7 fatos que a ciência consegue (ou não) explicar sobre os sonhos
Não é de hoje que os sonhos despertam a nossa curiosidade. Na Grécia Antiga, por exemplo, Morfeu era o deus com a habilidade assumir uma forma humana e aparecer nos sonhos das pessoas. Os mitos relacionados ao que a gente sonha atravessaram diferentes civilizações, e a ciência se debruça há tempos para entender o que se passa enquanto estamos dormindo.
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Hoje já se sabe, por exemplo, que há diferentes tipos de sonhos, que há outros animais que também sonham e que algumas pessoas conseguem até manipular aquilo que sonham.
Veja a seguir alguns fatos que a ciência consegue explicar e outros que ainda são um mistério sobre o tema.
1. Você pode até não se lembrar, mas é provável que sonhe toda noite
A forma mais comum de uma pessoa se lembrar do que sonhou é acordar (ou ser acordado) no meio dele. Os cientistas dizem ainda que há outro fator importante: é preciso que as imagens daquela noite tenham impressionado o indivíduo de modo significativo para serem guardadas pelo cérebro.
Por isso, mesmo que você não se lembre, o mais comum é que uma pessoa sonhe várias vezes durante a noite. “O ideal é que você não se lembre muito dos sonhos, porque se você dormir a noite inteira de forma contínua, sem acordar muitas vezes, é porque completou o ciclo sono”, diz médica Rosana Cardoso, neurologista do Fleury Medicina e Saúde.
2. Os sonhos não são exclusividade dos seres humanos
Na Inglaterra, o professor de psicologia Stanley Coren, da University of British Columbia, pesquisou o sonho dos cachorros. Segundo ele, um cão sonha em média de dois a três minutos, mas isso varia de acordo com o porte e a idade do animal: os menores têm sonhos mais curtos e mais frequentes, enquanto os maiores sonham menos vezes, mas com maior duração.
Isso aconteceria porque quanto mais jovem é o animal maior é quantidade de novas informações ele precisa processar diariamente.
Pesquisas similares realizadas com outros animais, como espécies de mamíferos, aves e répteis, mostraram que eles têm sono REM e atividades cerebrais típicas de quem sonha.
“A diferença é que o ser humano consegue verbalizar o que sonhou”, diz Luciano Ribeiro Pinto Jr., neurologista e presidente da ABS (Associação Brasileira do Sono).
3. Sonhos acontecem em qualquer hora da noite, mas são diferentes
A noite de sono é dividida em quatro fases: a primeira, quando o sono é leve e você pode ser facilmente acordado; a segunda, quando o corpo relaxa e você dorme um pouco mais profundo que no estágio anterior; a terceira, quando o sono é mais profundo; e a fase REM, caracterizada pelo rápido movimento dos olhos, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos.
“Por algum tempo, os cientistas achavam que os sonhos só aconteciam na fase REM, mas pesquisas têm mostrado que, apesar de ocorrer com menos frequência, as pessoas também relataram que sonham nas fases 1 e 2 do sono”, diz Sérgio Arturo Rolim, médico e pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Nas fases 1 e 2 os sonhos costumam ter duração menor, são menos emotivos e visuais e tratam principalmente das memórias e preocupações do dia, têm mais a ver com pensamentos do que com imagens e ação”
Os sonhos com muita ação, aqueles que às vezes parecem até filmes, estão mais associados ao sono REM.
4. Símbolos? Não, o conteúdo muda por fatores sociais, biológicos e psicológicos
“Como o sonho é uma continuidade da nossa vigília, ele sofre influência do nosso organismo. Se você sofre distúrbios orgânicos ou neurobiológicos, toma certos tipos de medicamentos, tem algum desconforto físico ou apneia do sono, por exemplo, isso pode interferir nos seus sonhos”, diz o médico da ABS.
Segundo o presidente da entidade, os conteúdos mais comuns são as memórias e as emoções dos dias anteriores.
“Se você sentiu muita ansiedade, pode ter sonhos ansiosos ou até pesadelos, fruto dessa condição mental que iniciou durante o dia”, diz. O mesmo pode acontecer quando você está muito preocupado ou com depressão, já que acaba incorporando esse mal-estar ao momento de descanso.
Além disso, durante o sono o nosso cérebro libera pensamentos que normalmente ficam bloqueados quando estamos acordados, como os relacionados à sexualidade, um dos temas recorrentes entre adultos.
Em outros casos, os sonhos curiosos ou as memórias do dia anterior dão lugar a pesadelos frequentes. Segundo a médica do Fleury, nessas situações é preciso procurar tratamento médico. “Geralmente pesadelos recorrentes estão associados a episódios de violência e ao transtorno do estresse pós-traumático”, diz.
5. Algumas pessoas conseguem manipular os sonhos
Isso é o que a ciência chama de “sonhos lúcidos”, ou seja, quando uma pessoa tem consciência de que está sonhando. Em suas pesquisas, o cientista da UFRN descobriu que 77% das pessoas já viveram essa experiência.
“A maioria das pessoas já teve ao menos um sonho lúcido na vida, mas a gente sabe que eles são raros e duram muito pouco – em geral, ela percebe que está sonhando e acorda poucos segundos depois”, diz Arturo.
Esse sonho é possível porque, segundo cientista, durante o sono existem diferentes graus de lucidez. “Durante o sono REM a pessoa não acorda bruscamente, é como se o cérebro acordasse aos poucos, com micro-despertares, e, nessa transição, a pessoa poderia ter um sonho lúcido mais prolongado”, explica.
Pesquisadores de vários países trabalham para encontrar ferramentas eficazes para induzir o sonho lúcido em laboratório para, entre outras coisas, usar no tratamento de pessoas com pesadelos recorrentes.
6. Os sonhos premonitórios ainda são um mistério para a ciência
Os três especialistas ouvidos pelo UOL dizem que até agora os cientistas não conseguiram explicar os sonhos considerados premonitórios. “Não tem uma explicação dentro da neurociência”, diz o presidente da ABS.
A hipótese do pesquisador da UFRN é que eles sejam fruto do acaso. “É possível que os sonhos tenham a ver com uma simulação, consciente ou não, do que pode acontecer no dia seguinte. Se você dorme com aquilo na cabeça e acaba sonhando, então há uma probabilidade de isso acontecer. Essa seria uma forma de tentar explicar o premonitório”, explica Arturo.
“A maioria das pessoas já teve um sonho desse tipo, mas eles são muito raros, acontecem no máximo cinco vezes na vida”, diz.
7. E para que servem os sonhos?
Esse ainda é um terreno pouco conhecido pelos cientistas. Já é sabido que o sono tem uma importante função para a memória e aprendizagem. O problema é que ainda não foi possível identificar qual seria a função específica dos sonhos nesses processos.
“Há quem diga que o sonho pode ter várias funções, ser algo aleatório ou não ter significado. Freud dizia que ele era a realização de um desejo. Eu prefiro trabalhar com a ideia de que de que o sonho, no começo da civilização, tinha a função de simular um aprendizado mental, facilitar a vida do sujeito no dia seguinte, já que, assim como os animais, todos os dias a sua vida estaria em risco”, afirma Arturo.
Pelo jeito, os nossos descendentes ainda terão muito trabalho para desvendar os mistérios dos sonhos.
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