menezes. “A opção é sempre pelo produto que tem o melhor equilíbrio entre proteção e imunidade”, explica.
- Vacina atenuada: contém uma versão enfraquecida do vírus, portanto não causa a doença em pessoas com o sistema imunológico saudável. Como é feita com um vírus vivo, é a que consegue causar uma infecção “mais natural”, o que produz uma resposta melhor do nosso sistema de defesa. Não é indicada a pessoas com problemas imunológicos, como crianças em tratamento com quimioterapia. Exemplos: sarampo, caxumba, rubéola e varicela.
- Vacina inativa: produzidas com microrganismos mortos ou com seus fragmentos. São mais seguras, mas também desencadeiam uma resposta imunológica menor. Frequentemente, são necessárias mais de uma dose para uma defesa prolongada. Exemplos: pólio, raiva, influenza, hepatite A.
- Toxoides: vacina feita com toxinas modificadas de bactérias. Seu objetivo é prevenir as doenças que são causadas não pela bactéria em si, mas pela toxina que ela produz dentro do nosso corpo. Exemplo: difteria e tétano.
- Conjugadas: combatem doenças causadas por bactérias encapsuladas (possuem uma capa protetora de polissacarídeos). A vacina age conectando esses polissacarídeos a antígenos aos quais nosso sistema imune responde de maneira eficaz. Exemplo: pneumocócica 23.
Por que algumas vacinas precisam de várias doses?
De acordo com o Centro para Controle de Doenças Infecciosas, nos Estados Unidos, existem algumas razões principais para que os bebês precisem de mais de uma dose da maioria das vacinas.
Algumas não fornecem imunização adequada já na primeira dose, o que é particularmente verdade nas vacinas inativadas, produzidas com o microrganismo morto. “Na segunda e até na terceira dose a sensibilização inicial é potencializada e a resposta imunológica se torna muito maior”, explica Menezes.
Outras vacinas, como aquelas contra a difteria e o tétano, ajudam a desenvolver proteção já na primeira série de injeções. Mas, com o passar do tempo, é como se essa imunização fosse desaparecendo. Um reforço, portanto, faz com que os níveis de imunidade voltem a subir.
No caso da vacina contra a gripe, as injeções são anuais porque são vírus que mudam com rapidez e variam ao longo do tempo. Por isso, elas são produzidas com as variações do vírus que são esperadas em circulação naquele determinado ano.
* Fonte: Centro para Controle de Doenças Infecciosas (DCD), Estados Unidos
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