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Pela semelhança, deserto vira pedaço de Marte na Terra para cientistas

Samuel McNeil

Da Associated Press, no deserto de Dhofar (Omã)

11/02/2018 04h00

Dois cientistas em trajes espaciais brancos, contrastando com o terreno castanho-avermelhado das dunas e planícies desoladas, testam um georradar construído para mapear Marte ao arrastar a caixa chata pela areia pedregosa.

Quando o georradar para de funcionar, os dois caminham de volta para seus veículos com tração nas quatro rodas e contatam por rádio seus colegas em uma base próxima para orientação. Eles não podem recorrer ao comando da missão, distante nos Alpes, porque as comunicações de lá sofrem um atraso de 10 minutos.

Mas este não é o Planeta Vermelho, mas sim a Península Árabe.

O deserto desolado no sul de Omã, perto das fronteiras do Iêmen e da Arábia Saudita, lembra tanto Marte que mais de 200 cientistas de 25 países o escolheram para trabalhar pelas próximas quatro semanas, para testar em campo de tecnologia para uma missão tripulada para Marte.

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Empreendimentos públicos e privados estão em uma corrida para Marte; tanto o ex-presidente Barack Obama quanto Elon Musk, o fundador da SpaceX, declararam que os seres humanos caminhariam no Planeta Vermelho em poucas décadas.

Novos concorrentes como a China estão se juntando aos Estados Unidos e a Rússia no espaço com um programa ambicioso, mesmo que vago, para Marte. Empresas aeroespaciais como a BlueOrigin publicaram esquemas de futuras bases, naves e trajes.

O lançamento bem-sucedido do foguete Falcon Heavy da SpaceX na última semana "nos coloca em um reino completamente diferente do que podemos colocar no espaço, do que podemos enviar para Marte", disse o astronauta análogo Kartik Kumar.

O próximo passo para Marte, ele diz, é lidar com os problemas que não envolvem engenharia, como respostas médicas de emergência e o isolamento.

"Essas são coisas que acho que não podem ser subestimadas", disse Kumar.

Enquanto cosmonautas e astronautas estão aprendendo valiosas habilidades para viagens espaciais na Estação Espacial Internacional, e os Estados Unidos estão usando realidade virtual para treinar cientistas, grande parte do trabalho de preparação para expedições interplanetárias está sendo realizado na Terra.

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Cientistas testam traje espacial e georradar para futura missão para Marte
Imagem: Sam McNeil/ AP

E qual é o melhor local para instalar equipamento para teste de campo e pessoas para a jornada para Marte senão um dos pontos mais inóspitos do planeta?

Visto do espaço, o deserto de Dhofar é uma grande expansão marrom e plana. Poucos animais ou plantas sobrevivem nas áreas de deserto da Península Árabe, onde as temperaturas podem passar de 51ºC.

Na beira oriental de uma duna aparentemente interminável fica a Base Marte de Omã: um habitat inflável gigante de 2,4 toneladas cercado por contêineres de carga transformados em laboratórios e alojamentos.

Não há eclusas de ar.

A superfície do deserto lembra tanto Marte que é difícil dizer a diferença, disse Kumar, com seu traje espacial coberto de areia. "Mas vai mais longe que isso: o tipo de geomorfologia, todas as estruturas, os domos de sal, os leitos de rios, os canais, é tudo muito semelhante ao que vemos em Marte."

O governo omani ofereceu sediar a próxima simulação de Marte do Fórum Espacial Austríaco durante uma reunião do Comitê para Usos Pacíficos do Espaço Exterior.

Gernot Groemer, comandante da simulação de Marte em Omã e um veterano de 11 missões científicas na Terra, disse que o fórum aceitou rapidamente.

Cientistas de todo o mundo enviaram ideias para experimentos e a missão, chamada AMADEE-18, rapidamente cresceu para 16 experimentos científicos, como o teste de um "tumbleweed", um veículo robô veloz, e um novo traje espacial chamado Aouda.

O traje espacial de vanguarda, pesando cerca de 50 kg, é chamado de "nave espacial pessoal" pois uma pessoa pode respirar, comer e realizar trabalho científico dentro dele. O visor do traje exibe mapas, comunicações e dados dos sensores. Uma espuma azul em frente do queixo pode ser usada para limpar o nariz e a boca.

"Independente de quem vá nessa maior viagem de nossa sociedade ainda por vir, acho que algumas coisas que aprendemos aqui serão de fato utilizadas nessas missões", disse Groemer.

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Base Marte de Omã: um habitat inflável gigante de 2,4 toneladas cercado por contêineres de carga transformados em laboratórios e alojamentos
Imagem: Sam McNeil/ AP

O lançamento do Sputnik pela União Soviética em 1957 deu início a uma corrida espacial entre Moscou e Washington para fazer uma tripulação pousar na Lua.

Mas antes dos Estados Unidos chegarem lá primeiro, astronautas como Neil Armstrong treinaram suspensos em polias para simular a gravidade equivalente a um sexto a da Terra.

Ambientes hostis do Arizona à Sibéria foram usados para ajustar cápsulas, aterrissadores, veículos e trajes, simulando os perigosos que seriam encontrados fora da Terra. As agências espaciais os chamam de "análogos", porque lembram os extremos extraterrestres de frio e afastamento.

"É possível testar sistemas nesses locais e ver até onde resistem, ver onde as coisas começam a falhar e que mudanças no projeto precisam ser feitas para assegurar que não falhe em Marte", disse João Lousada, um dos vice-comandantes de campo da simulação em Omã que é um controlador de voo da Estação Espacial Internacional.

Falsas estações espaciais foram construídas debaixo d'água além da costa da Flórida, nos desertos frígidos e escuros da Antártida e em crateras vulcânicas no Havaí, segundo "Próxima Parada – Marte", um livro favorito entre muitos cientistas de Marte, escrito por Mary Roach.

"Análogos terrestres são uma ferramenta no kit da exploração espacial, mas não são uma panaceia", disse Scott Hubbard, conhecido como "Czar de Marte" quando chefiava o programa para Marte da agência espacial americana. Algumas simulações ajudaram a desenvolver câmeras, veículos, trajes e sistemas de suporte de vida, ele disse.

A Nasa usou o Deserto de Mojave para testar veículos destinados ao Planeta Vermelho, mas também descobriu muito sobre como os humanos podem se adaptar.

"A adaptabilidade humana em um ambiente desestruturado ainda é muito, muito melhor do que qualquer robô que possamos enviar para o espaço", disse Hubbard, acrescentando que pessoas, não apenas robôs, são fundamentais para a exploração de Marte.

A lista de "análogos planetários" da Agência Espacial Europeia inclui projetos no Chile, Peru, África do Sul, Namíbia, Marrocos, Itália, Espanha, Canadá, Antártida, Rússia, China, Austrália, Índia, Alemanha, Noruega, Islândia e em nove Estados americanos. Na próxima quinta-feira, cientistas israelenses realizarão uma simulação curta em uma reserva natural chamada D Mars.

Mas ainda existem muitos elementos desconhecidos que as simulações "não têm como substituir estar lá", disse Hubbard.

O otimismo da equipe em Omã é inabalável.

"A primeira pessoa que caminhará em Marte já nasceu, e pode estar cursando neste momento uma escola primária em Omã, ou na Europa, Estados Unidos ou China", disse Lousada.