Batizando uma estrela: empresas vendem nome de astros para presente
Após dois anos de uma convivência rodeada de fórmulas, leis de Newton, teorias de Einstein e de algumas "viagens" planetárias, os alunos do ensino médio de uma escola privada de São Paulo resolveram homenagear o professor de física Renan Milnitsky, 28. A escolha foi por um presente nada convencional. Fizeram uma vaquinha e batizaram uma estrela com o nome do mestre. Uma surpresa revelada no último dia de aula de 2016.
"Realmente fiquei sem palavras quando fui surpreendido com o presente", conta o físico, que disse que uma de suas principais missões como professor é tentar humanizar a física e tornar a disciplina --tão temida-- mais próxima dos jovens.
Assim como os alunos de Milnitsky fizeram, é perfeitamente possível batizar o nome de uma estrela com o seu nome ou com o nome de alguém que você goste muito. Uma modinha que começou nos Estados Unidos e que está disponível para brasileiros também. Empresas vendendo o serviço é que não faltam, mas isso vale astronomicamente?
Na verdade, o batismo é apenas simbólico e não tem valor científico algum, explicam os astrônomos.
O simbolismo, no entanto, tem um custo que varia de US$ 100 (R$ 325) a US$ 200 (R$ 650). Valor que inclui um pingente (como colar ou como chaveiro) com a constelação e as coordenadas exatas da estrela gravadas nele, além de um certificado da estrela e um mapa do céu.
E como as estrelas são nomeadas cientificamente?
Como explica o Thiago Signorini Gonçalves, professor do Observatório do Valongo (UFRJ), todos os objetos celestes --incluindo as estrelas-- são nomeados e catalogados pela IAU (União Astronômica Internacional, sigla em inglês).
Ao contrário do que muitos imaginam, a responsabilidade de batizar estrelas, asteroides, exoplanetas ou qualquer outro objeto celeste não é do cientista que o descobre, mas, sim, única e exclusivamente da entidade."
Os autores até podem sugerir um nome para as suas descobertas e, geralmente, sugerem mesmo. Mas esse batismo, segundo Gonçalves, depende de uma aprovação da IAU.
"Passa por um processo de votação dentro de uma comissão interna para ser aceito ou não", aponta o especialista. Ou até por votações públicas, como foi o caso de um recente concurso, realizado para nomear exoplanetas recém-descobertos.
E há muitas regras. A nomeação de um objeto celeste, como aponta Gustavo Rojas, astrônomo da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), tem diversos padrões, conforme seu tipo. Não pode, por exemplo, dar a um corpo celeste o nome de uma personalidade polêmica, de cunho político, religioso e militar. Burocratização que surgiu na década de 1920 para tentar colocar ordem na casa, ou melhor, ordem no espaço.
"Antes uma única estrela tinha diferentes nomes, dependia do catálogo em que fazia parte. Isso atrapalhava e muito a vida dos astrônomos. Essas duplicidades foram minimizadas consideravelmente, mas ainda existem", afirma Rojas.
Quando um objeto é descoberto, ele costuma ser catalogado seguindo algumas normas que levam em conta, por exemplo, ano da descoberta, posição e brilho (dependendo do tipo). Ainda assim, o astrônomo ou a equipe responsável pela descoberta pode escolher um nome "mais popular" para o astro e submeter a opção à aprovação da IAU.
Poucas estrelas têm nomes próprios
Nem todas as estrelas têm nome próprio, esse é um privilégio de uma minoria (280) de catálogos que inclui bilhões de descobertas (sendo que apenas 10 mil podem ser vistas a olho nu).
As outras recebem apenas nomes de catálogos. "Grande parte dessas felizardas foram descobertas há milênios por povos antigos, por isso muitos dos nomes vieram dos idiomas árabe (Aldebaran e Rigel), latim (Capella e Regulus) ou grego (Antares e Canopus)", diz o astrônomo da UFSCar.
"As estrelas mais brilhantes também são chamadas pela combinação de uma letra grega e o nome da constelação onde estão situadas. A mais brilhante da constelação é a letra 'alfa', a segunda mais brilhante 'beta' e por aí vai", completa ele.
"Há também algumas estrelas que são homenagens a quem descobriu, como a pequena estrela Barnard, invisível a olho nu, mas uma das mais próximas da Terra, que leva o nome do americano Edward Barnard."
Os exoplanetas começam com o nome da estrela que orbita e terminam com uma letra minúscula (começada a partir da letra b), que representa a ordem das descobertas dos corpos celestes que vivem em volta dessa mesma estrela hospedeira.
Já os nomes de cometas começam com um número (que seguem a ordem das descobertas) seguidos pelas letras "P" (periódicos), "C" (vistos apenas uma vez) ou "D" (extintos) e finalizados com o nome dos astrônomos que o descobriram, como é o caso do cometa Halley, cientificamente registrado como 1P/Halley, descoberto por Edmond Halley, em 1696.
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