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Não só comem nossos móveis... cupins também são baratas sociais

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Imagem: Getty Images

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

02/04/2018 04h00

Diferentemente do que se pensava, os cupins não formam um grupo específico dentre os insetos. Eles são, na realidade, baratas que vivem em colônias. Essa é a conclusão a que cientistas chegaram após anos de discussão sobre as semelhanças entre os dois tipos de insetos.

Em fevereiro deste ano, a Sociedade Americana de Entomologia atualizou sua lista de nome de insetos, classificando os cupins não como uma ordem própria, mas como parte da ordem das baratas.

"Esta ideia de que cupins são baratas sociais é antiga, mas agora foi comprovada por estudos moleculares", explica Ana Maria Costa Leonardo, bióloga do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro.

Segundo a especialista, "existe um ancestral comum que originou cupins e baratas, sendo cupins um grupo monofilético [que possui apenas descendentes desse ancestral comum]".

Assim, os cupins são classificados na infraordem Isoptera dentro da ordem Blattodea. Antes da mudança, Isoptera era considerada uma ordem.

Baratas que comem madeira, como as Cryptocercus - Reprodução/Pixabay - Reprodução/Pixabay
Baratas que comem madeira, como as Cryptocercus
Imagem: Reprodução/Pixabay

Baratas que comem madeira

As discussões entre especialistas sobre as semelhanças entre cupins e baratas são antigas, remontando à década de 1930. Desde essa época, os cientistas indicam que algumas baratas possuem no intestino micróbios que digerem madeira, como os cupins.

É o caso das baratas do gênero Cryptocercus. Seus filhotes alimentam-se das secreções dos pais, adquirindo assim os micróbios intestinais que precisarão para digerir os troncos de árvores onde vivem. Apesar de antigo, o debate ainda causava polêmica, com alguns defensores de que os cupins formavam uma ordem específica. 

O que sempre foi ponto pacífico é o agrupamento de baratas, cupins e louva-deus em um grupo chamado Dictyoptera. 

Em 2007, um estudo intitulado "A Morte de uma Ordem", de Paul Eggleton, biólogo do Museu de História Natural de Londres, utilizou testes de DNA para mostrar de forma robusta que os cupins haviam evoluído como um ramo específico da árvore genealógica das baratas. A partir da publicação desse estudo, os cupins passaram a ser considerados pela comunidade científica como uma infraordem dentro da ordem Blattodea.

O resumo da ópera: na evolução das espécies, baratas, cupins e louva-deus possuíram um ancestral comum. Além disso, baratas e cupins vêm de uma linhagem que possui um mesmo ancestral. Existem mais de 6 mil espécies de baratas e 2.800 espécies de cupins. Todos descendentes do mesmo ancestral. As baratas do gênero Cryptocercus são as mais próximas dos cupins.

“Mas os cupins continuam sendo cupins, pois também tem características suficientemente diferentes dos outros grupos de baratas”, diz um artigo dos pesquisadores da Wikitermesum repositório brasileiro de informações sobre cupins que reúne estudiosos do inseto de diversas universidades do país e do exterior.

Baratas com vida social intensa

Várias baratas possuem alguma forma de vida social. As baratas do gênero Cryptocercus, além de comerem madeira como os cupins, vivem em pares monogâmicos. Os cupins vão ao extremo da vida social.

Eles são eussociais, nome dado ao grau mais complexo de organização social. Nos ninhos de cupins, apenas alguns indivíduos tornam-se responsáveis por toda procriação, havendo assim sobreposição de gerações.

Todos os indivíduos cooperam para cuidarem da prole, havendo para isso divisão de tarefas. Algumas colônias de cupins podem ter até 3 milhões de indivíduos, com apenas um rei e uma rainha.