Cientistas buscam desvendar os mistérios da criatividade no cérebro humano
Como surge uma ideia? Existem pessoas mais criativas que outras? Cientistas buscam respostas para o processo criativo, que pode estar ligado à personalidade e ser estimulado por meio de técnicas específicas.
Ter uma ideia brilhante não é suficiente para chamar uma pessoa de criativa. A criatividade é uma das características humanas para as quais ainda buscamos respostas. Não se trata apenas da busca por uma definição, entender suas origens no cérebro humano é igualmente difícil.
Pesquisadores definem criatividade como um desempenho especial, que é ao mesmo tempo novo e adequado. Pelo fato de a criatividade ser vista como um conceito, e não como uma característica, vários fatores devem ser levados em consideração.
Com base nisso, uma ideia brilhante, por exemplo, deve ser posta em prática de modo que seja visível e útil para outras pessoas. Somente alguém que faz isso pode ser realmente chamado de criativo.
A evolução de uma ideia criativa
Foi em 1926 que o sociólogo e psicólogo inglês Graham Wallas apresentou, pela primeira vez, sua teoria de como um processo criativo se desenrola. Ele postulou que o processo criativo era constituído de cinco etapas.
Primeiro, a pessoa só poderia ter pensamentos criativos se ela tivesse estudado uma área específica e praticado nela, como pintura ou escrita – uma fase que Wallas chamou de preparação.
Apenas uma mente preparada seria capaz de passar para o próximo estágio. Durante o processo de incubação, uma ideia se forma silenciosamente dentro do cérebro de uma pessoa, passando despercebida pela consciência, e floresce.
"A fase de incubação ocorre em áreas do cérebro chamadas de rede de modo default (DMN, em inglês)", explica Konrad Lehmann, neurocientista da Universidade Friedrich Schiller, na cidade alemã de Jena. "A DMN fica altamente ativa quando não estamos fazendo nada, por exemplo, quando relaxamos ou sonhamos acordados."
Assim, quando a mente da pessoa está ocupada com outra coisa, a ideia chega às zonas de sua consciência. Muitas vezes, esse processo de iluminação é precedido de um sentimento momentâneo de antecipação.
"Quando ocorre uma ideia, aumenta a atividade no hemisfério direito do cérebro [ligado à criatividade]", afirma Lehmann. "Isso é seguido de atividade no lado esquerdo do cérebro, quando ocorre a confirmação, a última etapa do processo criativo. Nela, a ideia é avaliada, colocada em prática e revelada ao mundo exterior."
A criatividade pode ter uma componente genética, e certas personalidades estão mais associadas à criatividade do que outras. Com base no modelo de cinco grandes fatores da personalidade, psicólogos e neurocientistas identificaram a "abertura a experiências" como uma característica que está intimamente ligada a uma mente criativa.
Pessoas que estão abertas a aventuras são também geralmente mais curiosas, têm uma imaginação intensa e questionam até os fatos mais certos. Mas não são apenas as personalidades curiosas que são ligadas à criatividade. Muitas vezes é dito que loucura e criatividade andam de mãos dadas. Quão verdadeira é essa afirmação?
Criatividade e loucura
"Estudos apontam que parentes de pessoas com problemas de saúde mental são muitas vezes mais criativos", explica Lehmann. "Mas você não pode dizer que alguém tem um estado mental doente ou saudável. Não é preto e branco, é mais um gradiente cinza. Em algum lugar no meio desse gradiente pode-se encontrar uma pessoa que seja mais criativa e, ao mesmo tempo, tenha uma predisposição a problemas de saúde mental."
O neurocientista acrescentou que a partir do momento que o distúrbio mental domina, "a capacidade de formular pensamentos claros é perdida".
Um distúrbio mental frequentemente associado à criatividade é o transtorno bipolar. As pessoas afetadas vivenciam períodos de euforia seguidos de fases de depressão. Os períodos eufóricos, conhecidos como fases maníacas, podem durar meses e são caracterizados pela hiperatividade. Durante essas fases, tarefas criativas podem ser realizadas com mais facilidade e rapidez, enquanto que a depressão subsequente faz geralmente com que as pessoas tenham mais dificuldade de se concentrar em atividades criativas.
"O compositor alemão Robert Schumann era conhecido por sofrer de transtorno bipolar. Nas suas fases maníacas, ele compôs muito mais do que durante as fases depressivas", diz Lehmann. "É interessante notar que as composições que ele escreveu quando estava em fases maníacas não são necessariamente melhores do que as compostas durante a depressão."
Naturalmente uma pessoa não precisa ser mentalmente instável ou ter uma predisposição genética para ser criativa. "Todo mundo tem a capacidade de ser criativo, talvez não como Leonardo da Vinci, mas cozinhar bem já é um ótimo começo!", frisa Lehmann.
O que fazer quando o bloqueio ataca
Quem exerce uma profissão que demanda criatividade conhece o sentimento de vazio desencadeado pela falta de ideias. Existem duas abordagens diferentes para "reativar" o cérebro.
Um dos métodos indica: apenas comece. As regiões cerebrais treinadas começarão, então, seu processo de escolha e avaliação de informações, o que pode desencadear uma cascata de atividades que levam a uma ideia criativa.
Outra ideia é baseada exatamente no oposto: reúna o problema, tente fazer algumas pesquisas, encontrar algumas soluções e, então, deixe suas anotações de lado e saia para uma caminhada ou, simplesmente, vá tirar uma soneca.
"Assim, tenta-se manipular o cérebro na esperança de ativar a rede de modo default (DMN) e deixá-lo fazer o trabalho", conclui Lehmann.
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