Com a morte de Hawking, quem será o próximo gênio da física?
Com importantes contribuições no campo da gravidade, da teoria quântica, da relatividade e de buracos negros, o astrofísico Stephen Hawking, que morreu aos 76 anos vítima de complicações de uma doença degenerativa, foi considerado o gênio da física contemporânea. E, não à toa, era comumente comparado a grandes nomes da ciência, tais como Albert Einstein, Isaac Newton e Galileu Galilei. A pergunta que fica é: quem deve assumir a partir de agora esse posto?
"Há quem diga que não se fazem mais gênios como antigamente. Mas essa é uma grande mentira", defende João Evangelista Steiner, astrofísico e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo). Segundo ele, a falsa impressão está atrelada ao atual modo de se fazer ciência.
Veja também:
- Cinco grandes contribuições que Stephen Hawking deu à Ciência
- Da ciência ao mundo pop: como o físico Stephen Hawking virou um astro
"Há, atualmente, uma quantidade enorme de cientistas muito bem capacitados, mas que não trabalham sozinhos. Fazem parte de importantes grupos, equipados com os mais sofisticados computadores e laboratórios. E os mais diversos avanços científicos comprovam isso", justifica Steiner, que cita o Prêmio Nobel de Física de 2017 para exemplificar essa mudança.
Na última edição da mais importante premiação da área, foram condecorados os astrofísicos americanos Barry Barish, Kip Thorne e Rainer Weiss por seus estudos que contribuíram para a detecção das ondas gravitacionais, um século depois de terem sido prevista por Einstein. "Um importante trabalho que envolveu mais de 1.500 cientistas", destacou Steiner.
Na época, o próprio nobel Thorne Thorne lamentou não poder compartilhar a conquista com as centenas de pesquisadores e engenheiros que tornaram possível a descoberta. "É lamentável que, devido aos estatutos da Fundação Nobel, o prêmio tenha que ir para não mais do que três pessoas. Nossa maravilhosa descoberta é obra de mais de mil de 20 países diferentes", disse o físico ligado ao LIGO (Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser), nos Estados Unidos.
Um indivíduo não mais consegue competir com o trabalho realizado por equipes bem estruturadas. Não se faz ciência sozinho.
Um gênio sem Nobel
"Hawking deixa um legado multifacetado pela sua contribuição teórica, por seu trabalho na massificação científica e por suas reflexões sociais", afirma Steiner. De acordo com ele, o astrofísico britânico teve "um grande papel no desenvolvimento da física teórica, especificamente no entendimento dos buracos negros."
Ele conseguiu, de forma pioneira, unir duas grandes teorias [gravitacional e mecânica quântica] para compreender os buracos negros. "Descobriu também a capacidade dos buracos negros de evaporarem e emitir uma radiação, que ficou conhecida como Radiação Hawking", cita o brasileiro, que descreve o trabalho do físico como a "abertura de uma estrada, que ainda não está encerrada".
Veja também:
- 8 previsões de Stephen Hawking sobre o fim do mundo
- Lembre-se de olhar às estrelas: As melhores frases de Hawking
- ELA, a doença que Stephen Hawking desafiou por décadas
Mas as descobertas de Hawking não foram suficientes para que ganhasse um Prêmio Nobel. "Não se trata de uma injustiça. O trabalho dele tem sua importância, mas ainda precisa ser dada continuidade a ele. O que falta não é nem tanto o âmbito experimental, é a capacidade da formulação matemática desses conceitos", opina Steiner. "De qualquer forma, ele não deixa de ser importante para a física contemporânea."
Segundo o professor da USP, Hawking também foi "um grande divulgador dos avanços científicos de ponta para o cidadão comum". "Não que ele tenha sido pioneiro nesse trabalho, mas acabou se destacando por ter conseguido atingir o mundo inteiro. E isso, sem dúvida, foi importantíssimo. Já enfrentamos um grande analfabetismo científico", aponta Steiner.
Outro legado que o britânico deixa é a reflexão sobre os perigos do avanço científico. "Ele reconhecia a importância da ciência, mas não se cansava de alertar para os limites que precisavam ser impostos a esses avanços diante dos desconhecidos riscos, seja uma hecatombe nuclear, uma guerra bacteriológica ou o próprio aquecimento global."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.