Nem todo mundo sente dor, mas isso pode ser um risco sério à saúde
A dor é uma sensação desagradável que serve como um alerta de que algo dentro do nosso corpo não vai bem (e precisa ser tratado) ou de que certos comportamentos ou objetos externos podem nos causar danos.
Uma vida sem nenhuma sensação de dor poderia significar um risco para a saúde. Afinal, a dor é um sintoma fundamental, pois alerta o indivíduo para a necessidade de assistência médica e de que algo está errado e precisa ser verificado. É como um "quinto sinal vital", dizem especialistas.
30% da população brasileira sofre ou se queixa de dor, segundo a Sociedade Brasileira de Estudos da Dor. Ela pode ser crônica (com duração prolongada, como as causadas por inflamações nas articulações ou que acometem pacientes com câncer), aguda (manifesta-se por um tempo mais curto, como cólicas, dores pós-operatórias ou decorrentes de um trauma) ou recorrentes (por exemplo, as enxaquecas, que se repetem com certa frequência).
Há, ainda, diferentes classificações da dor segundo a sua localização, forma e intensidade. De modo geral, ela faz um percurso determinado no nosso corpo: primeiro, a dor precisa ser percebida por células receptoras, localizadas na pele e nos órgãos internos; depois, ela é transmitida pelos nervos até a medula espinhal; por último, é interpretada como dor por uma parte específica do cérebro, o tálamo.
Os medicamentos disponíveis no mercado podem atuar em diferentes etapas desse processo. Hoje sabe-se que existem fibras distintas responsáveis por conduzir diferentes tipos de dor até a medula, que é onde está o que chamamos de "portão da dor", capaz de selecionar o que vai para o cérebro.
Não sentir dor é problemático
Algumas pessoas, no entanto, podem sofrer alterações em alguma etapa desse processo, e perdem a capacidade de perceber tipos específicos de dor. Isso pode ocorrer tanto como consequência de mudanças em certos componentes genéticos ou alguma doença que impeça essa sensação. Elas frequentemente se machucam muito, sangram, têm inflamações e não percebem que se machucaram.
Os casos congênitos são raros, mas um exemplo recente é o da italiana Letizia Marsili, que tem outros cinco familiares com grande resistência à dor. Por causa de uma mutação genética, eles não sentem queimaduras ou fraturas mais graves. Apesar de significar uma ameaça para esses indivíduos, seus genes são objeto de estudo.
Mudança de sensibilidade também pode ocorrer ao longo da vida e afetar partes específicas do corpo. Em pacientes diabéticos ou com diagnóstico de hanseníase —doenças que afetam os nervos periféricos do corpo—, por exemplo, essa perda de percepção da dor pode causar até a amputação de membros machucados.
Nem todo mundo sente do mesmo jeito
Por muito tempo a ciência levou em consideração apenas os aspectos fisiológicos envolvidos na dor. Hoje, no entanto, sabe-se que essa sensação varia de acordo com fatores culturais, emocionais, de idade, gênero e até a religião do paciente.
Diferenças na percepção dolorosa têm sido documentadas na literatura, onde mulheres percebem e relatam mais dor que homens, procuram auxílio médico com maior frequência que homens e fazem uso de analgésicos em maior quantidade.
É difícil identificar qual seria a dor mais intensa para o ser humano. Cada indivíduo sente dor baseado nas suas memórias, na sua forma de perceber o ambiente, na forma de lidar com a vida e com o meio em que está inserido. Mas o dia a dia no hospital sugere algumas das dores mais temidas.
Segundo o relato dos pacientes, sabe-se que alguns tipos dor são muito intensas: dores nas vísceras, como de um cálculo renal. Também é possível citar as dores causadas por fratura exposta, meningite ou aneurisma, que são descritas pelos pacientes como as mais fortes que sentiram na vida.
Fontes: Gabriel de Freitas, neurologista e pesquisador do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino; e Marucia Chacur, professora e pesquisadora do ICB-USP [Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo].
*Com matéria publicada em 08/01/2018
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